sábado, 20 de agosto de 2016

GESTÃO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA

Clério Cezar Batista Sena
MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Professor e pesquisador CENSUPEG/BRASIL, Diretor de Escola Pública Estadual, SP. E-mail: cezar.sena@hotmail.com

Vanda da Silva Régio
Especialista em Gestão Educacional: Administração, Supervisão e Orientação Escolar



Resumo

Este artigo apresenta algumas questões a respeito da gestão escolar democrática, discutindo pontos de vista relevantes ao âmbito educacional; tanto ao que se refere às práticas administrativas como também no campo das práticas pedagógicas, objetivando chamar a atenção para uma gestão mais centrada no momento atual pela qual está passando a educação brasileira, ou seja, um período de grandes mudanças sociais, uma vez que, as práticas antigas encontram-se obsoletas diante do crescimento nos campos científicos e tecnológicos que estamos vivenciando atualmente, com o avanço da globalização e, não menos importante, o fator da crescente violência nas escolas. Também tece uma análise comparativa e sugestiva a respeito de práticas que podem ou não fazer a diferença frente a uma gestão educacional, buscando envolver todos os “atores” da educação numa rede participação e de troca mútua para o bem estar de todos os envolvidos na educação escolar, sobretudo, alunos, professores e pais.

Palavras-chave: Gestão democrática. Desafios. Parcerias.

1 INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, podemos perceber que as escolas, principalmente, as públicas, estão atravessando uma fase de extremamente difícil, devido inúmeros fatores que vão desde a violência - tanto por parte dos alunos quanto por parte da comunidade em geral – até a falta de interesse pela educação acadêmica propriamente dita.

Diversas experiências mostram, que quando todos participam da gestão escolar, o trabalho realizado torna-se menos árduo e há maiores possibilidades de que se consiga vencer os desafios educacionais contemporâneos. Sabe-se que ser um bom gestor, em tempos atuais, de crise no setor educacional, não é nada fácil; portanto, o desafio é grande e necessita de reforços.

Compreende-se que para que se possa fazer a diferença no campo da gestão educacional, há que se questionar alguns pontos como, por exemplo: em que o gestor de hoje tem que ser diferente do gestor de ontem? Qual seria o seu perfil? Até que ponto as parcerias podem favorecer o bom andamento da educação nesses tempos de crise educacional? Até que ponto as parcerias e alianças propostas pelo gestor pode contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes e participativos?

Enfim, objetiva-se analisar e entender o processo de gestão democrática da escola pública no que se refere ao seu compromisso com uma educação de qualidade, valendo-se de meios que favoreçam o alcance desta através das parcerias com todos os envolvidos no meio educacional, e ainda, apresentar, através dessas parcerias, saídas para, senão solucionar, talvez minimizar a crescente decadência do ensino e mostrar que quando um grupo se une em prol de um objetivo comum, os resultados aparecem.

2 GESTÃO DEMOCRÁTICA: CARACTERÍSTICAS, DESAFIOS E PARCERIAS FAVORÁVEIS AO SUCESSO ESCOLAR

A gestão democrática por ser uma maneira de administrar uma instituição para possibilitar a participação, transparência e democracia, apresenta-se como um desafio à escola e ao gestor, que para exercer o seu trabalho de forma organizada e competente há que valer-se de uma gestão democrática voltada para o trabalho conjunto com todos os órgãos que fazem parte do processo de ensino, ou seja, de uma gestão democrática.

Tal gestão, que além de expressa na Constituição Federal (1988), é tratada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996) em seu artigo 3º (inciso VIII), que define os princípios do ensino público e no artigo 14, em que é postulada a forma pela qual a gestão democrática se efetivará:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, p. 32).

Contudo, o trabalho da escola e do professor deve nortear-se, antes, por uma postura de busca, tendo no homem, a real e central preocupação de toda a organização escolar, efetivando, acompanhando e avaliando sempre esse trabalho.

Parafraseando Libâneo et. al. (2004), não se pode conceituar gestão sem, juntamente, citar a organização, pois estão interligadas e caminham juntas. A organização e a gestão constituem o conjunto das condições e dos meios utilizados para assegurar o bom funcionamento da instituição escolar, de modo que alcance os objetivos educacionais esperados. Esses termos são, com frequência, associados à ideia de administração, de governo, de provisão de condições de funcionamento de determinada instituição social - família, empresa, escola, órgão público, entidades sindicais, culturais, científicas, etc. - para a realização de seus objetivos.

Ao visionar uma administração competente, dentre estes citados e os muitos outros aspectos a serem observados, Mello (2002, p.32) destaca:

[...] a efetiva responsabilidade e poder de decisão a serem atribuídos às unidades escolares e as condições para que elas possam desincumbir-se a contento dessa responsabilidade, tais como suporte técnico e financeiro, recursos humanos, mecanismos de avaliação de resultados e formas organizadas de participação dos pais.

Porém, essa participação tão sonhada, na maioria das vezes não se concretiza na escola; inclusive, nem mesmo a própria escola pública tem claras as formas de como organizar-se para poder expressar-se de modo democrático. Porém, é necessário que o gestor busque esse entendimento para que as mudanças possam de fato ocorrer no âmbito escolar.

No tocante à essa necessidade de mudanças, Freire (2007, p. 60), discorre:

Esta mudança de percepção que se dá na problematização de uma realidade concreta, no entrechoque de suas contradições, implica um novo enfrentamento do homem com sua realidade. Implica admirá-la em sua totalidade: vê-la de “dentro” e, desse “interior”, admirá-la em suas partes e voltar a admirá-la, ganhando assim, uma visão mais crítica e profunda da sua situação na realidade que não condiciona. Implica uma “apropriação” do contexto; um não estar quase “sob” o tempo, mas no tempo. Reconhecer-se homem. Homem que deve atuar, pensar, crescer, transformar e não adaptar-se fatalisticamente a uma realidade desumanizante. Implica, finalmente, o ímpeto de mudar para ser mais.

Portanto, é preciso desenvolver novas práticas alternativas baseadas na verdadeira autonomia e colegialidade, como mecanismos de participação democrática da profissão que permitam vislumbrar novas formas de entender as atribuições da profissão, buscando revelar o currículo oculto das estruturas educativas e procurar descobrir outras maneiras de ver a profissão docente, o conhecimento profissional necessário, a escola e sua organização educativa.

Será, porém, muito útil aos objetivos da gestão democrática participativa que os professores compreendam os processos de tomada de decisões do estado e do sistema educativo, entendendo que a escola não está isolada do sistema social político e cultural.

A compreensão dos nexos entre os sistemas de ensino e as escolas, bem como o papel delas e dos professores ante as decisões emanadas do sistema, implica que a organização e a gestão escolares ocorram mediante formas participativas, concebendo a escola como uma comunidade democrática de aprendizagem. Para Libâneo et. al. (2004, p. 19), “A organização escolar necessária é aquela que melhor favorece o trabalho do professor, existindo uma interdependência entre os objetivos e as funções da escola e a organização e a gestão do trabalho escolar. ”

Analisando-se a afirmação acima, conclui-se que, uma escola bem organizada e bem gerida é aquela que cria e assegura condições organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam bem-sucedidos nas suas aprendizagens. Tais afirmações ganham reforço ainda em suas palavras:

Como membro da equipe escolar, o professor deve dominar conhecimentos relacionados à organização e à gestão, desenvolver capacidades e habilidades práticas para participar dos processos de tomada de decisões em várias situações (reuniões, conselhos de classe, conselho de escola), bem como atitudes de cooperação, de solidariedade, de responsabilidade, de respeito mútuo e de diálogo (LIBÂNEO et. al., 2004, p. 25).

Para atingir suas finalidades, as instituições escolares determinam papéis e responsabilidades. A maneira pela qual se compreendem a divisão de tarefas e responsabilidades e o relacionamento entre vários setores determina a estrutura organizacional. Esta, dificilmente escapa de certa burocracia e, o aspecto burocrático de uma escola, diz respeito, em geral, à existência de uma autoridade legal, com base na qual se estabelecem outros níveis hierárquicos como diretor, vice-diretor, assistente administrativo, coordenador, entre outros. Há regras e regulamentos impessoais definidos tanto para a seleção de funcionários, carreira e remuneração quanto para o funcionamento da instituição.

A escola não é uma entidade abstrata. Ela tem características específicas e cumpre uma função determinada, na medida em que está presente e é uma constituinte de uma sociedade que se organiza de maneira peculiar, historicamente. Ela resulta do trabalho e das relações estabelecidas em seu interior, é o espaço da práxis de determinados sujeitos. (RIOS, 2003, p.45).

A tarefa mais importante do gestor ou da equipe gestora, quando se fala em administrar uma instituição é tomar decisões certas para chegar a resultados positivos. Como bem assinala Bologna (2005, p. 49), “... um bom gestor deve ser um líder e agregar atitudes”. Tal afirmação de Bologna ganha lembrança e reforço nas palavras de Ruaro (2010, p.40), quando afirma que:

Exercer a liderança no processo de gestão é exercer papel articulador entre os pares em favor do aluno e da aprendizagem. Em outras palavras, é agir em favor do sucesso do aluno. [...] agir em favor da aprendizagem dos alunos requer conhecimentos vários que obrigam o diretor a se preparar para exercer a função e compreender que é necessário construir espaços próprios de liderança de forma colegiada, articulando ações, deixando que os diversos pares façam sua parte. Como um maestro, o diretor rege o trabalho, mas não o faz sozinho. Pelo contrário, imprime o ritmo, atua também, mas permite que cada um participe e contribua com o processo. Porém, a batuta, a condução e a harmonia são estabelecidas pelo regente da orquestra.

Ao que se pode compreender é mais que urgente se implantar as mudanças necessárias na escola para que todos os alunos aprendam. Sabe-se que a escola, geralmente, é uma instituição que reage negativamente a mudanças, e todos os rituais de passagem são enfrentados com resistência. Portanto, opor-se à essa resistência é uma das marcas do bom gestor.

Para Freire (2007, p. 60), esta mudança de percepção que o bom gestor deve ter:

[...] não é outra coisa senão a substituição de uma percepção distorcida da realidade por uma percepção crítica da mesma [...] Tentar a conscientização dos indivíduos com quem se trabalha, enquanto com eles também se conscientiza, este e não outro nos parece ser o papel do trabalhador social que optou pela mudança.

Quando se fala em gestão escolar participativa, esse termo encontra sentido, quando há de fato uma relação entre a democracia, o papel da comunidade no processo de decisões e das políticas públicas. Portanto, a gestão democrática além da prática educativa. Ou melhor, a partir dela se possibilita um processo político sustentado no diálogo e na alteridade, através do qual as pessoas na escola discutem, deliberam e planejam, solucionam problemas e encaminham, acompanham controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola.

Contudo, essa participação tão sonhada, na maioria das vezes não se concretiza na escola; inclusive, nem mesmo a própria escola pública tem claras as formas de como organizar-se para poder expressar-se de modo democrático. Porém, é necessário que o gestor busque esse entendimento para que as mudanças possam de fato ocorrer no âmbito escolar.

A eficácia da escola é garantida, portanto, por um trabalho coletivo a ser coordenado pelo diretor, envolvendo a todos: corpo administrativo, funcionários, professores, estudantes, grêmio, colegiado, pais, voluntários da escola, etc.

A mudança de paradigma requer a mudança das estruturas mais radicais de pensamento e isso só é possível através da revolução da consciência, substituindo-se a postura de resignação e passividade da consciência servil, pela consciência ativa, que recria a si própria, porque as mudanças sociais passam necessariamente pela mudança individual e, o gestor escolar deve ser precursor de mudanças, como bem ilustra Freire (2007, p. 52):

Sua ação, como agente de mudança, teria na estrutura social seu objeto. A estrutura social certamente não existe sem os homens que, tanto como ele, estão nela. Assim, reconhecer-se como o “agente da mudança” atribui a si a exclusividade da ação transformadora que, sem dúvida, numa concepção humanista, cabe também aos demais homens realizar. Se sua opção é pela humanização, não pode então aceitar que seja o “agente da mudança”, mas um de seus agentes. A mudança não é trabalho exclusivo de alguns homens, mas dos homens que a escolhem.

Compreende-se, portanto, que a gestão educacional, bem como a educação escolar, realiza sua finalidade tanto na dimensão individual, no espaço das consciências humanas, quanto na dimensão social, pois vive e se realiza no espaço coletivo, na relação com o outro.

Bologna (2005), ao analisar o perfil de um bom gestor afirma que este deve ser um líder é agregar atitudes como:

• Estar sempre preocupado com os resultados da aprendizagem.
• Participar do planejamento e fazer o acompanhamento do trabalho docente
• Conversar com alunos e funcionários para detectar problemas e níveis de satisfação e ouvir sugestões.
• Ser um construtor de consensos, mas estar sempre aberto às novas ideias e à diversidade, aceitando opiniões e novas propostas.
• Ser audacioso o suficiente para fazer as mudanças necessárias visando sempre melhorar a qualidade de ensino.
• Manter as questões administrativas em dia.

Porém, embora tudo isso pareça perfeito, sabemos que são muitos os desafios de uma gestão democrática de sucesso. Há que dispor de tempo, interesse, planejamento e, principalmente, entrega e “boa vontade” de todos os envolvidos e comprometidos com a educação e, principalmente com uma boa liderança.

Parafraseando Luck (2009) a respeito das atribuições do gestor escolar, pode-se dizer que o mesmo, possui atribuições cuja responsabilidade consiste em estabelecer a unidade e integração de todas as ações do estabelecimento de ensino, de modo que sejam orientadas contínua e insistentemente para a melhoria contínua, focando na formação e aprendizagem dos alunos. Quando o gestor lidera as ações educacionais, orientado por uma visão global e abrangente do trabalho pedagógico associada à superação de desafios para promovê-la, tal gestão torna-se eficaz.

Observou-se que as escolas eficazes apresentam um elevado espírito de integração com a comunidade, de modo não só a envolvê-la no processo de decisão da escola, mas também de modo a tornar o processo ensino-aprendizagem mais ativo e atualizado. Também se verifica que, quando há maior envolvimento dos pais na gestão democrática da escola e o seu acompanhamento à aprendizagem dos filhos, os indicadores de desempenho da escola são melhores (LUCK, 2009, p. 51).

Compreende-se que uma gestão competente e de sucesso é continuamente desafiadora e desafiada, tanto por condições físicas, por disciplinas inadequadas, por pessoal incapacitado ou que simplesmente não está no espírito da equipe, por práticas convencionais, comodismo, problemas de aprendizagem, comportamentos inadequados e uma série de coisas que poderão atrapalhar o andamento da boa gestão escolar; porém, há que se estar atento a todas essas condições e peculiaridades para que a escola possa cumprir a sua função de transmissora do saber; e assim, os alunos não tenham prejuízos na aprendizagem nem percam as boas oportunidades que o ensino lhes proporciona.

Ainda se amparando em Luck (2009) quanto às ações para a promoção da melhoria da gestão, entende-se que as escolas eficazes, conforme identificado por pesquisas educacionais, além de cuidarem dos demais assuntos abordados, ainda promovem:

a) Metas para a melhoria da aprendizagem, do desempenho dos seus alunos e das condições para promovê-la;
b) Aumento e melhoria da capacidade de mobilização de pessoas em torno da educação sejam professores, pais, alunos e comunidade;
c) Comprometimento com o desenvolvimento de programas de alcance a médio e longo prazo.

Enfim, não se pode esquecer que uma gestão democrática deve estar sempre aberta às necessidades dos professores, educandos, famílias e comunidade, e estar sempre atualizada com os avanços educacionais e tecnológicos; comprometida com uma educação de qualidade e, sobretudo, a escola deve ter vida, ser alegre e interessante. Só assim, possibilitará ao educando construir-se como ser humano e despertar nele o encantamento pela escola.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ao conceber que a escola é a instância integrante do todo social, sendo uma instituição que tem como objetivo primordial desenvolver as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos, para tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem, as escolas são, pois, ambientes formativos, o que significa que a prática de organização e de gestão pode mudar os modos de pensar e de agir das pessoas, isto é, tais práticas educam.

Devemos, - nós, todos os envolvidos, direta e/ou indiretamente com a educação escolar - atentar para que a gestão escolar democrática e participativa não seja mais um engodo e ficar apenas no papel e na ideologia. Temos que nos ater ao fato de que Ruaro (2010, p. 35) comenta:

[...] é necessário que os gestores assumam essas competências e habilidades anteriormente referidas se quiserem sair do mero discurso da nova roupagem e de fato, facilitem o processo educativo nas relações interpessoais na escola, no trabalho coletivo, na capacidade de ouvir e de encaminhar as soluções... Talvez seja necessário sair do mero discurso da mudança e mergulhar de vez no processo [...].

Enfim, na medida em que um grupo unido busca novas oportunidades e melhorias para a escola – e grande parte dessas melhorias ocorre com a participação da comunidade -, há uma troca mútua de conhecimentos, tornando-se possível detectar mais facilmente os problemas que ocorrem e, mutuamente, solucioná-los.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLOGNA, José Ernesto. Características do bom gestor. Revista Nova Escola, n.188. São Paulo: dez. 2005.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394. Brasília: MEC/SEF, 1996.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

LIBÃNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Organização e gestão, objetivos do ensino e trabalho dos professores. Pedagogia Cidadã: Cadernos de Formação. In: Organização e Gestão do Trabalho na Escola. São Paulo: UNESP. 2004.

LUCK, Heloisa. Construindo a qualidade do ensino pela gestão escolar. Revista Aprendizagem. In: Gestão Escolar. – Ano 3, n. 13 – Jul/Ago. São Paulo: Melo, 2009.

MELLO. G. N. Cidadania e competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Competência. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões de Nossa Época, v. 16).

RUARO, Dirceu. Repensando o papel do diretor na escola: Porque a gestão e a aprendizagem devem caminhar juntas? Revista Aprendizagem. In: Gestão Escolar. – Ano 3, n. 17 – Mar/Abril. São Paulo: Melo, 2010.

domingo, 14 de agosto de 2016

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO NO CONTEXTO ESCOLAR


Clério Cezar Batista Sena
Daciene Sousa dos Anjos



RESUMO

Esta pesquisa tem como principal objetivo relacionar as questões das aprendizagens significativas frente ao trabalho do educador e a sua interação com o educando, bem como da importância da motivação quando relacionada aos conhecimentos prévios que são adquiridos através da interação com a família, amigos ou a própria cultura e isso contribui para a aquisição de valores, comportamentos e habilidades perante a sociedade. A importância do vínculo afetivo como uma característica relevante é importante por favorecer o envolvimento do educador com o educando e como consequência a obtenção do aproveitamento e apreensão das aprendizagens profundas. É pertinente criar ambientes apropriados que favoreçam o desenvolvimento e compreensão, contribuindo para o seu processo de aprendizagem e apriomoração dos conhecimentos prévios, bem como da prática de ensino coordenada pelo educador. É importante que o educador desenvolva sua metodologia de ensino, visando o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do educando, frente às questões que são relevantes para a sua formação como cidadão completo.

Palavras-chave: Educador. Educando. Vínculo. Afetividade. Ensino.

1 INTRODUÇÃO

O tema “A importância do vínculo afetivo no contexto escolar” é importante, pois se observa que a principal dificuldade tanto do educador quanto do educando está relacionado com as questões das aprendizagens significativas, que é aquele aprendizado que acompanha o aluno durante toda a vida e é responsável por adquirir valores importantes para a sua formação.
Por ser um assunto atual, debatido em todos os setores escolares, acredita-se na relevância do tema frente às questões de aprendizagens, pois cabe ao educador criar um ambiente motivador que facilite o processo de ensino dos alunos tendo como principal objetivo verificar e entender o papel que a afetividade e o vínculo afetivo ocupam em relação ao ensino e a aprendizagem.
Serão apresentadas as aprendizagens segundo a visão do construtivista Vigotsky, no qual ele enfatiza a importância da interação social com o meio em que a criança vive ou a interação com outro colega mais experiente para favorecer o seu desenvolvimento.
Baseado no teórico Codo, o vínculo na aprendizagem será enfatizado com a finalidade de auxiliar tanto o aluno quanto o professor referente às questões das aprendizagens, contribuindo desta forma com uma relação amigável, afetiva e emocional entre o docente e o discente. Para isto é importante que o professor trabalhe em conjunto com a escola e a comunidade oferecendo meios que os auxilie no seu desenvolvimento cognitivo e social.
A prática educativa será abordada como um processo no qual o educador desenvolverá suas metodologias de aprendizagem em relação à sala de aula, enfatizada e baseada no autor Zabala.
Por fim, será exposto o papel do educador frente às atividades que terão que desenvolver como professor, bem como o seu comprometimento com os seus alunos diante das exigências de sua profissão.
Desta forma, o assunto em questão é importante por ser crítico e atual. E sua relevância se explica baseado no vínculo existente entre o docente e o discente que contribui para o desenvolvimento de suas aprendizagens e o seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e cultural.


2 O VÍNCULO AFETIVO: FAVORECIMENTO DE UMA BOA PRÁTICA EDUCATIVA

Qualquer trabalho que uma pessoa queira realizar requer algum envolvimento afetivo por parte do trabalhador, e isto não é diferente se comparado com o educador, ou seja, para que o educador consiga o fruto de seu trabalho, isto é, a aprendizagem significativa por parte de seus alunos é necessário que seja estabelecido entre eles uma relação afetiva, regada com bastante carinho, respeito, confiança tendo como meta principal a preparação do educando para a vida futura e de maneira que este aluno possa contribuir com sua aprendizagem seja expressando sua opinião ou desenvolvendo habilidades que irão auxiliá-lo na sua compreensão de mundo.
Segundo Codo (2006, p. 78) “A atividade de educar, como já se viu exige do educador o estabelecimento de um vínculo afetivo e emocional com o objeto de seu trabalho: o aluno. ” O vínculo afetivo além de cooperar para o desenvolvimento intelectual do educando favorece a aproximação, através do diálogo, compreensão incentivando o aluno a ser mais comprometido com as aulas.
Todavia, além da afetividade outras estratégias devem ser desenvolvidas, como por exemplo, envolver e motivar os educandos enfatizando-lhes que eles possuem um papel importante em relação a sua própria aprendizagem, destacando a relevância de sua participação, interação e motivação pelas aulas.
Através do vínculo afetivo o docente inova, aperfeiçoa e desenvolve suas metodologias de ensino estimulando, desta forma, o discente a participar e sentir-se integrante da prática educativa que o motiva e o constroem constantemente. “Esta sedução, esta conquista, envolve um enorme investimento de energia afetiva, canalizada para a relação estabelecida entre aluno e professor. [...] é mediante o estabelecimento de vínculos afetivos que ocorre o processo ensino – aprendizagem.” (CODO, 2006, p. 50).
A partir do vínculo afetivo a aprendizagem ocorre de maneira prazerosa e o processo ensino/aprendizagem se desenvolve de maneira mais eficaz. É importante ressaltar a relevância de o educador expor aos seus alunos os objetivos e a utilidade de tal conteúdo, pois como existe este vínculo, esta ligação entre eles isto motivará os alunos pelo conteúdo proposto mesmo que naquele momento o assunto não pareça proveitoso.


2.1 O VÍNCULO AFETIVO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA



É pertinente a motivação, o envolvimento, o interesse e a vontade de aprender em relação ao assunto em questão para que seja desenvolvida a aprendizagem significativa, pois se não existe este envolvimento o aluno poderá até saber para aquele momento, mas logo após algum tempo irá esquecer, pois não ocorreu a aprendizagem significativa.
Conforme Codo (2006, p. 78) “O afeto e a emoção necessários para veicular à atividade de cuidar e ensinar os alunos são um tipo de vínculo que se concretiza sob determinadas condições existentes nas escolas.” Diante disto é relevante enfatizar a importância da escola para o favorecimento da aprendizagem com significado para os alunos oferecendo-lhes suporte, apoio e projetos que contribua para uma maior aproximação e envolvimento emocional e afetivo entre educador e educando.
Alguns autores consideram a aprendizagem como importante instrumento de desenvolvimento responsável pela interação da criança com o adulto. O processo de ensino-aprendizagem que acontece na escola, e que a criança irá desenvolver ao longo dos anos escolares, possui um papel importante quando relacionados aos conhecimentos prévios, no qual a criança leva consigo ao ingressar em uma Instituição Escolar.

A aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança. A aprendizagem desperta processos internos de desenvolvimento que só pode ocorrer quando o indivíduo interage com outras pessoas. O processo de ensino-aprendizagem que ocorre na escola propicia o acesso dos membros imaturos da cultura letrada ao conhecimento construídos e acumulados pela ciência. (CASTORINA, 1996, p. 33).

Através do processo de ensino aprendizagem o educar se completa, pois tanto o educador quanto o educando desenvolve esta relação de afetividade e aprendizagem e como consequência o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para o entendimento profundo referentes ao ensino. Por isso, Castorina (1996, p. 58) afirma que “ensino e aprendizagem passam a fazer parte de um todo único, indissociável, envolvendo quem ensina, quem aprende e a relação entre essas pessoas.”
Para que ocorra a aprendizagem significativa dos alunos e, portanto o seu aprendizado particular é necessário que se desenvolva procedimentos que ofereçam a estes assistências nas instruções e instrumentos pelo o qual este consiga compreender a leitura, a escrita, isto é, a construir o seu próprio conhecimento, além de aprender a se comunicar com as pessoas, seja através de registros ou pela a própria comunicação.
Conforme Castorina (1996, p. 62) “a intervenção do professor tem, pois, um papel central na trajetória dos indivíduos que passam pela a escola.” Com isso, Castorina enfatiza a importância que a intervenção do professor produz quando integrado à construção do conhecimento por parte do aluno com a orientação e mediação do professor.
Sendo assim, o educador poderá intervir nas situações de aprendizagens existentes no ambiente escolar, conversando, cooperando, instigando e até mesmo desafiando os alunos para desenvolverem as sua própria aprendizagem, despertando nos alunos o censo crítico, a autonomia, a reflexão, a imaginação, a criatividade e a compreensão diante de fatos e acontecimentos posteriores que os alunos poderão enfrentar no decorrer da vida escolar, profissional ou até mesmo familiar.


2.2 O EDUCADOR E O VÍNCULO AFETIVO E EMOCIONAL

Para que o indivíduo aprenda significativamente é necessário que este esteja envolvido integralmente em uma comunidade, por isso a importância da socialização e o conviver juntos entre as pessoas.
É na infância a principal fase na qual a criança se comunica, realiza tarefas e até mesmo repete informações e expressões de acordo com o entendimento do adulto mais próximo da criança, seja os familiares ou educadores. Desta forma, o professor tem o papel de estimular situações que provoquem o aluno a desenvolver suas habilidades com as quais eles não conseguiriam, caso estivesse sozinho.
De acordo com Codo (2006, p. 50) “se esta relação com os alunos não se estabelece, se os movimentos são bruscos e os passos foras de ritmo, é ilusório querer acreditar que o sucesso do educar será completo.” Diante disso, faz-se necessário que se desenvolva entre educador e educando esta relação afetiva de forma que o processo de ensino e aprendizagem possa se concretizar de maneira eficaz e de forma significativa.
Segundo Castorina (1996), baseado no Construtivista Vigotsky o trabalho em grupo é enfatizado como um meio responsável pela obtenção do aprendizado de seu próprio conhecimento. Isto significa que caso o indivíduo estivesse sozinho este não conseguiria se desenvolver, pois este consegue realizar ações, recontar fatos e ideias em contato com outras pessoas, através da interação social com o meio no qual o indivíduo está inserido responsável pela a compreensão do seu desenvolvimento cognitivo.
A ideia comentada por Castorina (1996, p. 19), da “Zona de Desenvolvimento Proximal”, ou seja, o aprendizado que o indivíduo obtém através do contato com as pessoas, com a família, enfim com a própria cultura é defendida por Vigotsky. Isto significa que o aprendizado acontece quando a criança interage com o apoio de um adulto ou através de alguma intervenção de um colega que possui uma maior capacidade cognitiva.
Vale salientar que posteriormente o aprendizado obtido a partir da Zona de Desenvolvimento Proximal deverá ser realizado sem o auxílio de outras pessoas, pois desta forma pode se dizer que houve o desenvolvimento através da interação.


2.3 O EDUCADOR E OS CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS


O educador tem como atividade principal planejar, educar, ensinar, mediar, orientar, dirigir, coordenar e provocar estímulos que favoreçam a aprendizagem e a capacidade cognitiva, bem como conduzir a prática educativa de acordo com as normas, finalidades e exigências referente aos conhecimentos pedagógicos.
A prática educativa como está inserida em um contexto social, no qual auxilia no desenvolvimento do cidadão e o prepara para a vida em sociedade, tem o papel de oferecer aos educandos conhecimentos e experiências, colaborando para que estes educandos estejam preparados para participar do meio no qual está inserido modificando e auxiliando esta sociedade. Líbaneo (1994) expressa à principal função do educador, bem como o exercício de sua prática educativa.

O trabalho do docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação, ou seja, a prática educativa é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. [...] Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade. A prática não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam apto a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. (LÍBANEO, 1994, p. 16).

Através do processo educativo as culturas e crenças são manifestadas com a finalidade de instruir, informar e transmitir o conhecimento através da interação e estabelecimento de metodologias de ensino que envolva a todos na construção de suas aprendizagens.
É pertinente que o educador planeje suas aulas e desenvolva suas metodologias de acordo com os conhecimentos prévios dos alunos, estabelecendo metas e objetivos possíveis de serem alcançadas, contribuindo assim, para o seu desenvolvimento e interesse pelo assunto em questão, pois segundo Zabala (1998, p. 94) “para poder estabelecer os vínculos entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios, em primeiro lugar é preciso determinar que interesses, motivações, comportamentos, habilidades devem construir o ponto de partida.”
As situações que envolvem o educando devem ser mediadas, coordenada e interligada com os conhecimentos posteriores, pois a educação é um processo que abrange o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade.
É importante ressaltar ainda a relevância do educar e ensinar os alunos, pois sem estes dois referenciais é ilusório acreditar que a prática educativa será completa, pois esta prática tem a intenção de propor propostas educacionais aos educadores que desafie e estimule os seus educandos a buscar sempre mais o conhecimento, todavia é importante relatar que não se trata de um método ou uma receita pronta, mas um referencial para guiar, nortear, isto é, melhorar a prática de ensino.
O professor responsável por atuar em alguma unidade escolar sempre está se atualizando, através de cursos, seminários, leitura, pesquisas, seja por interesse em melhorar sua prática de ensino ou para o seu próprio benefício. Todavia quando este profissional se identifica com sua profissão colocando em prática tudo o que foi apreendido terá como ferramenta de trabalho, além de sua experiência como educador, fatores relevantes como carinho, o afeto, a compreensão, o diálogo, isto é, um trabalho efetivo em prol do desenvolvimento do educando em sua totalidade.
Freire (1996, p. 97) enfatiza que o professor/educador procura se especializar para transmitir confiança demonstrando um amplo saber em relação ao seu objeto de trabalho. “Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a maneira como me percebam me ajudam ou desajuda no comprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho. ”
É importante que o educador possua um amplo conhecimento a respeito de sua prática de ensino, pois com isso, ele transmitirá segurança, estabelecendo de forma integral o vínculo afetivo entre o educador e o educando, favorecendo assim o interesse por sua formação, sem perder sua essência.
Diante disto, pode-se confirmar que a alegria do educador se efetivará ao ver que o vínculo e a relação entre o educador e o educando contribui de forma significativa para o desenvolvimento de suas aprendizagens e a construção do sujeito como um todo.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A partir da pesquisa que foi elaborada, é possível afirmar que a interação com o meio no qual a criança esta inserida favorece o desenvolvimento das aprendizagens significativas. Por isso, o vínculo afetivo e emocional é responsável pelo envolvimento do educador com o educando e contribui para o aperfeiçoamento da prática educativa e o desenvolvimento de habilidades que favorecem a apreensão de uma aprendizagem completa que pode ser realizado em diversos ambientes, desde que estes ofereçam meios capazes de influenciar os aspectos cognitivos e intelectuais dos alunos.
A participação efetiva dos educandos nas atividades diárias favorecem o comprometimento e o desenvolvimento das aprendizagens significativas. Desta forma, o educando se tornará mais presente nos desenvolvimento e organização dos estudos.
É relevante salientar que quando o discente ingressa em sala de aula, cabe ao docente envolver este aluno no ambiente escolar e estabelecer um local acolhedor, para que o aluno se sinta seguro e confiante.
É importante envolver a família para que esta participe e tenha uma ligação eficiente com a escola, em prol da formação do educando em suas diversas competências de aprendizagens valorizando o contato direto com a escola para a obtenção do sucesso escolar do discente.
A prática educativa pode ser orientada para auxiliar o desenvolvimento do educando e assim prepará-lo para uma vida em sociedade contribuindo para desenvolver estratégias e metodologias que favoreçam a convivência de todos os alunos em sala de aula.
A importância dos conhecimentos pedagógicos como instrumento responsável por compreendermos os conhecimentos posteriores deve ser enfatizados e valorizados pelo educador e por toda a unidade escolar como um primeiro passo para a obtenção de novos conhecimentos e o aprimoramento dos conhecimentos já existentes.
A pesquisa foi importante, pois o educador se interessa pela formação completa do aluno, por isso ele se torna um educador comprometido, atencioso efetivo e afetivo na vida de seus educandos.
Embora a educação atualmente apresente algumas dificuldades que desfavoreçam a relação entre o professor e o aluno, ainda é possível uma convivência saudável baseada no respeito mútuo para aprimorar a prática pedagógica, visando o estabelecimento do vínculo afetivo e emocional para desenvolver o processo de ensino e aprendizagem do aluno, estabelecendo assim um elo entre o educador e o educando, que possivelmente não será rompido com o passar do tempo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



CASTORINA, José Antônio. et al. Piaget e Vygotsky, novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 1996.

CODO, Wanderlei. Educação: carinho e Trabalho. Burnot, a síndrome da desistência do educador, que pode levar a falência da educação. São Paulo: Vozes, 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LÍBANEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

1. MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
2. Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva.

domingo, 7 de agosto de 2016

OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA

Clério Cezar Batista Sena1
Vanda da Silva Régio2


1. MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Gestor da EE Tenente Ernesto Caetano de Souza e professor/orientador – Censupeg – Brasil. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
2. Especialista em Gestão Educacional: Administração, Supervisão e Orientação Escolar. E-mail: vanda_23m@hotmail.com


Resumo

Este artigo apresenta algumas questões a respeito da gestão escolar democrática, discutindo pontos de vista relevantes ao âmbito educacional; tanto ao que se refere às práticas administrativas como também no campo das práticas pedagógicas, objetivando chamar a atenção para uma gestão mais centrada no momento atual pela qual está passando a educação brasileira, ou seja, um período de grandes mudanças sociais, uma vez que, as práticas antigas encontram-se obsoletas diante do crescimento nos campos científicos e tecnológicos que estamos vivenciando atualmente, com o avanço da globalização e, não menos importante, o fator da crescente violência nas escolas. Também tece uma análise comparativa e sugestiva a respeito de práticas que podem ou não fazer a diferença frente a uma gestão educacional, buscando envolver todos os “atores” da educação numa rede participação e de troca mútua para o bem estar de todos os envolvidos na educação escolar, sobretudo, alunos, professores e pais.

Palavras-chave: Gestão democrática. Desafios. Parcerias.


1 INTRODUÇÃO


Nos dias atuais, podemos perceber que as escolas, principalmente, as públicas, estão atravessando uma fase de extremamente difícil, devido inúmeros fatores que vão desde a violência - tanto por parte dos alunos quanto por parte da comunidade em geral – até a falta de interesse pela educação acadêmica propriamente dita.

Diante disto, é que foi pensado o tema, ou seja, pela necessidade de se analisar forma mais abrangente o assunto em busca de uma luz, que possa mostrar-nos os possíveis caminhos a serem tomados para a solução, ou ao menos para amenizar as dificuldades que têm se tornado, até corriqueiras, no ambiente educacional, e também, que as têm enfrentado cotidianamente os gestores escolares do ensino público brasileiro. Para tanto, ou seja, o assunto em questão foi abordado, por meio de uma metodologia descritiva de revisão de literatura.

Diversas experiências mostram também, que quando todos participam da gestão escolar, o trabalho realizado torna-se menos árduo e há maiores possibilidades de que se consiga vencer os desafios educacionais contemporâneos. Sabe-se que ser um bom gestor, em tempos atuais, de crise no setor educacional, não é nada fácil; portanto, o desafio é grande e necessita de reforços.


2 GESTÃO DEMOCRÁTICA: CARACTERÍSTICAS E DESAFIOS


A gestão democrática por ser uma maneira de administrar uma instituição para possibilitar a participação, transparência e democracia, apresenta-se como um desafio à escola e ao gestor, que para exercer o seu trabalho de forma organizada e competente há que valer-se de uma gestão democrática voltada para o trabalho conjunto com todos os órgãos que fazem parte do processo de ensino, ou seja, de uma gestão democrática.

Tal gestão, que além de expressa na Constituição Federal (1988), é tratada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996) em seu artigo 3º (inciso VIII), que define os princípios do ensino público e no artigo 14, em que é postulada a forma pela qual a gestão democrática se efetivará:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, p. 32).

Contudo, o trabalho da escola e do professor deve nortear-se, antes, por uma postura de busca, tendo no homem, a real e central preocupação de toda a organização escolar, efetivando, acompanhando e avaliando sempre esse trabalho.

Parafraseando Libâneo et. al. (2004), não se pode conceituar gestão sem, juntamente, citar a organização, pois estão interligadas e caminham juntas. A organização e a gestão constituem o conjunto das condições e dos meios utilizados para assegurar o bom funcionamento da instituição escolar, de modo que alcance os objetivos educacionais esperados. Esses termos são, com frequência, associados à ideia de administração, de governo, de provisão de condições de funcionamento de determinada instituição social - família, empresa, escola, órgão público, entidades sindicais, culturais, científicas, etc. - para a realização de seus objetivos.

Ao visionar uma administração competente, dentre estes citados e os muitos outros aspectos a serem observados, Mello (2002, p.32) destaca:

[...] a efetiva responsabilidade e poder de decisão a serem atribuídos às unidades escolares e as condições para que elas possam desincumbir-se a contento dessa responsabilidade, tais como suporte técnico e financeiro, recursos humanos, mecanismos de avaliação de resultados e formas organizadas de participação dos pais.

Porém, essa participação tão sonhada, na maioria das vezes não se concretiza na escola; inclusive, nem mesmo a própria escola pública tem claras as formas de como organizar-se para poder expressar-se de modo democrático. Porém, é necessário que o gestor busque esse entendimento para que as mudanças possam de fato ocorrer no âmbito escolar. No tocante à essa necessidade de mudanças, Freire (2007, p. 60), aponta:

Esta mudança de percepção que se dá na problematização de uma realidade concreta, no entrechoque de suas contradições, implica um novo enfrentamento do homem com sua realidade. Implica admirá-la em sua totalidade: vê-la de “dentro” e, desse “interior”, admirá-la em suas partes e voltar a admirá-la, ganhando assim, uma visão mais crítica e profunda da sua situação na realidade que não condiciona. Implica uma “apropriação” do contexto; um não estar quase “sob” o tempo, mas no tempo. Reconhecer-se homem. Homem que deve atuar, pensar, crescer, transformar e não adaptar-se fatalisticamente a uma realidade desumanizante. Implica, finalmente, o ímpeto de mudar para ser mais.

Portanto, é preciso desenvolver novas práticas alternativas baseadas na verdadeira autonomia e colegialidade, como mecanismos de participação democrática da profissão que permitam vislumbrar novas formas de entender as atribuições da profissão, buscando revelar o currículo oculto das estruturas educativas e procurar descobrir outras maneiras de ver a profissão docente, o conhecimento profissional necessário, a escola e sua organização educativa.

Será, porém, muito útil aos objetivos da gestão democrática participativa que os professores compreendam os processos de tomada de decisões do estado e do sistema educativo, entendendo que a escola não está isolada do sistema social político e cultural.

Para Libâneo et. al. (2004, p. 19), “A organização escolar necessária é aquela que melhor favorece o trabalho do professor, existindo uma interdependência entre os objetivos e as funções da escola e a organização e a gestão do trabalho escolar.”

Analisando-se a afirmação acima, conclui-se que, uma escola bem organizada e bem gerida é aquela que cria e assegura condições organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam bem-sucedidos nas suas aprendizagens. Tais afirmações ganham reforço ainda em suas palavras:

Como membro da equipe escolar, o professor deve dominar conhecimentos relacionados à organização e à gestão, desenvolver capacidades e habilidades práticas para participar dos processos de tomada de decisões em várias situações (reuniões, conselhos de classe, conselho de escola), bem como atitudes de cooperação, de solidariedade, de responsabilidade, de respeito mútuo e de diálogo (LIBÂNEO et. al., 2004, p. 25).

Para atingir suas finalidades, as instituições escolares determinam papéis e responsabilidades. A maneira pela qual se compreendem a divisão de tarefas e responsabilidades e o relacionamento entre vários setores determina a estrutura organizacional. Esta, dificilmente escapa de certa burocracia e, o aspecto burocrático de uma escola, diz respeito, em geral, à existência de uma autoridade legal, com base na qual se estabelecem outros níveis hierárquicos como diretor, vice-diretor, assistente administrativo, coordenador, entre outros. Há regras e regulamentos impessoais definidos tanto para a seleção de funcionários, carreira e remuneração quanto para o funcionamento da instituição.

A escola não é uma entidade abstrata. Ela tem características específicas e cumpre uma função determinada, na medida em que está presente e é uma constituinte de uma sociedade que se organiza de maneira peculiar, historicamente. Ela resulta do trabalho e das relações estabelecidas em seu interior, é o espaço das práxis de determinados sujeitos. (RIOS, 2003, p.45).

A tarefa mais importante do gestor ou da equipe gestora, quando se fala em administrar uma instituição é tomar decisões certas para chegar a resultados positivos. Como bem assinala Bologna (2005, p. 49), “... um bom gestor deve ser um líder e agregar atitudes”.

Ao que se pode compreender é mais que urgente se implantar as mudanças necessárias na escola para que todos os alunos aprendam. Sabe-se que a escola, geralmente, é uma instituição que reage negativamente a mudanças, e todos os rituais de passagem são enfrentados com resistência. Portanto, opor-se à essa resistência é uma das marcas do bom gestor.

Para Freire (2007, p. 60), esta mudança de percepção que o bom gestor deve ter:

[...] não é outra coisa senão a substituição de uma percepção distorcida da realidade por uma percepção crítica da mesma [...] Tentar a conscientização dos indivíduos com quem se trabalha, enquanto com eles também se conscientiza, este e não outro nos parece ser o papel do trabalhador social que optou pela mudança.

A eficácia da escola é garantida, portanto, por um trabalho coletivo a ser coordenado pelo diretor, envolvendo a todos: corpo administrativo, funcionários, professores, estudantes, grêmio, colegiado, pais, voluntários da escola, etc.

Compreende-se, portanto, que a gestão educacional, bem como a educação escolar, realiza sua finalidade tanto na dimensão individual, no espaço das consciências humanas, quanto na dimensão social, pois vive e se realiza no espaço coletivo, na relação com o outro.

Bologna (2005), ao analisar o perfil de um bom gestor afirma que este deve ser um líder é agregar atitudes como:

• Estar sempre preocupado com os resultados da aprendizagem.
• Participar do planejamento e fazer o acompanhamento do trabalho docente
• Conversar com alunos e funcionários para detectar problemas e níveis de satisfação e ouvir sugestões.
• Ser um construtor de consensos, mas estar sempre aberto às novas ideias e à diversidade, aceitando opiniões e novas propostas.
• Ser audacioso o suficiente para fazer as mudanças necessárias visando sempre melhorar a qualidade de ensino.
• Manter as questões administrativas em dia.

Porém, embora tudo isso pareça perfeito, sabemos que são muitos os desafios de uma gestão democrática de sucesso. Há que dispor de tempo, interesse, planejamento e, principalmente, entrega e “boa vontade” de todos os envolvidos e comprometidos com a educação e, principalmente com uma boa liderança.

Parafraseando Luck (2009) a respeito das atribuições do gestor escolar, pode-se dizer que o mesmo, possui atribuições cuja responsabilidade consiste em estabelecer a unidade e integração de todas as ações do estabelecimento de ensino, de modo que sejam orientadas contínua e insistentemente para a melhoria contínua, focando na formação e aprendizagem dos alunos. Quando o gestor lidera as ações educacionais, orientado por uma visão global e abrangente do trabalho pedagógico associada à superação de desafios para promovê-la, tal gestão torna-se eficaz.

Observou-se que as escolas eficazes apresentam um elevado espírito de integração com a comunidade, de modo não só a envolvê-la no processo de decisão da escola, mas também de modo a tornar o processo ensino-aprendizagem mais ativo e atualizado. Também se verifica que, quando há maior envolvimento dos pais na gestão democrática da escola e o seu acompanhamento à aprendizagem dos filhos, os indicadores de desempenho da escola são melhores (LUCK, 2009, p. 51).

Compreende-se que uma gestão competente e de sucesso é continuamente desafiadora e desafiada, tanto por condições físicas, por disciplinas inadequadas, por pessoal incapacitado ou que simplesmente não está no espírito da equipe, por práticas convencionais, comodismo, problemas de aprendizagem, comportamentos inadequados e uma série de coisas que poderão atrapalhar o andamento da boa gestão escolar; porém, há que se estar atento a todas essas condições e peculiaridades para que a escola possa cumprir a sua função de transmissora do saber; e assim, os alunos não tenham prejuízos na aprendizagem nem percam as boas oportunidades que o ensino lhes proporciona.

Ainda amparando-se em Luck (2009) quanto às ações para a promoção da melhoria da gestão, entende-se que as escolas eficazes, conforme identificado por pesquisas educacionais, além de cuidarem dos demais assuntos abordados, ainda promovem:

a) Metas para a melhoria da aprendizagem, do desempenho dos seus alunos e das condições para promovê-la;
b) Aumento e melhoria da capacidade de mobilização de pessoas em torno da educação sejam professores, pais, alunos e comunidade;
c) Comprometimento com o desenvolvimento de programas de alcance a médio e longo prazo.

Enfim, não se pode esquecer que uma gestão democrática deve estar sempre aberta às necessidades dos professores, educandos, famílias e comunidade, e estar sempre atualizada com os avanços educacionais e tecnológicos; comprometida com uma educação de qualidade e, sobretudo, a escola deve ter vida, ser alegre e interessante. Só assim, possibilitará ao educando construir-se como ser humano e despertar nele o encantamento pela escola.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ao conceber que a escola é a instância integrante do todo social, sendo uma instituição que tem como objetivo primordial desenvolver as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos, para tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem, as escolas são, pois, ambientes formativos, o que significa que a prática de organização e de gestão pode mudar os modos de pensar e de agir das pessoas, isto é, tais práticas educam.

Devemos, - nós, todos os envolvidos, direta e/ou indiretamente com a educação escolar - atentar para que a gestão escolar democrática e participativa não seja mais um engodo e ficar apenas no papel e na ideologia. Temos que nos ater ao fato de que Ruaro (2010, p. 35) comenta:

[...] é necessário que os gestores assumam essas competências e habilidades anteriormente referidas se quiserem sair do mero discurso da nova roupagem e de fato, facilitem o processo educativo nas relações interpessoais na escola, no trabalho coletivo, na capacidade de ouvir e de encaminhar as soluções... Talvez seja necessário sair do mero discurso da mudança e mergulhar de vez no processo [...].

Enfim, na medida em que um grupo unido busca novas oportunidades e melhorias para a escola – e grande parte dessas melhorias ocorre com a participação da comunidade -, há uma troca mútua de conhecimentos, tornando-se possível detectar mais facilmente os problemas que ocorrem e, mutuamente, solucioná-los.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOLOGNA, José Ernesto. Características do bom gestor. Revista Nova Escola, n.188. São Paulo: dez. 2005.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394. Brasília: MEC/SEF, 1996.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

LIBÃNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Organização e gestão, objetivos do ensino e trabalho dos professores. Pedagogia Cidadã: Cadernos de Formação. In: Organização e Gestão do Trabalho na Escola. São Paulo: UNESP. 2004.

LUCK, Heloisa. Construindo a qualidade do ensino pela gestão escolar. Revista Aprendizagem. In: Gestão Escolar. – Ano 3, n. 13 – Jul/Ago. São Paulo: Melo, 2009.

MELLO. G. N. Cidadania e competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Competência. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões de Nossa Época, v. 16).

RUARO, Dirceu. Repensando o papel do diretor na escola: Porque a gestão e a aprendizagem devem caminhar juntas? Revista Aprendizagem. In: Gestão Escolar. – Ano 3, n. 17 – Mar/Abril. São Paulo: Melo, 2010.

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