terça-feira, 18 de outubro de 2022

Reflexão de um CINQUENTÃO.

 


Cezar Sena [1]

Cheguei a meio século de vida. E como amanheceu o dia hoje? Nublado, chuvoso, bom para ficar quietinho, lendo um bom livro, ouvindo música e tomando um vinho como costumo fazer às vezes. No entanto o dia amanheceu com todos os outros dias, independentemente da minha vontade. Imaginei tanto essa data como se fosse um evento mágico, transformador e cabalístico. Decepcionado? Não! Mas estou mais reflexivo, nostálgico, procurando alguns sinais dessa maturidade que o tempo nos possibilita.

Minha mente viajou imaginando as várias possibilidades de escrever a respeito desta data tão aguardada e simbólica para mim. Sim! Estava ansioso para completar 50 anos. Penso que a maior novidade deste momento foi assumir a identidade de escritor como estratégia de transição – aposentaria. Ela sempre esteve por aqui, quase sempre abafei, ora por falta de tempo, ora por não acreditar no potencial. Trago a memória, o primeiro livro escrito datilografado e ilustrado por mim quando tinha 15 anos “Grilos de adolescentes”. E agora quais são os “grilos” do cinquentão? Confesso que ainda carrego comigo alguns daqueles “grilos”: medo de ser rejeitado, não ser bom o suficiente, de decepcionar as pessoas que amo etc.

Pensei em escrever uma lista de 50 motivos de gratidão pelos 50 anos. Mas achei a ideia cafona. Talvez não seja tão cafona assim. A verdade que não conseguir encontrar 50 motivos extraordinários para compartilhar, por isso desistir. Mas veio à mente várias cenas que marcaram minha vida (infância, juventude e vida adulta). E uma sensação de GRATIDÃO invade minha alma. Foram tantas conquistas não imaginadas, tanto no campo pessoal, quanto profissional. Mas do alto dos 50 anos, percebi que os fatos marcantes, foram os mais simples, despretensiosos, vividos no momento presente. Não vou cansar o leitor com os 50 motivos (embora tenha feito uma boa lista), mas compartilho um episódio determinante, de luta pela sobrevivência com determinação e fé, características que me define.

Nasci em 18/10/1972 em Jucuruçu (cidadezinha no Extremo Sul da Bahia, hoje com 10 mil habitantes). Minha mãe relata que por volta dos 6 meses, tive desnutrição infantil, por não conseguir alimentar e não “pegar o leite de peito”, o que levou a perda de peso, fiquei só cabeça, pele e osso, chegando a “morrer” 03 vezes, até colocaram vela na mão e tudo (tradição baiana colocar vela na mão dos defuntos). Mas enquanto todos estavam chorando, voltei a respirar a vida recomeçou. O milagre ocorreu! E de lá para cá presenciei pequenos “milagres” cotidianos. Devido a desnutrição, fui andar com 1 ano e 7 meses. Entende agora por que sou teimoso, determinado e resiliente? Tive que aprender a lutar pela vida desde muito cedo.

A vida é uma DÁDIVA que não devemos desperdiçar com reclamações, medos ou lamentando os defeitos. Com a metade da vida – já descendo a curva, percebo que o essencial é VIVER O MOMENTO PRESENTE, desapegado da ideia infantil de querer agradar todos, do medo de ser rejeitado, de errar. A maturidade nos traz autoconhecimento, que nos leva reconhecer as fragilidades de maneira positiva e sincera. Que venha mais desafios! Estou pronto para esta nova etapa/ciclo. Ligando o motor 5.0. Mas daqui para frente, sem muita pressa, quero apreciar mais a paisagem do que a chegada.

Vargem Grande Paulista, SP. 18 de outubro de 2022.



[1] Professor, Escritor, Diretor de escola. Mestre em Educação, Neuropsicopedagogo, Psicopedagogo e Pedagogo. @cezar.sena

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