segunda-feira, 11 de agosto de 2025

GESTÃO EMOCIONAL E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL: PROFESSOR GERENCIE SUA EMOÇÃO E TRANSFORME SUA AULA.


Cezar Sena[1]

RESUMO

 

No turbulento e inspirador universo da educação contemporânea, o professor transcende o papel de mero transmissor de conhecimento. Ele é o gestor de dinâmicas complexas, o mediador de conflitos, o catalisador de potenciais e, acima de tudo, um ser humano que lida diariamente com intensas cargas emocionais. Em meio a esse cenário multifacetado, a capacidade de compreender e gerenciar as próprias emoções emerge não como um diferencial, mas como uma competência essencial para uma atuação profissional eficaz, assertiva e, acima de tudo, duradoura. Este artigo mergulha na intrínseca relação entre a gestão emocional e a prática docente, explorando como o autoconhecimento afetivo — desde as manifestações mais primitivas da emoção até o autodomínio da paixão, sob a lente de Henri Wallon — se entrelaça com a mentalidade de crescimento proposta por Carol Dweck. Juntos, esses pilares oferecem um mapa para que educadores não apenas sobrevivam aos desafios, mas floresçam, transformando sua sala de aula e impactando profundamente a vida de seus alunos.

 

A AFETIVIDADE SOB A ÓTICA DE HENRI WALLON: COMPREENDENDO NOSSAS RAÍZES EMOCIONAIS

 

Para desvendar a complexidade das emoções humanas e sua influência na performance profissional, recorremos aos valiosos insights de Henri Wallon. Este renomado psicólogo francês propôs uma compreensão do desenvolvimento humano onde afetividade e cognição estão intrinsecamente ligadas. De acordo Sena (2013), Wallon apresenta três manifestações principais da afetividade, que se desdobram ao longo do desenvolvimento e são essenciais para o autocontrole emocional do adulto, especialmente do educador.

A primeira etapa é a EMOÇÃO, caracterizada por reações orgânicas, muitas vezes não controladas pela razão, e que se manifesta de forma primitiva e contagiosa. No início da vida, no estágio impulsivo-emocional, a criança expressa sua afetividade através de movimentos descoordenados, respondendo a sensibilidades corporais. Para o profissional, compreender a emoção significa reconhecer reações automáticas e primárias que podem surgir no cotidiano do trabalho.

Em seguida, temos o SENTIMENTO, que representa a verbalização da emoção. É a capacidade de nomear, elaborar e expressar aquilo que se sente de forma mais consciente. No estágio sensório-motor e projetivo, a criança, ao desenvolver a fala, começa a externar suas percepções e interações com o mundo. Para o professor, a verbalização dos sentimentos é um passo crucial para a autocompreensão e para uma comunicação mais eficaz, permitindo que se lide com as situações de forma menos impulsiva e mais refletida.

Por fim, a PAIXÃO surge como o ápice do desenvolvimento afetivo, marcando o aparecimento do autocontrole. Aqui, o indivíduo demonstra a capacidade de dominar suas emoções em função de um objetivo maior. No estágio do personalismo, a criança começa a se perceber como um indivíduo distinto, desenvolvendo a consciência de si (e do outro. Para o profissional da educação, desenvolver a paixão no sentido Walloniano significa alcançar um nível de maturidade emocional onde as reações são ponderadas e alinhadas aos propósitos pedagógicos, resultando em uma atuação mais equilibrada e estratégica.

 

O EQUILÍBRIO EMOCIONAL COMO PILAR DA ATUAÇÃO DOCENTE ASSERTIVA

 

A partir desses conceitos, fica evidente que, para que os professores atuem de forma efetiva e assertiva, é imprescindível que desenvolvam habilidades de gestão emocional. Isso não se limita a "controlar" emoções, mas a reconhecê-las, compreendê-las e, então, utilizá-las de forma construtiva. O autoconhecimento derivado dessa jornada permite aprimorar as práticas pedagógicas e estabelecer relações mais saudáveis e empáticas com os alunos. A capacidade de gerenciar emoções contribui significativamente para a criação de um ambiente de aprendizagem positivo, onde tanto o educador quanto o estudante se sentem seguros e engajados.

 

REFERÊNCIAS QUE TRANSFORMAM: MINDSET E NEUROCIÊNCIA APLICADAS À EMOÇÃO

 

A obra "Mindset" de Carol Dweck (2017) oferece uma perspectiva poderosa sobre a mentalidade de crescimento. Ao adotar essa mentalidade, os desafios são encarados como oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, e não como obstáculos intransponíveis. Para o professor, essa abordagem fomenta a resiliência, a busca constante por aprimoramento e a capacidade de se levantar após eventuais contratempos, vendo a adversidade como um degrau para a evolução.

Aplicar a mentalidade de crescimento na sala de aula é fundamental para criar um ambiente de aprendizagem dinâmico e encorajador, onde os alunos entendem que suas habilidades e inteligência podem ser desenvolvidas por meio de esforço, estratégias eficazes e persistência. Essa abordagem incentiva os estudantes a abraçarem desafios, aprenderem com os erros e valorizarem o processo de aprendizagem em si, e não apenas o resultado final.

Para lidar com a mentalidade fixa em professores e incentivá-los a adotar uma mentalidade de crescimento, é fundamental aplicar estratégias que os ajudem a refletir sobre suas crenças, valorizar o esforço e a persistência, e se engajar em um processo contínuo de desenvolvimento. A obra "Mindset" de Carol Dweck oferece a base para essas abordagens.

Com base na obra 'Mindset' de Carol Dweck, apresento cinco dicas para auxiliar professores na transição para uma mentalidade de crescimento, fundamentadas nos seguintes princípios:

 

1.     Promover a autoconsciência sobre as crenças: O primeiro passo para mudar uma mentalidade fixa é reconhecê-la. Incentive os professores a refletirem sobre suas próprias crenças em relação à aprendizagem, ao talento e ao desenvolvimento de habilidades. Professores com mentalidade fixa podem acreditar que a inteligência e as habilidades são traços inatos e imutáveis, o que pode levar à resistência a novas metodologias ou ao desânimo diante das dificuldades dos alunos. Ao se tornarem conscientes de que essa é uma mentalidade "fixa", eles podem começar a questioná-la e a ver as possibilidades de crescimento.

  1. Enfatizar o Valor do Esforço e da Persistência: Destaque que o sucesso, tanto dos professores quanto dos alunos, não é apenas resultado de talento inato, mas sim de dedicação, trabalho árduo e estratégias eficazes. Ajude os professores a internalizarem e a aplicar a ideia de que o esforço é o que cria a inteligência e a habilidade ao longo do tempo. Ao valorizar e elogiar o processo de esforço e persistência, eles podem começar a ver os desafios não como barreiras intransponíveis, mas como oportunidades de desenvolver novas capacidades e aprimorar as existentes.
  2. Oferecer oportunidades de formação contínua focadas no desenvolvimento: Proporcione formações que abordem explicitamente os conceitos da mentalidade de crescimento. Essas formações devem oferecer ferramentas práticas para que os professores possam não apenas entender a teoria, mas também aplicá-la em sua prática pedagógica e em seu próprio desenvolvimento profissional.
  3. Criar um ambiente de apoio e colaboração: Fomente uma cultura escolar onde os professores se sintam seguros para experimentar novas abordagens pedagógicas, compartilhar suas experiências (incluindo erros e desafios) e buscar soluções em conjunto, sem medo de julgamento. Um ambiente colaborativo, onde o feedback construtivo é encorajado e a troca de saberes é valorizada, facilita a adoção de novas mentalidades e práticas.
  4. Modelar a mentalidade de crescimento através da liderança: Líderes escolares, coordenadores pedagógicos e diretores devem exemplificar a mentalidade de crescimento em suas próprias práticas e discursos. Isso significa demonstrar abertura para feedback, disposição para enfrentar desafios, assumir responsabilidades por erros e buscar constantemente o próprio aprendizado e aprimoramento.

Ao implementar essas dicas, é possível criar um ecossistema educacional que nutre a mentalidade de crescimento em todos os níveis, beneficiando não apenas o desenvolvimento profissional dos professores, mas também a experiência de aprendizado e o potencial de sucesso dos alunos.

Para que os professores desenvolvam e apliquem a mentalidade de crescimento em sua própria prática e vida profissional, a obra "Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso" de Carol Dweck oferece direcionamentos claros. Trata-se de uma jornada interna de autopercepção e mudança de comportamento, que impacta diretamente a forma como encaram os desafios, o aprendizado e o próprio desenvolvimento.

A seguir, apresento 5 dicas essenciais para que os professores possam trabalhar sua própria mentalidade de crescimento:

 

1.     Reenquadrar desafios e falhas como oportunidades de aprendizado: Em vez de ver um erro de planejamento de aula ou uma dificuldade com um aluno como um sinal de incompetência, o professor com mentalidade de crescimento os encara como valiosas oportunidades para aprender e aprimorar suas estratégias. Carol Dweck argumenta que a mentalidade de crescimento nos permite encarar os desafios não como obstáculos intransponíveis, mas como chances de crescimento pessoal e profissional. Isso significa analisar o que não funcionou, buscar novas abordagens e persistir até encontrar uma solução eficaz.

  1. Valorizar o esforço e as estratégias acima do talento inato: Professores devem cultivar a crença de que a dedicação e o uso de métodos eficazes são mais importantes para o sucesso do que uma habilidade preexistente. Ao aplicar essa perspectiva a si mesmos, eles reconhecem que seu próprio desenvolvimento profissional é um resultado direto do esforço contínuo e da busca por melhores estratégias de ensino. Elogiar o processo e não apenas os resultados finais é uma prática recomendada, e isso se aplica tanto aos alunos quanto à autoavaliação do professor.
  2. Buscar ativamente Feedback Construtivo para melhoria: Professores com mentalidade de crescimento entendem que o feedback não é uma crítica à sua identidade ou capacidade, mas uma ferramenta valiosa para identificar áreas de melhoria. Eles ativamente solicitam opiniões de colegas, alunos e gestores, utilizando essas informações para refinar suas práticas pedagógicas. A aceitação de críticas construtivas permite aos professores identificarem áreas de aprimoramento e elevar suas práticas. Essa abertura ao feedback é um pilar para o desenvolvimento profissional contínuo.
  3. Adotar a perspectiva do "Ainda Não" (Not Yet): Dweck popularizou a ideia de que, se algo não foi alcançado, é porque "ainda não" foi dominado. Para o professor, isso significa eliminar o pensamento limitante de "eu não consigo" ou "isso não é para mim". Em vez disso, a frase se torna "eu ainda não domino essa técnica de ensino" ou "eu ainda não encontrei a melhor forma de engajar todos os meus alunos". Essa simples mudança de linguagem reforça a crença na capacidade de desenvolvimento futuro, encorajando a busca por novas habilidades e conhecimentos.
  4. Cultivar uma paixão genuína pelo aprendizado contínuo: A mentalidade de crescimento incentiva uma curiosidade inesgotável e o desejo de estar sempre aprendendo, não apenas sobre a disciplina que ensinam, mas também sobre novas metodologias, neurociência da aprendizagem e gestão emocional. Para Carol Dweck, a mentalidade de crescimento se manifesta na forma como os indivíduos se engajam na busca por conhecimento e no desenvolvimento de novas competências, vendo a educação como um processo sem fim. Isso os torna não apenas educadores, mas também eternos estudantes, modelando essa paixão para seus alunos.

 

Aprofundando a discussão, a obra de Cláudia Feitosa-Santana (2021), 'Eu controlo como me sinto: como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz', revela como o entendimento do cérebro é um poderoso aliado na regulação emocional. Esse conhecimento capacita os educadores a desenvolverem estratégias eficazes para lidar com o estresse e promover o próprio bem-estar, o que se reflete em mais energia e disposição em sala de aula.

A partir das ideias da autora, sugiro dez dicas para professores gerenciarem suas emoções. Baseado nos princípios discutidos, seguem as dicas práticas para auxiliar os professores na gestão de suas emoções, visando uma atuação mais equilibrada e assertiva:

  1. Autoconhecimento: Reserve momentos regulares para refletir sobre suas emoções e identificar padrões de comportamento, entendendo o que as desencadeia.
  2. Prática de Mindfulness: Incorpore técnicas de atenção plena no seu dia a dia para aumentar a consciência do momento presente e reduzir a ansiedade. Pequenas pausas para respirar e observar podem fazer a diferença.
  3. Estabelecimento de limites: Defina claramente os limites entre sua vida profissional e pessoal para evitar a sobrecarga emocional. Aprenda a dizer "não" quando necessário e a proteger seu tempo de descanso.
  4. Desenvolvimento de empatia: Esforce-se para compreender as perspectivas e emoções dos seus alunos e colegas. A empatia fortalece os laços e promove um ambiente de respeito mútuo.
  5. Comunicação assertiva: Expresse suas necessidades e sentimentos de forma clara, direta e respeitosa, evitando conflitos desnecessários e garantindo que sua voz seja ouvida.
  6. Busca por apoio: Compartilhe suas experiências e desafios com colegas, amigos ou familiares. Criar uma rede de suporte emocional é vital para lidar com as pressões da profissão.
  7. Cuidados com a saúde física: Mantenha uma rotina de exercícios físicos regulares e uma alimentação equilibrada. O corpo e a mente estão interligados, e cuidar de um fortalece o outro.
  8. Gestão do tempo: Organize suas tarefas de forma eficiente, priorizando e delegando quando possível. Evitar o acúmulo de responsabilidades reduz significativamente o estresse.
  9. Formação contínua: Invista em cursos, workshops e leituras que ampliem seu conhecimento sobre gestão emocional e novas práticas pedagógicas. O aprendizado contínuo empodera e motiva.
  10. Prática de atividades relaxantes: Dedique tempo a hobbies e atividades que proporcionem prazer e relaxamento, como leitura, ouvir música, meditar ou passar tempo na natureza. Essas pausas são essenciais para recarregar as energias.

 

Considerações: a alquimia da Gestão Emocional na formação humana

 

A jornada da gestão emocional, desde as reações primitivas da emoção até o autodomínio da paixão, como brilhantemente delineado por Henri Wallon, revela-se não apenas um caminho de desenvolvimento pessoal, mas um pilar inquestionável para a excelência na atuação profissional, especialmente no universo educacional. A capacidade de um professor de navegar e harmonizar seu próprio universo afetivo é a bússola que orienta a qualidade de sua interação com os alunos, a resiliência diante dos desafios pedagógicos e a assertividade de sua prática.

Quando os educadores abraçam os conceitos de Carol Dweck em "Mindset", eles transformam a percepção de suas próprias capacidades. A mentalidade de crescimento permite que a gestão emocional deixe de ser vista como um traço fixo e imutável e passe a ser compreendida como uma habilidade maleável, passível de aprimoramento contínuo. Reconhecer que a capacidade de gerenciar emoções pode ser desenvolvida através de esforço, estratégias e persistência é o ponto de virada. Assim, cada frustração, cada desafio em sala de aula, cada feedback recebido torna-se uma valiosa oportunidade para calibrar o autocontrole, refinar a empatia e fortalecer a própria "paixão" Walloniana pela arte de educar.

Essa alquimia da gestão emocional, alimentada por uma mentalidade de crescimento, tem um impacto que transcende o indivíduo. Professores emocionalmente inteligentes e com uma mentalidade de crescimento não apenas modelam esses atributos em seus alunos, mas também criam ambientes de aprendizagem que são verdadeiros laboratórios de resiliência e autoeficácia. Nesses espaços, os erros são celebrados como degraus para o aprendizado, o esforço é valorizado sobre o talento inato e a colaboração floresce, transformando a sala de aula em um microcosmo de desenvolvimento humano integral.

Em suma, investir no aprimoramento da gestão emocional, alinhado aos princípios da mentalidade de crescimento, não é apenas um investimento no bem-estar individual do educador, mas um imperativo para a construção de uma educação mais rica, humana e eficaz. É a fundação para formar gerações de alunos que não apenas dominam conteúdos, mas que também possuem as ferramentas emocionais e a mentalidade adaptativa necessárias para florescer em um mundo em constante transformação. Que cada educador, ao compreender e aplicar esses princípios, se torne um farol de equilíbrio e inspiração, iluminando o caminho de seus alunos para um futuro de pleno potencial.

 

REFERÊNCIAS

 

DWECK, S.  Carol. MINDSET: a psicologia do sucesso. 1ª ed. São Paulo: Objetiva, 2017

SANTANA, Claudia Feitosa. Eu me controle como me sinto: como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz. São Paulo: Planeta, 2021

SENA, Cezar. A relação afetiva professor e aluno, revelada por seus diários. Curitiba: Appris, 2013.



[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor da EE Valêncio Soares Rodrigues; Professor universitário; Escritor; Palestrante, Host do PODSENA, Coach e Influencer digital.  Instagram: @cezar.sena

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