terça-feira, 9 de abril de 2024

Liderança inspiradora e Corresponsabilidade: O Gestor Escolar como catalisador de um clima organizacional positivo

 

Cezar Sena[1]

Resumo


Este artigo discute sobre liderança e corresponsabilidade no contexto educacional, oferecendo uma visão integrada de como esses conceitos podem ser aplicados para promover uma transformação significativa nas escolas. Através da análise de teorias modernas de gestão e liderança, bem como de exemplos práticos de sua implementação, busca-se inspirar e gestores educacionais a adotar práticas que fomentem uma cultura de excelência educacional, preparando os alunos para os desafios e oportunidades do futuro.

1. Introdução

A dinâmica contemporânea da educação demanda uma reavaliação constante das estratégias de liderança e gestão dentro das instituições de ensino. Em um mundo marcado por rápidas mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, a necessidade de lideranças educacionais capazes de inspirar, mobilizar e compartilhar responsabilidades nunca foi tão premente. Este artigo se debruça sobre a liderança inspiradora e a corresponsabilidade como pilares essenciais para a criação de ambientes educacionais transformadores, apoiando-se em fundamentações teóricas de autores como Kotter (1990), Grove (1983), Achor (2018), Duckworth (2016), Sinek (2009) e Harari (2018) e Sena (2012).

2. O papel do gestor na modulação do clima organizacional

Sena (2012) destaca a importância do clima organizacional na eficácia das instituições de ensino, apontando o gestor escolar como um elemento chave na modulação deste clima. A liderança exercida pelo gestor não se limita à administração de recursos ou à implementação de políticas educacionais; ela se estende à criação de um ambiente que favoreça o desenvolvimento profissional, o bem-estar e a motivação de toda a comunidade escolar. Ele enfatiza ainda que gestores capazes de promover um clima organizacional positivo são aqueles que praticam uma liderança participativa, transparente e baseada no diálogo, alinhando-se assim aos princípios de liderança inspiradora discutidos por Kotter (1990) e Sinek (2009).

2.1 Liderança inspiradora: além da gestão

Kotter (1990) estabelece uma distinção fundamental entre liderança e gestão, argumentando que a primeira está intrinsecamente relacionada à capacidade de lidar com mudanças, enquanto a segunda foca na complexidade operacional. No contexto educacional, essa diferenciação é crucial. A liderança inspiradora envolve a criação de uma visão de futuro que mobilize e engaje toda a comunidade escolar em um propósito comum. Exemplos notáveis incluem diretores que transformaram escolas em declínio em comunidades de aprendizagem vibrantes, ao estabelecerem uma visão clara e ao inspirarem professores, alunos e pais a trabalharem juntos em prol de objetivos educacionais ambiciosos.

2.2 Corresponsabilidade: a força do coletivo

Achor (2018) amplia a compreensão sobre o potencial coletivo em "Grande Potencial", argumentando que o sucesso é mais significativo e alcançável quando buscado coletivamente. No ambiente escolar, isso se traduz na promoção de uma cultura de corresponsabilidade, onde cada membro da comunidade educacional se vê como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem. Um exemplo prático dessa abordagem pode ser observado em escolas que implementaram programas de tutoria entre alunos, onde os mais velhos ajudam os mais novos, promovendo um senso de comunidade e responsabilidade compartilhada pelo sucesso educacional.

2.3 Estratégias para implementação

2.3.1 Comunicando o Propósito

Simon Sinek (2009), em "Comece pelo Porquê", enfatiza a importância de líderes comunicarem claramente o propósito de suas ações. No contexto educacional, isso significa que diretores devem ser capazes de articular não apenas o que a escola faz, mas porque faz o que faz. Isso cria um senso de propósito compartilhado, essencial para a mobilização e engajamento da comunidade escolar. Uma escola que adota práticas sustentáveis, por exemplo, deve comunicar não apenas as ações que está implementando, mas também porque a sustentabilidade é importante para a formação dos alunos e para o futuro do planeta.

2.3.2 Desenvolvimento Profissional Contínuo

Grove (1983), em "Gestão de Alta Performance", destaca a importância do desenvolvimento contínuo da equipe para o alcance de alta performance. No ambiente escolar, isso se traduz em investimentos constantes na formação continuada dos professores, não apenas em suas disciplinas específicas, mas também em metodologias de ensino inovadoras e práticas pedagógicas inclusivas. Exemplos incluem a implementação de programas de desenvolvimento profissional que oferecem aos professores oportunidades de aprendizado contínuo, tanto dentro quanto fora da instituição.

3. Liderança transformadora e Corresponsabilidade na perspectiva de Dale Carnegie

De acordo com Carnegie (2011), o conceito de liderança transformadora e corresponsabilidade no ambiente escolar sugere uma abordagem mais humanizada e relacional da gestão. Reconhece-se que o sucesso educacional não depende apenas de estratégias pedagógicas ou administrativas eficientes, mas também da capacidade do gestor de cultivar relações positivas, baseadas na empatia, no diálogo aberto e no reconhecimento mútuo.

3.1 Estratégias Práticas a partir da visão de Dale Carnegie

·         Diálogos Empáticos: Promover reuniões regulares onde alunos, professores e pais possam expressar suas opiniões e preocupações, garantindo que se sintam ouvidos e compreendidos.

·      Reconhecimento Público: Implementar cerimônias de reconhecimento para celebrar as conquistas acadêmicas e extracurriculares, reforçando a importância de cada contribuição para o sucesso da comunidade escolar.

·       Comunicação Inspiradora: Utilizar todos os canais de comunicação disponíveis (reuniões, boletins informativos, redes sociais) para compartilhar histórias de sucesso, desafios superados e metas alcançadas, inspirando toda a comunidade escolar a se engajar e contribuir para os objetivos comuns.

Portando, a liderança transformadora e a corresponsabilidade no ambiente escolar, enriquecidas pelas contribuições de Dale Carnegie, oferecem uma visão abrangente do papel do gestor como um líder empático, comunicador eficaz e motivador. Ao integrar essas estratégias ao seu repertório, gestores escolares podem não apenas induzir mudanças positivas no clima organizacional, mas também inspirar professores, alunos e pais a superarem-se continuamente, contribuindo para a criação de uma comunidade de aprendizagem coesa, motivada e resiliente.

4. Considerações finais

A liderança inspiradora e a corresponsabilidade emergem como elementos cruciais para o sucesso e a transformação no ambiente educacional. Líderes que conseguem articular uma visão clara, comunicar o propósito de suas ações e mobilizar todos os membros da comunidade escolar em direção a objetivos comuns têm o potencial de criar ambientes de aprendizagem que não apenas respondem aos desafios contemporâneos, mas também preparam os alunos para serem cidadãos ativos e responsáveis no século XXI. A integração das teorias e estratégias discutidas por Kotter, Grove, Achor, Duckworth, Sinek e Harari oferece um caminho promissor para diretores e gestores educacionais que buscam promover uma educação de qualidade, centrada na liderança inspiradora e na corresponsabilidade.

Referências

ACHOR, Shawn. Grande Potencial. São Paulo: Benvirá. 2018

CARNEGIE, Dale. Liderança: como superar-se e desafiar os outros a fazer o mesmo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011.

DUCKWORTH, Angela. Garra: O poder da paixão e da perseverança. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2016.

GROVE, Andrew. S. Gestão de Alta Performance. São Paulo, Benvirá. 2020

HARARI, Yuval. Noah. 21 Lições para o Século 21. São Paulo: Editora Companhia das Letras. 2018.

KOTTER, John. P. Afinal, o que fazem os líderes? Rio de Janeiro: Campus, 2000.

SENA, Clério Cezar Batista (2012). Clima Organizacional Escolar: O Gestor como Indutor de Mudança. Universidade de São Paulo (TCC).

SINEK, Simon. Comece pelo Porquê: Como grandes líderes inspiram ação. Rio de Janeiro: Sextante. 2018. 



[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de Escola Pública; Professor universitário; Escritor; Palestrante e blogueiro.  Insta: @cezar.sena

A ENGRENAGEM DEMOCRÁTICA: AS FUNÇÕES DO VEREADOR NA PERSPECTIVA DA FRATERNIDADE

 

Cezar Sena[1]


INTRODUÇÃO

 

A máxima de que política, religião e futebol não se discutem tem permeado o senso comum brasileiro por gerações. Contudo, essa premissa, longe de promover a harmonia, contribui para a manutenção do status quo, limitando o debate público e a renovação das esferas de poder. É essencial, portanto, refutar essa ideia, especialmente no que tange ao processo político municipal, onde a participação cidadã é crucial para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e representativa

 

A política, longe de ser um tabu, é o motor de transformação das sociedades. Este artigo, ao discutir as funções essenciais de um vereador comprometido com o bem comum e a democracia, busca não apenas esclarecer seu papel, mas também fundamentá-lo em referenciais teóricos de expressão e campos ideológicos distintos. A partir das contribuições de Igino Giordani, político italiano, do ex-presidente americano Barack Obama, em sua obra "Uma Terra Prometida", Chiara Lubich, Fundadora do Movimento dos Focolares e do MPPU Movimento Político Pela Unidade e do emblemático político brasileiro Ulisses Guimarães, proponho algumas reflexões que valoriza a participação cívica e a responsabilidade política.

 

Para melhor compreensão das ideias a seguir, creio ser importante contextualizar o MPPU – que é o Movimento Político Pela Unidade. Esse movimento tem suas raízes na história e no carisma da unidade, de Chiara Lubich. Entre as primeiras e exemplares testemunhas no âmbito político, o MPPU conta Igino Giordani, uma das grandes figuras do século XX na Itália, membro da Assembleia Constituinte e deputado na Câmera dos Deputados na primeira legislatura. Oficialmente o MPPU foi fundado no dia 2 de maio de 1996, em Nápoles (Itália), por ocasião de um encontro entre Chiara Lubich e um grupo de políticos de diferentes funções e referências culturais. Hoje o Movimento está difundido na Itália e em diversos países da Europa, da América do Sul e da Ásia.

 

De acordo com Movimento dos Focolares[2] o Movimento Político pela Unidade é um laboratório internacional de trabalho político feito em comum, entre políticos eleitos nos vários níveis institucionais ou militantes em partidos e movimentos políticos diversificados, diplomatas, funcionários públicos, estudiosos de ciências políticas, cidadãos ativos, jovens que se interessam pela vida da própria cidade e pelas grandes questões mundiais, e todos os que desejam exercitar o próprio direito-dever de contribuir ao bem comum.

 

FUNÇÕES DOS VEREADORES NA PERSPECTIVA DA FRATERNIDADE

 

Para melhor compreensão dos papeis e funções de um legislador municipal nesta engrenagem democrática, pontuo cinco funções essenciais de um vereador. É imprescindível focar no processo democrático como um mecanismo vivo e dinâmico, que não apenas sustenta, mas também é sustentado pela participação ativa e consciente tanto dos representantes quanto dos representados. Essas funções, portanto, transcendem o escopo tradicional de responsabilidades legislativas e de fiscalização, enraizando-se profundamente na missão de cultivar novas lideranças comprometidas com o bem comum, a fraternidade e a justiça social. Este compromisso se manifesta nas seguintes dimensões:

 

·         Legislar com foco no interesse público

O político italiano Igino Giordani, enfatiza a necessidade de uma política que transcenda o individualismo, promovendo o bem comum. Nas ideias de Giordani, um vereador deve legislar visando a unidade e a fraternidade dentro da comunidade, refletindo um compromisso com a justiça social e a paz. Essa visão ressoa na função legislativa do vereador, que deve buscar, através de suas propostas, a harmonia e o desenvolvimento coletivo.

 

·         Fiscalizar o executivo com rigor

Já o ex-presidente americano Barack Obama, em sua obra "Uma Terra Prometida", destaca a importância da transparência e da responsabilidade na gestão pública. A fiscalização rigorosa do executivo, segundo Obama, é fundamental para manter a confiança na democracia e assegurar que o governo sirva ao povo. Assim, a atuação do vereador como fiscal do executivo espelha esse princípio, garantindo que os recursos públicos sejam usados em benefício da comunidade.

 

·         Representar os interesses da comunidade

Ulisses Guimarães, conhecido como o "Senhor Diretas", foi um defensor incansável da democracia e da representatividade política no Brasil. Para Guimarães, representar significava ouvir e incorporar as vozes de todos, especialmente dos mais vulneráveis, na formulação das políticas públicas. Inspirados por sua dedicação, vereadores devem se empenhar em ser verdadeiros representantes dos interesses da comunidade, garantindo que todas as vozes sejam ouvidas e consideradas.

 

·         Mediar conflitos e promover o diálogo

O Movimento Político Pela Unidade (MPPU), propõe a política como meio de construir pontes e promover o entendimento mútuo. Nesse sentido, o vereador tem a função vital de mediar conflitos, facilitando o diálogo entre diferentes grupos e interesses dentro da comunidade, buscando sempre soluções que promovam a unidade e o bem comum.

 

·         Incentivar a participação cidadã e a educação política

Obama, em sua obra, ressalta a importância da participação cidadã para a vitalidade da democracia. Ele vê na educação política não apenas um direito, mas uma ferramenta essencial para empoderar os cidadãos a tomar parte ativa no destino de sua comunidade e país. Assim, o vereador deve ser um promotor da educação política, incentivando a participação ativa e informada dos cidadãos nos processos democráticos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao refletirmos sobre as funções essenciais de um vereador no contexto do fortalecimento da democracia municipal, invoco a visão inspiradora de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que via na política "o amor dos amores". Chiaraa Lubich, com sua perspectiva inovadora, entendia a política não apenas como uma arena de disputas pelo poder, mas como uma expressão sublime do amor ao próximo, onde o bem comum é o objetivo supremo.

 

Incorporando essa visão a reflexão, as funções de legislar, fiscalizar, representar, mediar e educar transcendem suas descrições técnicas. Elas se transformam em manifestações de amor, em que cada ação do vereador deve ser impulsionada pelo desejo genuíno de servir a comunidade e promover o bem-estar de todos. Essa abordagem eleva a política a uma dimensão mais elevada, em que a busca pela justiça, pela paz e pela unidade é, na verdade, uma expressão de amor em ação.

 

Ao legislar, o vereador está servindo ao criar condições para uma sociedade mais justa. Ao fiscalizar, expressa amor ao garantir que os recursos públicos sejam utilizados para o bem de todos. Representar é amar ao dar voz às necessidades e esperanças da comunidade. Mediar conflitos é um ato de amor que busca harmonizar as diferenças em prol do bem comum. E, por fim, incentivar a participação cidadã e a educação política é uma forma de amar, ao empoderar cada cidadão a ser um agente ativo na construção de uma comunidade mais fraterna e solidária.

 

Portanto, ao considerarmos a atuação do vereador à luz dos ensinamentos de Igino Giordani, Barack Obama, Ulisses Guimarães e Chiara Lubich, percebe-se que a política, em sua essência, é uma vocação ao amor. É esse amor, profundo e abrangente, que deve guiar os vereadores em suas funções, transformando a gestão municipal em um verdadeiro serviço ao próximo. Assim, a política se revela não apenas como o cenário de exercício do poder, mas como um campo fértil para a prática da fraternidade, onde cada decisão, cada lei e cada ação podem ser atos de cuidado e dedicação ao bem-estar coletivo.



[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de Escola Pública; Professor universitário; Escritor; Palestrante e blogueiro.  Insta: @cezar.sena

[2] Disponível em: https://www.focolare.org/pt/em-dialogo/cultura/politica/ Acesso em 09/04/2024

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