Cezar Sena[1]
INTRODUÇÃO
A máxima de que política, religião e
futebol não se discutem tem permeado o senso comum brasileiro por gerações.
Contudo, essa premissa, longe de promover a harmonia, contribui para a
manutenção do status quo, limitando o debate público e a renovação das esferas
de poder. É essencial, portanto, refutar essa ideia, especialmente no que tange
ao processo político municipal, onde a participação cidadã é crucial para a
construção de uma sociedade mais justa, equitativa e representativa
A política, longe de ser um tabu, é o
motor de transformação das sociedades. Este artigo, ao discutir as funções
essenciais de um vereador comprometido com o bem comum e a democracia, busca
não apenas esclarecer seu papel, mas também fundamentá-lo em referenciais
teóricos de expressão e campos ideológicos distintos. A partir das
contribuições de Igino Giordani, político italiano, do ex-presidente
americano Barack Obama, em sua obra "Uma Terra Prometida", Chiara
Lubich, Fundadora do Movimento dos Focolares e do MPPU Movimento Político
Pela Unidade e do emblemático político brasileiro Ulisses Guimarães, proponho
algumas reflexões que valoriza a participação cívica e a responsabilidade
política.
Para melhor compreensão das ideias a
seguir, creio ser importante contextualizar o MPPU – que é o Movimento Político
Pela Unidade. Esse movimento tem suas raízes na história e no carisma da
unidade, de Chiara Lubich. Entre as primeiras e exemplares testemunhas no
âmbito político, o MPPU conta Igino Giordani, uma das grandes figuras do século
XX na Itália, membro da Assembleia Constituinte e deputado na Câmera dos
Deputados na primeira legislatura. Oficialmente o MPPU foi fundado no dia 2 de
maio de 1996, em Nápoles (Itália), por ocasião de um encontro entre Chiara
Lubich e um grupo de políticos de diferentes funções e referências culturais. Hoje
o Movimento está difundido na Itália e em diversos países da Europa, da América
do Sul e da Ásia.
De acordo com Movimento dos Focolares[2] o Movimento Político pela
Unidade é um laboratório internacional de trabalho político feito em comum,
entre políticos eleitos nos vários níveis institucionais ou militantes em
partidos e movimentos políticos diversificados, diplomatas, funcionários
públicos, estudiosos de ciências políticas, cidadãos ativos, jovens que se
interessam pela vida da própria cidade e pelas grandes questões mundiais, e
todos os que desejam exercitar o próprio direito-dever de contribuir ao bem
comum.
FUNÇÕES DOS VEREADORES NA
PERSPECTIVA DA FRATERNIDADE
Para melhor compreensão dos papeis e
funções de um legislador municipal nesta engrenagem democrática, pontuo cinco
funções essenciais de um vereador. É imprescindível focar no processo
democrático como um mecanismo vivo e dinâmico, que não apenas sustenta, mas
também é sustentado pela participação ativa e consciente tanto dos
representantes quanto dos representados. Essas funções, portanto, transcendem o
escopo tradicional de responsabilidades legislativas e de fiscalização,
enraizando-se profundamente na missão de cultivar novas lideranças
comprometidas com o bem comum, a fraternidade e a justiça social. Este
compromisso se manifesta nas seguintes dimensões:
·
Legislar com foco no interesse público
O
político italiano Igino Giordani, enfatiza a necessidade de uma política que
transcenda o individualismo, promovendo o bem comum. Nas ideias de Giordani, um
vereador deve legislar visando a unidade e a fraternidade dentro da comunidade,
refletindo um compromisso com a justiça social e a paz. Essa visão ressoa na
função legislativa do vereador, que deve buscar, através de suas propostas, a
harmonia e o desenvolvimento coletivo.
·
Fiscalizar o executivo com rigor
Já o
ex-presidente americano Barack Obama, em sua obra "Uma Terra
Prometida", destaca a importância da transparência e da responsabilidade
na gestão pública. A fiscalização rigorosa do executivo, segundo Obama, é
fundamental para manter a confiança na democracia e assegurar que o governo
sirva ao povo. Assim, a atuação do vereador como fiscal do executivo espelha
esse princípio, garantindo que os recursos públicos sejam usados em benefício
da comunidade.
·
Representar os interesses da comunidade
Ulisses
Guimarães, conhecido como o "Senhor Diretas", foi um defensor
incansável da democracia e da representatividade política no Brasil. Para
Guimarães, representar significava ouvir e incorporar as vozes de todos,
especialmente dos mais vulneráveis, na formulação das políticas públicas.
Inspirados por sua dedicação, vereadores devem se empenhar em ser verdadeiros
representantes dos interesses da comunidade, garantindo que todas as vozes
sejam ouvidas e consideradas.
·
Mediar conflitos e promover o diálogo
O Movimento
Político Pela Unidade (MPPU), propõe a política como meio de construir pontes e
promover o entendimento mútuo. Nesse sentido, o vereador tem a função vital de
mediar conflitos, facilitando o diálogo entre diferentes grupos e interesses
dentro da comunidade, buscando sempre soluções que promovam a unidade e o bem
comum.
·
Incentivar a participação cidadã e a educação
política
Obama,
em sua obra, ressalta a importância da participação cidadã para a vitalidade da
democracia. Ele vê na educação política não apenas um direito, mas uma
ferramenta essencial para empoderar os cidadãos a tomar parte ativa no destino
de sua comunidade e país. Assim, o vereador deve ser um promotor da educação
política, incentivando a participação ativa e informada dos cidadãos nos
processos democráticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletirmos sobre as funções essenciais
de um vereador no contexto do fortalecimento da democracia municipal, invoco a
visão inspiradora de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que
via na política "o amor dos amores". Chiaraa Lubich, com sua
perspectiva inovadora, entendia a política não apenas como uma arena de
disputas pelo poder, mas como uma expressão sublime do amor ao próximo, onde o
bem comum é o objetivo supremo.
Incorporando essa visão a reflexão, as
funções de legislar, fiscalizar, representar, mediar e educar transcendem
suas descrições técnicas. Elas se transformam em manifestações de amor, em que
cada ação do vereador deve ser impulsionada pelo desejo genuíno de servir a
comunidade e promover o bem-estar de todos. Essa abordagem eleva a política a
uma dimensão mais elevada, em que a busca pela justiça, pela paz e pela unidade
é, na verdade, uma expressão de amor em ação.
Ao legislar, o vereador está
servindo ao criar condições para uma sociedade mais justa. Ao fiscalizar,
expressa amor ao garantir que os recursos públicos sejam utilizados para o bem
de todos. Representar é amar ao dar voz às necessidades e esperanças da
comunidade. Mediar conflitos é um ato de amor que busca harmonizar as
diferenças em prol do bem comum. E, por fim, incentivar a participação cidadã e
a educação política é uma forma de amar, ao empoderar cada cidadão a ser
um agente ativo na construção de uma comunidade mais fraterna e solidária.
Portanto, ao considerarmos a atuação do
vereador à luz dos ensinamentos de Igino Giordani, Barack Obama, Ulisses
Guimarães e Chiara Lubich, percebe-se que a política, em sua essência, é uma
vocação ao amor. É esse amor, profundo e abrangente, que deve guiar os
vereadores em suas funções, transformando a gestão municipal em um verdadeiro
serviço ao próximo. Assim, a política se revela não apenas como o cenário de
exercício do poder, mas como um campo fértil para a prática da fraternidade,
onde cada decisão, cada lei e cada ação podem ser atos de cuidado e dedicação
ao bem-estar coletivo.
[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em
Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo;
Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de Escola Pública; Professor universitário;
Escritor; Palestrante e blogueiro.
Insta: @cezar.sena
[2] Disponível
em: https://www.focolare.org/pt/em-dialogo/cultura/politica/
Acesso em 09/04/2024
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