Cezar
Sena
[1]
Cheguei
a meio século de vida. E como amanheceu o dia hoje? Nublado, chuvoso, bom para ficar
quietinho, lendo um bom livro, ouvindo música e tomando um vinho como costumo
fazer às vezes. No entanto o dia amanheceu com todos os outros dias,
independentemente da minha vontade. Imaginei tanto essa data como se fosse um
evento mágico, transformador e cabalístico. Decepcionado? Não! Mas estou mais
reflexivo, nostálgico, procurando alguns sinais dessa maturidade que o tempo
nos possibilita.
Minha
mente viajou imaginando as várias possibilidades de escrever a respeito desta
data tão aguardada e simbólica para mim. Sim! Estava ansioso para completar 50
anos. Penso que a maior novidade deste momento foi assumir a identidade de
escritor como estratégia de transição – aposentaria. Ela sempre esteve por
aqui, quase sempre abafei, ora por falta de tempo, ora por não acreditar no
potencial. Trago a memória, o primeiro livro escrito datilografado e ilustrado
por mim quando tinha 15 anos “Grilos de adolescentes”. E agora quais são os
“grilos” do cinquentão? Confesso que ainda carrego comigo alguns daqueles
“grilos”: medo de ser rejeitado, não ser bom o suficiente, de decepcionar as
pessoas que amo etc.
Pensei
em escrever uma lista de 50 motivos de gratidão pelos 50 anos. Mas achei a
ideia cafona. Talvez não seja tão cafona assim. A verdade que não conseguir
encontrar 50 motivos extraordinários para compartilhar, por isso desistir. Mas
veio à mente várias cenas que marcaram minha vida (infância, juventude e vida
adulta). E uma sensação de GRATIDÃO invade minha alma. Foram tantas conquistas
não imaginadas, tanto no campo pessoal, quanto profissional. Mas do alto dos 50
anos, percebi que os fatos marcantes, foram os mais simples, despretensiosos,
vividos no momento presente. Não vou cansar o leitor com os 50 motivos (embora
tenha feito uma boa lista), mas compartilho um episódio determinante, de luta
pela sobrevivência com determinação e fé, características que me define.
Nasci
em 18/10/1972 em Jucuruçu (cidadezinha no Extremo Sul da Bahia, hoje com 10 mil
habitantes). Minha mãe relata que por volta dos 6 meses, tive desnutrição
infantil, por não conseguir alimentar e não “pegar o leite de peito”, o que levou
a perda de peso, fiquei só cabeça, pele e osso, chegando a “morrer” 03 vezes, até
colocaram vela na mão e tudo (tradição baiana colocar vela na mão dos defuntos).
Mas enquanto todos estavam chorando, voltei a respirar a vida recomeçou.
O milagre ocorreu! E de lá para cá presenciei pequenos “milagres” cotidianos. Devido
a desnutrição, fui andar com 1 ano e 7 meses. Entende agora por que sou
teimoso, determinado e resiliente? Tive que aprender a lutar pela vida desde
muito cedo.
A
vida é uma DÁDIVA que não devemos desperdiçar com reclamações, medos ou
lamentando os defeitos. Com a metade da vida – já descendo a
curva, percebo que o essencial é VIVER O MOMENTO PRESENTE, desapegado da
ideia infantil de querer agradar todos, do medo de ser rejeitado, de errar. A
maturidade nos traz autoconhecimento, que nos leva reconhecer as
fragilidades de maneira positiva e sincera. Que venha mais desafios! Estou
pronto para esta nova etapa/ciclo. Ligando o motor 5.0. Mas daqui para frente,
sem muita pressa, quero apreciar mais a paisagem do que a chegada.
Vargem
Grande Paulista, SP. 18 de outubro de 2022.
[1]
Professor, Escritor, Diretor de escola. Mestre em Educação, Neuropsicopedagogo,
Psicopedagogo e Pedagogo. @cezar.sena
Nossa Cezar, você que aniversaria e eu que recebo esse presentão dessa "baita" reflexão sobre seus 50 anos de vida. Obrigado a Deus pelo dom da sua vida. (Olavo - Londrina
ResponderExcluirMuito obrigado pelo feedback Olavo! Sua opinião é muito importante para mim.
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