quarta-feira, 14 de setembro de 2022

 

EDUCAÇÃO ESPECIAL X EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Cezar Sena[1]

Desde a promulgação da Constituição de 1988, independentemente da sua condição, TODOS os brasileiros têm direito a educação. Em 1996, com base nos princípios constitucionais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) definiu e regularizou a organização do sistema educacional brasileiro, sendo que a oferta do direito à educação deve ocorrer preferencialmente em classes regulares.

Apesar de já terem se passado mais de trinta anos desde a promulgação da Constituição, ainda estamos discutindo o acesso e a permanência nas escolas de pessoas com deficiências, transtornos ou síndromes. A lei garante a matrícula, mas não garante a APRENDIZAGEM. O fato é que o sistema educacional brasileiro continua sem atender efetivamente todos os alunos, e aqueles da Educação Especial são os mais prejudicados. A pandemia de Covid-19 evidenciou ainda mais esse problema.

            É importante esclarecer que Educação Especial é uma MODALIDADE DE ENSINO, como a Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena, Educação à Distância etc. Modalidade, nesse contexto, refere-se aos modos e procedimentos institucionais e pedagógicos utilizados para garantir a aprendizagem de todas as pessoas de um determinado público-alvo. As modalidades perpassam todos os níveis de Ensino – desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, pois os procedimentos pedagógicos para atendimento de crianças indígenas ou de crianças com deficiência são diferentes, devendo-se moldar às necessidades de cada grupo.

Já a Educação Inclusiva é uma CONCEPÇÃO DE ENSINO. É acreditar que, apesar das diferenças e deficiências, TODOS são capazes de aprender, desde que se encontre um educador capaz de ensinar. Este educador precisa oferecer oportunidades para o desenvolvimento das potencialidades de cada educando, a partir das suas especificidades. Sociedades e escolas INCLUSIVAS são aquelas que respeitam e valorizam as diferenças; que não colocam obstáculos para o atendimento; e, acima de tudo, que acolhem com dignidade e respeito.

            No entanto, sabemos que a realidade não acompanha a teoria. Tanto a escola quanto a sociedade continuam com dificuldades de oferecer uma educação de qualidade para todos. Além disso, apesar de uma acentuada melhora nos discursos, o preconceito ainda é uma questão presente, estrutural. As práticas no dia a dia divergem dos discursos e legislações.

Precisamos parar de procurar culpados, dizendo que as escolas não estão preparadas para receber as pessoas com deficiências, transtornos ou síndromes, que o professor não teve formação adequada etc. Pergunto: os pais dessas crianças estavam preparados para recebê-los? Em tese o professor está mais preparado do que os pais: ele fez uma licenciatura, é um profissional da educação, aceitou o contrato de trabalho. Ao assumir uma sala de aula, ele assume os desafios e a responsabilidade de ensinar a todos seus alunos.

Nós, educadores, precisamos de menos reclamação e mais ação. Necessitamos sair da zona de conforto, das desculpas e parar de dizer que não estamos preparados para lidar com a situação. Não serão apenas os cursos de especialização que nos darão a preparação, mas sim a abertura para o outro, a compreensão de que, antes da deficiência, transtorno ou síndrome, existe uma pessoa humana que merece nosso respeito, acolhimento e profissionalismo. Assim, quando família, escola e órgão de proteção trabalham juntas, inicia o processo de efetivo de Educação Inclusiva.

 

Publicado no jornal da ACE - Ano XIV- Nº 150 - Setembro/2022



[1] Mestre em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Diretor de Escola Estadual e Prof. Universitário. Instagram: @cezar.sena / YouTube: Cezar Sena

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