Cezar Sena[2]
RESUMO
O artigo "Educação
Especial: Acolher, Incluir e Promover Protagonismo" destaca a importância
de uma abordagem inclusiva na educação, focando no acolhimento, na inclusão
efetiva e no desenvolvimento do protagonismo dos alunos. Como diretor da Escola
Estadual Valêncio Soares Rodrigues, Cezar Sena compartilha as experiências ao
implementar práticas que beneficiam alunos da educação especial. A escola busca
criar um ambiente de aprendizado acolhedor e colaborativo, onde as
individualidades são respeitadas e potencializadas. Iniciativas como a
transição planejada de novos alunos, o uso de relatórios pedagógicos detalhados
e a implementação do programa de Alunos Embaixadores de Tecnologia são exemplos
de esforços que resultam em maior autonomia e melhor desempenho escolar. A
abordagem reflete um compromisso contínuo com uma educação transformadora e
inclusiva.
INTRODUÇÃO
Como diretor da Escola
Estadual Valêncio Soares Rodrigues, tenho observado de perto os desafios e as
recompensas de implementar uma educação para todos e com todos. Um trabalho árduo,
feito com várias mãos, resultado de um trabalho de equipe: profissionais da
escola em parceria com as famílias dos alunos elegíveis da educação especial. Acredito
que a escola deve ser um espaço onde acolhemos, incluímos e promovemos o
protagonismo de cada estudante. Neste artigo de opinião, compartilho nossas
experiências e as práticas que adotamos em nossa escola para oportunizar uma
educação pública de qualidade para todos, conforme preconiza as legislações.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Ao longo dos anos,
percebi que a relação entre professores e alunos é fundamental para criar um
ambiente acolhedor. De acordo com Sena (2013:39) as relações afetivas positivas
são determinantes para o sucesso dos alunos. “As relações afetivas promotoras
de bem-estar podem contribuir para a melhoria do desempenho do aluno”. Assim o
acolhimento é uma ação primordial para o desenvolvimento de um clima escolar favorável
a aprendizagem. Sabendo que o ambiente influencia diretamente a aprendizagem,
como aponta Corey (2015), nos esforçamos para tornar nossa escola um espaço
onde cada aluno se sinta parte de uma comunidade que valoriza sua
individualidade, evidenciando suas potencialidades em detrimento as
fragilidades.
Quando os alunos se
sentem acolhidos, respeitados e pertencentes ao espaço, de fato a inclusão
escolar acontece. Para Mantoan (2006), inclusão é mais do que integrar alunos
com necessidades especiais em salas regulares, mas garantir que todos os alunos
possam participar ativamente do processo educacional aprendendo o que precisa
ser aprendido. Segundo a autora, a verdadeira inclusão só ocorre quando há
aprendizagem efetiva.
Na obra Educação um
tesouro a descobrir, Delors (2001) nos inspira a ver a educação como um
tesouro, incentivando cada aluno a explorar seu potencial máximo. “A educação
tem por missão por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da
espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das
semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta”
(p.97).
Peter Senge (2005) aponta
que as escolas devem ser ambientes de aprendizagem contínua. Em nossa escola,
isso se manifesta através de práticas que incentivam a colaboração e o
protagonismo dos alunos.
Uma
sala de aula aprendente requer métodos e infraestrutura que possibilitem que
todos fomentem o sucesso uns dos outros de forma deliberada. Isso significa
concentrar-se em mudar as maneiras como as pessoas pensam e interagem e
reconhecer que os estudantes aprendem de formas múltiplas e que suas
capacidades não são fixadas no momento do nascimento. Nessa classe (escola), os
estudantes reconhecem que parte do seu propósito é certificar-se de que todos
tenham sucesso (SENGER, 2025:72).
Portanto, o protagonismo sênior e a
liderança do diretor são fundamentais para assegurar um clima escolar positivo
e propício à aprendizagem de todos os alunos. Além disso, garantem que todos os
membros envolvidos no processo educacional cumpram suas funções e
responsabilidades em prol de um projeto coletivo e colaborativo, centrado no
aprendizado dos alunos. Nesse contexto,
a
ação do diretor, não é apenas uma ação política ou ideológica, nem unicamente
uma necessidade técnica ou administrativa, mas uma questão científica
pedagógica, exigindo do diretor uma nova postura de liderança, pois, num certo
sentido, é no âmbito do espaço escolar que todos os outros níveis de estudos e
intervenção devem ser empreendidos. Diante de uma realidade essencialmente
dinâmica e de conflito, a preocupação em se administrar passa a ser, sobretudo,
com a integração num contexto altamente diferenciado e com o controle da ação
coletiva (SENA, 2012).
RELATO
DE EXPERIÊNCIA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA.
Ação
1: Acolhimento e Transição de Alunos
Anualmente no final do
ano, os alunos do 5º ano das escolas municipais vizinhas, vem conhecer sua
futura escola, passando uma manhã conosco. Esta ação, se tornou uma prática
essencial, já algum tempo. Planejamos cuidadosamente cada detalhe para garantir
que os alunos se sentissem acolhidos e compreendessem a dinâmica da escola de
Ensino Integral de 9 horas.
Ao chegarem no dia da
visita agendada, eram recebidos pelo time de alunos acolhedores e pela equipe
gestora. Os acolhedores apresentavam todos os espaços da escola e suas
funcionalidades, além dos profissionais e suas funções. Era emocionante ver a
alegria nos rostos dos alunos enquanto exploravam sua futura escola, encantados
com os espaços, equipamentos e dinâmica. A ação se mostrou determinante para o
bom desempenho dos alunos no 6º ano.
Ação
2: Educação Especial: relatórios pedagógicos
A educação especial
sempre foi uma prioridade para nós. Trabalhamos em colaboração com a Secretaria
Municipal de Educação de Vargem Grande Paulista para entender as necessidades
específicas de cada aluno que receberíamos no ano seguinte. Ao final de cada
ano letivo a Secretaria nos enviam relatórios pedagógicos dos alunos com
dificuldades de aprendizagem dos elegíveis da Educação Especial (com ou sem
laudos). Essa ação é de muita importância para o nosso Planejamento anual. Com
os relatórios em mãos, nossa equipe pedagógica analisava e preparava as ações,
tais como:
2.1 Reunião
individual com os responsáveis dos alunos da Educação Especial. Relato o
caso da mãe de um aluno (Deficiência Intelectual). A mãe estava muito ansiosa,
angustiada e com muito medo dessa transição, pois o filho além das dificuldades
de aprendizagem tinha dificuldades de locomoção e ela estava receosa que os
outros alunos machucassem seu filho. Queria que eu garantisse a segurança do
seu filho, que nada iria acontecer com ele, além de profissionais exclusivos para
cuidar dele, inclusive dentro da sala de aula, como tinha na rede municipal.
Após a escuta, informei que compreendia sua preocupação, mas não poderia
atender suas expectativas. Informava os serviços disponível da Rede Estadual e
a leitura do Relatório enviado secretaria de educação, que no caso do seu
filho, não apontava a necessidade de todos os apoios que solicitava da nossa
escola. O laudo não determinava o tipo de apoio. Por fim, solicitei que
confiasse no nosso trabalho e que trabalhássemos em parceria, que deveria
permitir que o seu filho desenvolvesse sua autonomia. Após a conversa,
combinamos que o aluno sairia mais cedo, até adaptar às 9h na escola. O que
ocorreu antes do combinado. O aluno praticamente não necessita de apoio,
aprendeu a solicitar suas demandas, se comunicar com todos na escola, se
desenvolvendo a cada dia. Ver o progresso desse aluno, está sendo uma experiência
gratificante para toda nossa equipe.
2.2. Orientações aos
professores. Após a análise dos relatórios, a equipe pedagógica juntamente
com o professor colaborativo, de apoio e da Sala de recursos, preparava
orientações para os professores, tanto individualmente, quanto nos ATPC (Aula
de Trabalho Pedagógico Coletivo). Uma outra experiencia exitosa foi o caos de
uma aluna com TEA (Transtorno do Espectro Autismo), que antes dessas formações e
orientações não parava na sala de aula e só queria pintar as “CONÍFERAS”. Após
os alinhamentos, elaboração de planos de aulas e presença da professora de
apoio, o avanço pedagógico da aluna foi impressionante, parou de pedir
coníferas, permaneceu na sala de aula e começou a realizar todas a atividades
propostas. Se adaptou muito bem com as atividades das plataformas digitais,
realizando todas. Ficou encantada com o MATIFIC. Os alunos embaixadores de
tecnologia sempre ajudavam com o uso do tablet e notebook no início. Hoje ela
já desenvolveu sua autonomia e só avança na sua aprendizagem.
Ação
3: Alunos Embaixadores de Tecnologia
Uma das iniciativas
mais inovadoras que adotamos foi a criação do programa de alunos embaixadores
de tecnologia. Identificamos e treinamos alunos com habilidades tecnológicas
para auxiliar seus colegas e professores. Suas principais atribuições eram:
3.1 Organizar os
tablets e notebook, conferir se as quantidades que iam para sala retornavam.
Colocar para carregar e ajudar na limpeza dos aplicativos de jogos que os
alunos baixavam;
3.2 Auxiliar na
logística de organização da sala para a realização da PROVA PAULISTA e nas
aulas de mutirão para contemplarem as PLATAFORMA DIGITAIS
3.3 Auxiliar os
professores na organização das mídias: conectar TV, notebooks, datashow.
Foi incrível ver como
esses alunos não só facilitavam o uso dos recursos digitais, mas também se
tornavam verdadeiros líderes dentro da escola. A melhoria no desempenho
acadêmico e a redução da indisciplina foram evidentes, e fiquei especialmente
orgulhoso de ver como os alunos se sentiam valorizados e engajados.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Refletindo sobre essas
experiências, estou convencido de que quando a escola se compromete de forma
organizada e coletiva, é possível acolher, incluir e desenvolver o protagonismo
de todos os envolvidos no processo educacional. Nossa escola se tornou um exemplo
de como práticas intencionais e planejadas, podem transformar a educação e
proporcionar um ambiente de aprendizado significativo e colaborativo.
Após implementar e
observar as iniciativas de acolhimento, educação especial e o empoderamento dos
alunos em tecnologia, fica evidente que essas práticas têm potencial
transformador na experiência educacional. A integração harmoniosa com a rede
municipal possibilitou transições suaves para nossos alunos, reforçando a
ligação entre as comunidades escolares. O apoio individualizado em educação
especial tem iluminado caminhos de aprendizagem que valorizam cada aluno em sua
singularidade, destacando casos de sucesso como da aluna com TEA. Já nossos
alunos monitores de tecnologia não só ajudaram a agilizar o acesso às
plataformas digitais, como também contribuíram para aprimorar coletivamente os
resultados escolares.
Ao refletir sobre esses
resultados, vejo que nossas práticas foram fundamentais para transformar
desafios em conquistas e renovar nosso compromisso com uma educação inclusiva e
inovadora. Que sejamos inspirados a avançar juntos, explorando novas
estratégias e fortalecendo nosso trabalho em prol da melhoria da aprendizagem
para e junto com TODOS os alunos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
COREY,
Benedict. Como aprendemos. Editora Campus, 2015.
DELORS,
Jacques. Educação um tesouro a descobrir. Editora Cortez, 2001.
MANTOAN,
Maria Tereza Egler. Inclusão Escolar. Summus Editorial, 2006.
SENA,
Clério Cezar Batista, Clima
organizacional escolar: o gestor como indutor de mudanças. Especialização
em gestão da escola para diretores. Faculdade de Educação da USP / REDEFOR.
TCC: São Paulo, 2012
SENA,
Clério Cezar Batista. A relação afetiva professor e aluno, revelada por seus
diários. Editora Appris, 2013.
SENGE,
Peter. Escolas que aprendem. Artmed, 2005.
[1] Artigo do relato de Boas Práticas - Encontro de Líderes pela Aprendizagem da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, em 13 de fevereiro de 2025 em Santos, SP.
[2] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em
Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo;
Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor da EE VALÊNCIO SOARES RODRIGUES; Professor
universitário; Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro. Insta: @cezar.sena