quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Educação Especial: Acolher, Incluir e Promover Protagonismo

Educação Especial: Acolher, Incluir e Promover Protagonismo[1]


Cezar Sena[2]

 

RESUMO

 

O artigo "Educação Especial: Acolher, Incluir e Promover Protagonismo" destaca a importância de uma abordagem inclusiva na educação, focando no acolhimento, na inclusão efetiva e no desenvolvimento do protagonismo dos alunos. Como diretor da Escola Estadual Valêncio Soares Rodrigues, Cezar Sena compartilha as experiências ao implementar práticas que beneficiam alunos da educação especial. A escola busca criar um ambiente de aprendizado acolhedor e colaborativo, onde as individualidades são respeitadas e potencializadas. Iniciativas como a transição planejada de novos alunos, o uso de relatórios pedagógicos detalhados e a implementação do programa de Alunos Embaixadores de Tecnologia são exemplos de esforços que resultam em maior autonomia e melhor desempenho escolar. A abordagem reflete um compromisso contínuo com uma educação transformadora e inclusiva.

 

INTRODUÇÃO

 

Como diretor da Escola Estadual Valêncio Soares Rodrigues, tenho observado de perto os desafios e as recompensas de implementar uma educação para todos e com todos. Um trabalho árduo, feito com várias mãos, resultado de um trabalho de equipe: profissionais da escola em parceria com as famílias dos alunos elegíveis da educação especial. Acredito que a escola deve ser um espaço onde acolhemos, incluímos e promovemos o protagonismo de cada estudante. Neste artigo de opinião, compartilho nossas experiências e as práticas que adotamos em nossa escola para oportunizar uma educação pública de qualidade para todos, conforme preconiza as legislações.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

Ao longo dos anos, percebi que a relação entre professores e alunos é fundamental para criar um ambiente acolhedor. De acordo com Sena (2013:39) as relações afetivas positivas são determinantes para o sucesso dos alunos. “As relações afetivas promotoras de bem-estar podem contribuir para a melhoria do desempenho do aluno”. Assim o acolhimento é uma ação primordial para o desenvolvimento de um clima escolar favorável a aprendizagem. Sabendo que o ambiente influencia diretamente a aprendizagem, como aponta Corey (2015), nos esforçamos para tornar nossa escola um espaço onde cada aluno se sinta parte de uma comunidade que valoriza sua individualidade, evidenciando suas potencialidades em detrimento as fragilidades.

 

Quando os alunos se sentem acolhidos, respeitados e pertencentes ao espaço, de fato a inclusão escolar acontece. Para Mantoan (2006), inclusão é mais do que integrar alunos com necessidades especiais em salas regulares, mas garantir que todos os alunos possam participar ativamente do processo educacional aprendendo o que precisa ser aprendido. Segundo a autora, a verdadeira inclusão só ocorre quando há aprendizagem efetiva.

 

Na obra Educação um tesouro a descobrir, Delors (2001) nos inspira a ver a educação como um tesouro, incentivando cada aluno a explorar seu potencial máximo. “A educação tem por missão por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta” (p.97).

 

Peter Senge (2005) aponta que as escolas devem ser ambientes de aprendizagem contínua. Em nossa escola, isso se manifesta através de práticas que incentivam a colaboração e o protagonismo dos alunos.

 

Uma sala de aula aprendente requer métodos e infraestrutura que possibilitem que todos fomentem o sucesso uns dos outros de forma deliberada. Isso significa concentrar-se em mudar as maneiras como as pessoas pensam e interagem e reconhecer que os estudantes aprendem de formas múltiplas e que suas capacidades não são fixadas no momento do nascimento. Nessa classe (escola), os estudantes reconhecem que parte do seu propósito é certificar-se de que todos tenham sucesso (SENGER, 2025:72).

 

Portanto, o protagonismo sênior e a liderança do diretor são fundamentais para assegurar um clima escolar positivo e propício à aprendizagem de todos os alunos. Além disso, garantem que todos os membros envolvidos no processo educacional cumpram suas funções e responsabilidades em prol de um projeto coletivo e colaborativo, centrado no aprendizado dos alunos. Nesse contexto,

 

a ação do diretor, não é apenas uma ação política ou ideológica, nem unicamente uma necessidade técnica ou administrativa, mas uma questão científica pedagógica, exigindo do diretor uma nova postura de liderança, pois, num certo sentido, é no âmbito do espaço escolar que todos os outros níveis de estudos e intervenção devem ser empreendidos. Diante de uma realidade essencialmente dinâmica e de conflito, a preocupação em se administrar passa a ser, sobretudo, com a integração num contexto altamente diferenciado e com o controle da ação coletiva (SENA, 2012).

 

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA.

 

Ação 1: Acolhimento e Transição de Alunos

 

Anualmente no final do ano, os alunos do 5º ano das escolas municipais vizinhas, vem conhecer sua futura escola, passando uma manhã conosco. Esta ação, se tornou uma prática essencial, já algum tempo. Planejamos cuidadosamente cada detalhe para garantir que os alunos se sentissem acolhidos e compreendessem a dinâmica da escola de Ensino Integral de 9 horas.

 

Ao chegarem no dia da visita agendada, eram recebidos pelo time de alunos acolhedores e pela equipe gestora. Os acolhedores apresentavam todos os espaços da escola e suas funcionalidades, além dos profissionais e suas funções. Era emocionante ver a alegria nos rostos dos alunos enquanto exploravam sua futura escola, encantados com os espaços, equipamentos e dinâmica. A ação se mostrou determinante para o bom desempenho dos alunos no 6º ano.

 

Ação 2: Educação Especial: relatórios pedagógicos

 

A educação especial sempre foi uma prioridade para nós. Trabalhamos em colaboração com a Secretaria Municipal de Educação de Vargem Grande Paulista para entender as necessidades específicas de cada aluno que receberíamos no ano seguinte. Ao final de cada ano letivo a Secretaria nos enviam relatórios pedagógicos dos alunos com dificuldades de aprendizagem dos elegíveis da Educação Especial (com ou sem laudos). Essa ação é de muita importância para o nosso Planejamento anual. Com os relatórios em mãos, nossa equipe pedagógica analisava e preparava as ações, tais como:

 

2.1 Reunião individual com os responsáveis dos alunos da Educação Especial. Relato o caso da mãe de um aluno (Deficiência Intelectual). A mãe estava muito ansiosa, angustiada e com muito medo dessa transição, pois o filho além das dificuldades de aprendizagem tinha dificuldades de locomoção e ela estava receosa que os outros alunos machucassem seu filho. Queria que eu garantisse a segurança do seu filho, que nada iria acontecer com ele, além de profissionais exclusivos para cuidar dele, inclusive dentro da sala de aula, como tinha na rede municipal. Após a escuta, informei que compreendia sua preocupação, mas não poderia atender suas expectativas. Informava os serviços disponível da Rede Estadual e a leitura do Relatório enviado secretaria de educação, que no caso do seu filho, não apontava a necessidade de todos os apoios que solicitava da nossa escola. O laudo não determinava o tipo de apoio. Por fim, solicitei que confiasse no nosso trabalho e que trabalhássemos em parceria, que deveria permitir que o seu filho desenvolvesse sua autonomia. Após a conversa, combinamos que o aluno sairia mais cedo, até adaptar às 9h na escola. O que ocorreu antes do combinado. O aluno praticamente não necessita de apoio, aprendeu a solicitar suas demandas, se comunicar com todos na escola, se desenvolvendo a cada dia. Ver o progresso desse aluno, está sendo uma experiência gratificante para toda nossa equipe.

 

2.2. Orientações aos professores. Após a análise dos relatórios, a equipe pedagógica juntamente com o professor colaborativo, de apoio e da Sala de recursos, preparava orientações para os professores, tanto individualmente, quanto nos ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo). Uma outra experiencia exitosa foi o caos de uma aluna com TEA (Transtorno do Espectro Autismo), que antes dessas formações e orientações não parava na sala de aula e só queria pintar as “CONÍFERAS”. Após os alinhamentos, elaboração de planos de aulas e presença da professora de apoio, o avanço pedagógico da aluna foi impressionante, parou de pedir coníferas, permaneceu na sala de aula e começou a realizar todas a atividades propostas. Se adaptou muito bem com as atividades das plataformas digitais, realizando todas. Ficou encantada com o MATIFIC. Os alunos embaixadores de tecnologia sempre ajudavam com o uso do tablet e notebook no início. Hoje ela já desenvolveu sua autonomia e só avança na sua aprendizagem.  

 

Ação 3: Alunos Embaixadores de Tecnologia

 

Uma das iniciativas mais inovadoras que adotamos foi a criação do programa de alunos embaixadores de tecnologia. Identificamos e treinamos alunos com habilidades tecnológicas para auxiliar seus colegas e professores. Suas principais atribuições eram:

 

3.1 Organizar os tablets e notebook, conferir se as quantidades que iam para sala retornavam. Colocar para carregar e ajudar na limpeza dos aplicativos de jogos que os alunos baixavam;

 

3.2 Auxiliar na logística de organização da sala para a realização da PROVA PAULISTA e nas aulas de mutirão para contemplarem as PLATAFORMA DIGITAIS

 

3.3 Auxiliar os professores na organização das mídias: conectar TV, notebooks, datashow.

 

Foi incrível ver como esses alunos não só facilitavam o uso dos recursos digitais, mas também se tornavam verdadeiros líderes dentro da escola. A melhoria no desempenho acadêmico e a redução da indisciplina foram evidentes, e fiquei especialmente orgulhoso de ver como os alunos se sentiam valorizados e engajados.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Refletindo sobre essas experiências, estou convencido de que quando a escola se compromete de forma organizada e coletiva, é possível acolher, incluir e desenvolver o protagonismo de todos os envolvidos no processo educacional. Nossa escola se tornou um exemplo de como práticas intencionais e planejadas, podem transformar a educação e proporcionar um ambiente de aprendizado significativo e colaborativo.

 

Após implementar e observar as iniciativas de acolhimento, educação especial e o empoderamento dos alunos em tecnologia, fica evidente que essas práticas têm potencial transformador na experiência educacional. A integração harmoniosa com a rede municipal possibilitou transições suaves para nossos alunos, reforçando a ligação entre as comunidades escolares. O apoio individualizado em educação especial tem iluminado caminhos de aprendizagem que valorizam cada aluno em sua singularidade, destacando casos de sucesso como da aluna com TEA. Já nossos alunos monitores de tecnologia não só ajudaram a agilizar o acesso às plataformas digitais, como também contribuíram para aprimorar coletivamente os resultados escolares.

 

Ao refletir sobre esses resultados, vejo que nossas práticas foram fundamentais para transformar desafios em conquistas e renovar nosso compromisso com uma educação inclusiva e inovadora. Que sejamos inspirados a avançar juntos, explorando novas estratégias e fortalecendo nosso trabalho em prol da melhoria da aprendizagem para e junto com TODOS os alunos.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

COREY, Benedict. Como aprendemos. Editora Campus, 2015.

DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. Editora Cortez, 2001.

MANTOAN, Maria Tereza Egler. Inclusão Escolar. Summus Editorial, 2006.

SENA, Clério Cezar Batista, Clima organizacional escolar: o gestor como indutor de mudanças. Especialização em gestão da escola para diretores. Faculdade de Educação da USP / REDEFOR. TCC:  São Paulo, 2012

SENA, Clério Cezar Batista. A relação afetiva professor e aluno, revelada por seus diários. Editora Appris, 2013.

SENGE, Peter. Escolas que aprendem. Artmed, 2005.



[1] Artigo do relato de Boas Práticas - Encontro de Líderes pela Aprendizagem da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, em 13 de fevereiro de 2025 em Santos, SP.

[2] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor da EE VALÊNCIO SOARES RODRIGUES; Professor universitário; Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro.  Insta: @cezar.sena

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