quarta-feira, 6 de março de 2024

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESCONTEXTUALIZADAS E O FRACASSO ESCOLAR

 

CEZAR SENA[1]

 


Você já observou que todos têm uma opinião a respeito de como melhorar a educação? O fato é que não se faz educação séria com opinião, mas com procedimentos teóricos e práticas validados cientificamente.  Se fosse tão fácil assim, o Brasil não seria um dos últimos países no ranking de educação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, em português), com índices alarmantes de alunos com defasagem na aprendizagem. Com esforços de todos e com técnicas validadas, é possível superar essa defasagem dos estudantes.

Para superar essas problemáticas, as políticas públicas educacionais devem considerar as diversas realidades, com investimento na formação dos profissionais da educação, monitoramento da aprendizagem e incentivo à participação dos responsáveis na vida escolar dos seus filhos.

É essencial que os profissionais da educação desenvolvam novos hábitos, incorporando ao seu fazer pedagógico novas estratégias alinhadas ao uso das tecnologias. O novo cenário educacional é digital; os alunos são digitais. Um dos problemas é o conflito de gerações; alguns profissionais da educação resistem a mudança, continuam analogicamente. Não adianta querer impor nosso modelo antigo, acreditando ser o melhor. Foi melhor naquele contexto; isso não significa que será para esta nova geração. Insistir nesses procedimentos é como querer abrir um disquete num aparelho de smartphone: impossível, porque são tecnologias incompatíveis. Além disso, o processo educacional é um processo coletivo e ativo. As novas pesquisas educacionais apontam para a aprendizagem coletiva e colaborativa. Assim sendo, é preciso menos competição e mais colaboração!

Precisamos rever a tentação de querer “importar” sucessos educacionais de outros países sem as devidas adequações e contextualizações para a realidade brasileira. Foi assim com o chamado “construtivismo” nos anos 90 e 2000 de Piaget e Emília Ferreiro; depois as ideias do educador Português José Pacheco, por meio das quais os estudantes organizam-se com base nos seus interesses, por projeto de pesquisa, e, por fim a “educação finlandesa”, com seus valores e princípios fundamentados no humanismo e universalismo, inclusão, equidade e descentralização. Todos esses modelos têm aspectos positivos, mas, aplicados fora de contexto, não surtem os efeitos esperados.

Penso que o equívoco está justamente em querer fazer a transposição dos procedimentos validados em certo contexto sócio-histórico e econômico, sem ponderar a realidade das escolas públicas brasileiras. Nas últimas décadas, os educadores vêm sendo bombardeados com várias correntes pedagógicas que tentam explicar a melhor maneira de ensinar os estudantes. Na prática, os educadores nunca se sentiram tão perdidos diante de tantas opções.

Para que o professor possa ser considerado eficiente, é necessário que todos os seus alunos aprendam. A escola e as práticas pedagógicas precisam ser inclusivas, adequando-se às reais necessidades dos estudantes, considerando os estilos de aprendizagem de todos. Por outro lado, os responsáveis pelos discentes também precisam assumir seu papel de corresponsáveis nesse processo educacional, pois, conforme aponta a Constituição Brasileira, a educação é “direito de todos e dever do Estado e da Família” e de toda a Sociedade.


Fonte: Revista Cidade Nova. Março de 2024 p38. www.cidadenova.org.br 



[1] Mestre em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de Escola Estadual. Professor universitário. Escritor e Palestrante.  Insta: @cezar.sena

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