sábado, 22 de junho de 2024

A ARTE DA POLÍTICA: ENTRE A ESPERANÇA E A REALIDADE

 


Cezar Sena[1]

 

A política, em sua essência, é a arte de promover o bem comum e a fraternidade. No entanto, ao longo dos anos, essa nobre arte tem sido desvirtuada por alguns que a transformaram em um jogo de interesses pessoais, onde o "toma lá, dá cá" prevalece. Essa distorção gera uma descrença generalizada na população, que muitas vezes se sente impotente e desiludida com o processo eleitoral. Este artigo busca aprofundar a discussão sobre a participação política, fundamentando os argumentos com base nas obras "Reflexões sobre a vida pública" de Antonio Maria Baggio, "Para onde vai o mundo" de Edgar Morin e "Uma Terra Prometida" de Barack Obama.

 

No Brasil, o voto é obrigatório, o que implica que todos nós, de uma forma ou de outra, estamos envolvidos no processo eleitoral. A ideia de que não se envolver na política nos exime de responsabilidade é uma ilusão. Não existe neutralidade na política; ou você decide, ou decidem por você. Assim, é fundamental que superemos a mentalidade de escolher o "menos ruim" e a crença de que a política se faz apenas com dinheiro e de que cidadãos de bem não entram na política.

 

De fato, não podemos subestimar o poder do dinheiro nos processos eleitorais. Campanhas políticas exigem recursos, e muitas vezes, aqueles que possuem mais recursos financeiros têm uma vantagem significativa. No entanto, a verdadeira política se faz com a participação efetiva dos cidadãos. Isso significa não apenas votar, mas também acompanhar os mandatos dos eleitos, fiscalizar suas ações e cobrar transparência e responsabilidade.

 

Para Baggio (2008), a política deve ser entendida como uma vocação para o serviço público, onde o objetivo principal é o bem comum. Baggio destaca que a política não deve ser vista como um meio para alcançar vantagens pessoais, mas sim como uma responsabilidade coletiva que visa a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Essa visão é corroborada por Edgar Morin, que em "Para onde vai o mundo" (MORIN, 2011), enfatiza a necessidade de uma política que promova a solidariedade e a cooperação entre os cidadãos, em oposição ao individualismo e à competição desenfreada.

 

Sabemos que a descrença na política é um fenômeno global, como observado por Barack Obama em "Uma Terra Prometida" (OBAMA, 2020). Obama relata sua experiência como presidente dos Estados Unidos, destacando os desafios enfrentados para manter a confiança do público nas instituições democráticas. Ele argumenta que a participação ativa dos cidadãos é crucial para a manutenção de uma democracia saudável. Essa participação não se limita ao ato de votar, mas inclui o acompanhamento dos mandatos dos eleitos e a cobrança por transparência e responsabilidade.

 

Como sabemos, a participação política não se limita ao ato de votar. Ela envolve um engajamento contínuo, uma vigilância constante e uma disposição para lutar pelo que é justo e correto. Precisamos de cidadãos que estejam dispostos a se envolver, a questionar, a exigir mudanças e a trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa e fraterna.

 

A política, quando praticada com integridade e compromisso com o bem comum, pode ser uma força poderosa para a transformação social. É através da participação ativa e consciente dos cidadãos que podemos resgatar a verdadeira essência da política e construir um futuro melhor para todos. A ideia de que é possível ser neutro na política é uma ilusão perigosa. Como Baggio (2008) aponta, a omissão é, em si, uma forma de decisão, pois permite que outros escolham por nós. Morin (2011) reforça essa ideia ao afirmar que a neutralidade na política é uma forma de conivência com o status quo. A participação ativa é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

 

É consenso que a política tem um poder transformador, como evidenciado pela experiência de Obama (2020). Para ele, a política pode ser um instrumento para promover mudanças significativas na sociedade, desde que seja conduzida com integridade e compromisso com o bem comum. Baggio (2008) e Morin (2011) também destacam a importância de uma política pautada na ética e na responsabilidade social.

 

Lembro-me de uma reunião de liderança em que uma senhora me procurou e me abraçou, agradecendo por eu ter devolvido a ela a esperança na política séria e propositiva, pautada no bem comum e na fraternidade. Aquele momento serviu como um poderoso lembrete da minha responsabilidade e do potencial transformador da política, reforçando minha crença de que é possível agir de maneira diferente e efetivamente fazer a diferença.

 

Portanto, não se deixe levar pela apatia ou pelo cinismo. Acredite no poder da sua voz e do seu voto. Participe, fiscalize, cobre e, acima de tudo, mantenha viva a esperança de que é possível fazer diferente e fazer a diferença. A política é uma arte, e cabe a nós, cidadãos, praticá-la com maestria e dedicação.

 

Referências

 

BAGGIO, Antonio Maria (Org.). Reflexões sobre a vida pública. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 2006.

MORIN, Edgar. Para onde vai o mundo? Petrópolis: Vozes, 2010.

OBAMA, Barack. Uma Terra Prometida. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.



[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo; Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de

Escola Pública; Professor universitário; Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro. 

Instagram: @cezar.sena / site: www.cezarsena.com.br  / Youtube: PODSENA

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