quarta-feira, 30 de novembro de 2016
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
A EMOÇÃO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Clério Cezar Batista Sena
Fabiana Bondioli de Oliveira Ramos
Resumo
A emoção e a aprendizagem devem estar sempre juntas para que o processo de ensino-aprendizagem possa ocorrer de maneira eficaz. O artigo apresenta, a partir de pesquisa bibliográfica, a importância que emoção exerce sobre a aprendizagem do indivíduo. Quanto mais motivado, melhor será o resultado. Não basta apenas o professor transmitir o conteúdo ele também precisa conhecer os educandos e ser afetuoso. A afetividade é fundamental na relação professor/aluno. Quando a criança se sente segura ela não tem medo de errar. A relação familiar e relação escolar, são alguns fatores que podem influenciar na aprendizagem da criança, por este motivo que os pais e educadores devem ter sempre um Olhar atento sobre a criança.
Palavras-chave: Emoção. Aprendizagem. Professor. Afetividade.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata da importância da emoção no processo de ensino aprendizagem, pois a emoção está ligada também a razão. Cada vez mais, escuta-se dos educadores que as crianças estão sem limites, não querem aprender e estão desmotivadas, porém muitos destas queixas poderiam ser sanadas se o educador entrasse na sala de aula não com o intuito de só transmitir conteúdos, mas sim buscar ser um mediador e fazer com que o próprio aluno construa o seu conhecimento. Segundo Cury (2003, p.15) “Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são. ”
Quando há motivação, gera no indivíduo uma sensação de bem-estar e consequentemente o objetivo é atingido com eficiência. A criança desde a educação infantil precisa saber pensar, refletir sobre suas ações, resolver situações problemas e saber lidar com as frustrações, porém ela só conseguirá atingir essas competências se a relação professor/aluno for uma relação afetuosa.
Eduque a emoção com inteligência. E o que é educar a emoção? É estimular o aluno a pensar antes de reagir, a não ter medo do medo, a ser líder de si mesmo, autor da sua história, a saber filtrar os estímulos estressantes e a trabalhar não apenas com fatos lógicos e problemas concretos, mas também as contradições da vida. (CURY, 2003, p.66).
Para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa o educador deve proporcionar um ambiente saudável para que seu aluno possa sentir-se seguro perante o grupo. O estado emocional do ser humano pode afetar positivamente quanto negativamente a aprendizagem. Por isso, é muito importante que o educador conheça o seu aluno e saiba respeitar a individualidade de cada um. Como diz Cury (2003, p.17) “Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender. ”
Assim, o texto a seguir irá ressaltar aos educadores a importância de conciliar a emoção e a razão. Pois de acordo com Cury (2008, p.164) “É preciso ter consciência de que o território emocional é valiosíssimo, não pode ser violado pelo lixo social”.
2. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil nem sempre esteve ligada a formação da criança. Durante muitos anos foi vista como uma instituição assistencialista, sendo o cuidar sua principal atividade. Porém, os anos foram passando e devido às inúmeras transformações sociais, culturais, políticas e educacionais, na década de 80 começa-se a discutir e observar a importância da educação da criança pequena e que todos deveriam ter acesso a ela.
Assim, com a Constituição Federal de 1988 a creche passa ser um direito da família e dever do estado e a criança começa a ser vista como um ser histórico, social, pertencente a uma determinada classe social e cultural. Em seguida, na década de 90 também é integrada ao ECA (Estatuto da criança e do Adolescente) e começa a fazer parte da educação básica, atendendo crianças de 0 aos 6 anos de idade.
Observa-se que a educação Infantil ainda é algo novo e que ao longo dos anos vem se transformando. Hoje é vista como uma fase de grande valia para o desenvolvimento da criança. Segundo a Lei nº 9.394/96, art. 29, “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.
A educação infantil é um período muito importante para o desenvolvimento do ser humano. É na infância que a criança constrói sua própria identidade e sua autonomia, porém a criança é um ser único, com isso os professores precisam respeitar a individualidade de cada uma, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra.
Quanto menor a criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significado de seus movimentos e expressões, auxiliando-a na satisfação de suas necessidades. À medida que a criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades possibilita que ela atue de maneira cada vez mais independente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior autonomia em relação aos adultos (BRASIL,1998, p.18).
Na educação infantil a criança constrói o conhecimento mediante a interação com o objeto, com o adulto e com outras crianças. Primeiramente a criança vivencia o concreto de forma lúdica e prazerosa, para só então fazer o registro. Desta forma o aprendizado tem significado. A criança brinca para aprender, o que possibilita o desenvolvimento integral, tudo isso de maneira envolvente onde ela constrói conhecimento e cria alternativas para resolver os conflitos que surgem no ato de brincar. Visamos encaminhar para a autonomia, criticidade, indivíduos que sejam capazes de transformar a sociedade onde vivem.
3. A EMOÇÃO E A APRENDIZAGEM
Vive-se hoje numa sociedade marcada por grandes transformações tecnológicas e científicas. As informações são aceleradas e os receptores cada vez mais exigentes, o que leva o indivíduo mudar a sua maneira de pensar e agir, pois o sujeito toma sua própria ação, seus próprios funcionamentos psíquicos como objeto de sua observação e de sua análise.
Durante muito tempo o conceito mente esteve associado à cognição do ser humano, porém no século XX, estudos começam a compreender que a razão estava ligada também a emoção.
Para enfrentarmos o mundo da informação, não basta, simplesmente, encará-lo com a razão. O melhor caminho para as convivências sociais do mundo atual é unir razão e emoção, para que se construa o alicerce necessário à construção do conhecimento e da aprendizagem significativa (RELVAS, 2008, p.125).
Hoje, educar é muito mais do que só transmitir conteúdos, o professor na sala de aula, precisa ser um mediador e fazer com que o aluno se sinta motivado, para que sozinho possa construir o seu próprio conhecimento. Antigamente o bom aluno era aquele que decorava e no momento da avaliação tirava 10, mas não porque aprendeu, mas sim porque decorou. Hoje o bom aluno precisa saber fazer perguntas, participar ativamente nas resoluções de problemas, saber confrontar ideias, refletir sobre a sua resposta, ter autonomia, buscar novos desafios e exercer suas potencialidades, pois, uma vez que estas informações afetarem o indivíduo de modo significativo ficará guardado na memória de longa duração. A Memória de Longo Prazo afeta nossas percepções do mundo e nos influencia na tomada de decisões.
Segundo Ramalho apud Salla (2012, p. 55), Wallon define a memória como,
O pressuposto psicogenético Walloniano é que somos seres integrados: afetividade, cognição e movimento. Portanto, informações e acontecimentos que nos afetam e fazem sentido para nós ficam retidos na memória com mais facilidade. Como a construção de sentido passa pela afetividade, é difícil reter algo novo quando ele não nos afeta.
A motivação, atenção, percepção e a emoção são requisitos fundamentais para a aprendizagem, a criança precisa atingir a percepção para aprender. Quando o indivíduo é afetado positivamente por algo, gera uma sensação de bem-estar e isto faz com que ele tenha mais atenção sobre o objeto que o afetou.
A escola deve ser um espaço que motive e não somente que se ocupe em transmitir conteúdo. Para que isso ocorra, o professor precisa propor atividades que os alunos tenham condições de realizar e que despertem a curiosidade deles e os faça avançar. É necessário leva-los a enfrentar desafios, a fazer perguntas e procurar respostas (SALLA, 2012, p.52)
Os educadores durante muito tempo levavam em conta somente o aspecto cognitivo do aluno e acabavam esquecendo que havia dentro daquele corpo anseios, desejos e emoções. Hoje para que ele seja eficaz em seu trabalho deve conhecer e sentir o seu aluno, deve adaptar o seu ponto de vista ao da criança.
A neurociência vem ajudar os educadores em sua prática pedagógica, pois a medida que vão descobrindo como o cérebro aprende, elaboram-se estratégias eficientes e divertidas para o processo de aprendizagem, fazendo a ponte entre a razão e a emoção. Segundo Alvarenga (2007, p.13) “O processo cognitivo é produzido inconscientemente e fabricado com a ajuda da emoção; sem ela não se formaria a maioria dos nossos pensamentos. ”
A emoção e a aprendizagem devem estar sempre juntas. O educador deve proporcionar ao aluno um ambiente que ele possa sentir-se seguro, respeitando a emoção de cada um. Quando a criança se sente aceita pelo grupo e pelo professor distendem músculos e o corpo relaxa, com isso fica mais segura de si e o medo de errar se perde, o que auxilia em seu desenvolvimento.
Por este motivo, conciliar a razão e a emoção deve ser o grande desafio dos educadores, pois um indivíduo motivado maior será a capacidade e a potencialidade para atingir seus objetivos.
Aprender a refletir, a raciocinar, a utilizar estratégias de resolução de problemas para adaptarmos as novas gerações para aprenderem mais, melhor e de forma diferente e flexível, é uma necessidade fundamental da educação e, provavelmente, a tarefa mais relevante da escola (FONSECA, 2009, p.7).
3.1 CONCEITUANDO EMOÇÃO
A emoção cumpre uma função de grande importância ao ser humano. Segundo Alvarenga (2007, p.17) “As emoções são nossos motores e sem elas provavelmente não agiríamos, ficaríamos num mesmo local sem nada fazer, talvez dormindo ou morrendo. ”, assim pode-se dizer que elas influenciam nas decisões e nos hábitos dos indivíduos. É um impulso neural que move um organismo para a ação, é uma experiência subjetiva que envolve a pessoa de maneira integral: mente e corpo e que partindo de um estímulo, irá reagir de acordo com a circunstância e a intensidade da situação que o indivíduo se encontra. Para Cury (2008, p.14) “As emoções tensas, fóbicas, apreensivas, fecham as janelas da memória; as emoções prazerosas desafiadoras, serenas, as abrem”.
No cérebro humano localiza-se uma parte importante responsável por coordenar as emoções, esta é chamada de Sistema Límbico que é composto por quatro estruturas cerebrais. E duas destas estruturas (amigdala e o hipocampo) são responsáveis por grande parte no cérebro pela memória e aprendizado.
O Sistema límbico está relacionado às expressões (respostas – condutas) viscerais e emocionais, bem como às necessidades corporais (impulsos, desejos) primordiais (básicas ou fundamentais do organismo) e, por último, com o humor, prontidão para agir dando soluções rápidas e básicas para o organismo (ALVARENGA, 2007, p.148)
Apesar de muitas pessoas acreditarem que a emoção e sentimento são semelhantes, eles designam papeis diferentes. Segundo o dicionário Aurélio, a emoção é o abalo moral ou afetivo; perturbação geralmente passageira, provocada por algum fato que afeta o nosso espírito (boa ou má notícia, surpresa, perigo), já o sentimento é algo que permanece e é controlável, quando há um sentimento a emoção é selecionada através dos centros cognitivos do cérebro e faz com que o indivíduo pense sobre a sua ação antes de agir, pensar e falar.
As emoções geralmente são acompanhadas por comportamentos físicos, desencadeando as cinco emoções básicas: alegria, tristeza, medo, raiva e afeto. O termo emoção tem sua origem etimológica no latim e significa uma ação em movimento. A emoção nos motiva a agir e através dela o indivíduo consegue perceber o significado dos acontecimentos. A motivação surge como resultado de um estímulo externo ou interno ao indivíduo que quando motivado e persistente conseguirá facilmente atingir os seus objetivos. Para Relvas (2008, p.126) “Se a aprendizagem ocorrer em um ambiente motivador, que desperta o gosto, o interesse, este processo acontecerá de fato, será verdadeiro, pois terá significado”.
3.2 CONCEITO DE APRENDIZAGEM
Aprender é um exercício constante de renovação, pois desde o nascimento o ser humano adquiri novos conhecimentos capazes de mudar o seu comportamento. Ao aprender o cérebro entra em atividade e começa a ocorrer mudanças físicas e químicas e faz com que indivíduo se transforme e se modifique. A linguagem, motivação, atitudes, pensamentos e personalidades são fatores determinados pela aprendizagem. Fonseca (2009, p.154), define a aprendizagem, como;
Um processo funcional dinâmico que integra quatro componentes cognitivos essenciais:
• Input (auditivo, visual, tactílo - quinestésico, etc);
• Cognição (atenção, memória, integração, processamento simultâneo e sequencial, compreensão, planificação, auto-regulação, etc.);
• Ouput (falar, discutir, desenhar, observar, ler, escrever, contar, resolver problemas, etc.);
• Retroalimentação (repetir, organizar, controlar, regular, realizar, etc.).
Quando o indivíduo nasce, o cérebro é dotado por bilhares de neurônios e estes vão tomando funcionalidade no cérebro e os que não tomaram função morrem, por este motivo pode-se dizer que os estímulos visuais, sensoriais, auditivos, emocionais, psicomotores e cognitivos nos três primeiros anos de vida são fundamentais, pois proporciona a criança o pleno funcionamento das conexões e sinapses.
A criança precisa ser estimulada desde o nascimento com músicas, jogos, brincadeiras para que possa ocorrer a formação de sinapses. O cérebro humano não nasce pronto, ao longo da vida ele vai se desenvolvendo, tanto pelos fatores genéticos, quantos pelos ambientais. Segundo Fonseca (2009, p.105) “Os pais, primeiros educadores da criança e os primeiros mediatizadores da sua aprendizagem, têm influência crucial no desenvolvimento global dos seus filhos”.
O aprender se desenvolve a partir da bagagem, das vivências, sentimentos e situações sociais do ser humano. Para Piaget apud Wadsworth, (1997, p. 15) “A mente e o corpo não funcionam independentemente um do outro e que a atividade mental submete-se às mesmas leis que ordinariamente governam a atividade biológica”.
Aprender não é só memorizar informações. É preciso relacioná-las, ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala (SALLA, 2012, p.55).
Aprender é muito mais que só adquirir informação, é também uma mudança no comportamento. Quando o indivíduo aprende adquiri maturidade, se desenvolve e consegue se organizar mentalmente. Como afirma Relvas (2008, p.106) “ao aprendermos, nossas conexões cerebrais se modificam”.
4. A CRIANÇA NO CONTEXTO ATUAL
A mulher durante muitos anos foi vista como uma coadjuvante para a sociedade, programada para cuidar apenas do lar, mas após a Revolução Industrial começou a conquistar um lugar no mercado de trabalho, que antes era visto só para os homens. Devido a este fator houve a necessidade de as crianças começarem a frequentar a escola mais cedo.
Hoje, muitas famílias deixam o seu filho na escola bem cedinho e só vão buscá-los a noite, com isso a responsabilidade da educação infantil em desenvolver a criança de maneira integral aumentou, uma vez que é na infância que começa a formar a personalidade da criança.
Devido aos pais precisarem se ausentar para trabalhar, as crianças estão tornando-se cada vez mais independentes e espertas. Percebe-se que as brincadeiras que antes faziam parte da infância como a roda, casinha, bola de gude, entre outras estão desaparecendo. Hoje, observa-se que as crianças estão deixando de vivenciar as brincadeiras físicas (correr, pular, saltar, etc.) para se divertir com jogos no celular, smartphone, tablet, etc, com isso as crianças estão se tornando mini adultos, onde falam, veste e demonstram comportamentos de um adulto.
Assim, percebe-se que devido a esta “independência” infantil está ocorrendo uma inversão de papéis e autoridade que os pais exerciam sobre os filhos está se perdendo dentro deste novo modelo de sociedade.
Com todos estes fatores a afetividade e o diálogo estão ficando em segundo plano tanto por parte dos pais que procuram suprir sua ausência com presentes, passeios, quanto dos professores que só querem passar o conteúdo. Portanto, observa-se que cada vez mais as crianças estão sem limites. Como diz Cury, (2003, p.47) “Cativem seus filhos pela sua inteligência e afetividade, não pela sua autoridade, dinheiro ou poder”.
Não basta nos preocuparmos apenas com a transmissão das informações necessárias ao bom desempenho deles no mundo material que os cerca. Temos de ensiná-los a se conhecer melhor, a evoluir moral e emocionalmente, para que possam vir a ter boa autoestima e alegria íntima e mostrar-lhes que o fato de eles serem criaturas disciplinadas não é suficiente (GIKOVATE, 2001, p.39)
A Ausência da afetividade gera no indivíduo um sentimento negativo e acaba desencadeando uma série de queixas por parte dos pais e educadores.
5. FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR A APRENDIZAGEM
O ser humano vive numa sociedade heterogênea, onde cada indivíduo tem a sua maneira de enxergar e encarar a vida, uns aprendem com mais facilidade e outros o processo de aprendizagem pode demorar um pouco mais, porém existe um fator fundamental que às vezes é ignorado por parte dos educadores, mas que exerce grande influência na aprendizagem que é a emoção. “O ser humano que não aprende a educar sua emoção poderá ser vítima e ao mesmo tempo causa de situações emocionais conflituosas e desgastantes. Assim pode-se dizer que o ser humano precisa saber proteger, controlar sua emoção. ” (CURY, 2008, p.170).
Para isso é muito importante que o professor conheça a criança e trabalhe a partir da sua individualidade, pois se o educador continuar querendo só passar informação sem se preocupar com o estado emocional da criança, pode haver um bloqueio no processo de aprendizagem.
Conforme Cury (2008), a criança precisa saber encarar os seus medos e aprender a examinar e protestar os seus fantasmas, que circulam a sua mente. A criança deve ser desenvolvida para que no futuro possam ser cidadãos críticos, reflexivos e capazes de enfrentar os desafios que aparecerão a sua frente.
Cada vez mais depara-se em sala de aula com crianças cognitivamente muito inteligentes, porém imaturos na questão emocional. Assim, os professores na sua prática pedagógica precisam avaliar os fatores emocionais que podem estar interferindo no processo de aprendizagem das crianças da educação infantil, entre eles é possível citar: a relação familiar (ausência dos pais e ou superproteção) e a relação escolar (professor/aluno, aluno/aluno e escola/pais).
5.1 RELAÇÃO FAMILIAR
Antigamente a organização familiar era composta por pai, mãe e filho, onde o “chefe” da casa era o pai, era ele que sustentava a sua família. A mãe tinha o papel de cuidar da casa e dos filhos e a eles caberiam apenas à obediência aos pais, porém o contexto social com o passar dos anos foi sofrendo alterações e depois que as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho, foi preciso deixar mais cedo os filhos na escola, dividindo assim a responsabilidade do educar.
Mas, hoje devido a vários motivos como a inserção da mulher no mercado de trabalho, é possível observar algumas mudanças na organização familiar. A sociedade atual é marcada pela diversidade, há casais separados, mães solteiras, pais fazendo o papel de mãe e as mães chefiando a casa, casais homossexuais, etc., porém são fatores que vão afetando emocionalmente as crianças e isto acaba refletindo na escola.
As interações entre pais e filhos (ou entre professores e estudantes) não podem ser baseadas em simples comandos, controles, ameaças ou castigos, elas têm que ser mais centradas em reciprocidade emocional, em compartilhar experiências, em proporcionar segurança e conforto, em estabelecer limites razoáveis de conduta, em dar suporte às tentativas de resolução dos problemas que deparam à criança e ao jovem (FONSECA, 2009, p.109)
5.2 RELAÇÃO ESCOLAR
5.2.1 Professor X Aluno
Quando se fala em motivação e estímulos no processo de aprendizagem, é relevante destacar a importância da relação professor/aluno, pois dentro de uma instituição é o professor o personagem principal, é ele que irá orientar o educando para a sua aprendizagem, tornando-os mais críticos, reflexivos, buscando sempre o sucesso de seus alunos e não o fracasso. Assim, para que a aprendizagem possa acontecer ele deve proporcionar ao aluno um ambiente saudável e estimulador. O professor tem o papel de mediar e tornar o aluno o protagonista da construção do seu próprio conhecimento.
Hoje conhecer o aluno é a tarefa mais importante do educador, ele precisa ir além dos conteúdos, deve avaliar a bagagem que cada criança traz para o seu dia-a-dia na escola. É muito importante que ele tenha um olhar atento para cada aluno, porém sabe-se que esta é uma situação que passa despercebida por muitos educadores. Como diz Cury, (2003, p.97) “Paciência é o seu segredo, a educação do afeto é a sua meta”.
A grande queixa hoje nas escolas por parte dos professores é falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Observa-se que há muitos professores cansados, estressados e muitas vezes acabam adoecendo por questões físicas e mentais, gerando assim sentimentos de impotência e frustração. Segundo Cury, (2003, p.97) “Por trás de cada aluno arredio, de cada jovem agressivo, há uma criança que precisa de afeto. ”
Por esta razão, que a relação professor/aluno deve ser harmoniosa e afetuosa, pois um aluno estimulado, amado, certamente irá responder aos estímulos a eles aplicados e seu processo de aprendizagem ocorrerá com naturalidade.
5.2.2 Escola X Família
A participação da família no contexto escolar é outro fator que pode interferir na aprendizagem do aluno para o lado positivo quanto negativo. A escola e família precisam estar sempre juntas, pois as duas são corresponsáveis por fazer a ponte entre o indivíduo e a sociedade.
Sabe-se que tanto a escola quanto a família buscam o desenvolvimento pleno da criança, assim pode-se dizer que uma instituição complementa a outra. Mas, observa-se que a instituição “família” hoje, vem transferindo a responsabilidade da aprendizagem somente para a escola e esquece que o seu papel também é de grande valia para este processo.
A escola e a família precisam estar sempre em sintonia e falando a mesma “língua”, assim o trabalho será eficaz. Observa-se que quando os pais são interessados pela vida escolar de seu filho e presentes em todos os momentos, o desenvolvimento da criança é influenciado positivamente, pois gera motivação, estímulos e prazer. Como diz Cury (2003, p. 21),
Bons pais dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio ser. Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver em seus filhos: autoestima, proteção da emoção, capacidade de trabalhar perdas e frustrações, de filtrar estímulos estressantes, de dialogar e de ouvir.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo aponta que o ser humano é um ser afetivo e social, diante disso quanto mais afetividade, motivação e estimulação, melhor será o desenvolvimento da criança e consequentemente a aprendizagem ocorrerá de forma espontânea.
A emoção é um fator fundamental para a aprendizagem. O professor precisa parar de querer apenas transmitir informação e transformar o seu aluno, fazendo com que ele saiba lidar com as frustrações e que seja uma pessoa que pense, reflita sobre suas ações.
É comum ouvir hoje grande parte dos professores reclamar de seus alunos, que estão sem limites, desmotivados, sem interesse e sem vontade de aprender. Mas de quem é a culpa? Observa-se que mesmo dentro da educação infantil há muitos professores que reclamam, mas não buscam entender e compreender de onde está partindo esta desmotivação e este desinteresse.
Será que suas aulas estão sendo atrativas para aquela clientela? Será que o professor está valorizando as habilidades e competências de seus alunos? Será que ele buscou conhecer o aluno em sua individualidade?
Diante de todos estes questionamentos, nota-se que a educação precisa de uma nova visão por parte dos educadores. Os educadores necessitam reformular sua maneira de pensar e agir. Ao entrar na sala precisa se doar, fazer com que seus alunos se sintam seguros e motivados. Quando há motivação o professor certamente conseguirá atingir seus objetivos com eficiência.
Estamos a cada dia recebendo nas escolas crianças carentes de pai e mãe, consumistas, inteligentes, porém sem maturidade emocional. Por isso pode-se concluir que é fundamental que os professores conheçam a importância que a emoção tem sobre o indivíduo e como elas podem afetar a aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Galeano. O poder das emoções. 1ed. 2007, disponível em: http://www.galenoalvarenga.com.br/publicacoes-livros-online/o-poder-das-emocoes. Acesso em: Acesso em: 01/05/2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL, Lei Federal nº 9.394 (Institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 20 de Dezembro de 1996. Brasília. 1996.
BRASIL, Lei Federal n° 8.069/1990 (Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente). De 13 de julho de 1990. Brasília. 1990.
CURY, Augusto. Pais brilhantes e professores fascinantes. Rio de Janeiro : Sextante. 2003
________________. O código da inteligência: a formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de Janeiro: Thomas Nelson brasil/Ediouro, 2008.
DICIONÁRIO Aurélio, disponível em: http://www.dicionariodoaurelio.com/Emocao.html. Acesso em: Acesso em: 03/05/2014
FONSECA, Vitor da. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicopsicológica e psicopedagógica. 4.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
GIKOVATE, Flávio. A Arte de educar. Curitiba: Nova Didática, 2001.
BRASIL, REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília: MEC/ SEF, 1998, disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf
RELVAS Marta Pires. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. Rio de Janeiro : Wak, 2008.
SALLA, Fernanda. Neurociência: como ela ajuda a entender a aprendizagem. Revista Nova Escola, p. 49-55, jun. 2012.
SILVIA, Sonia das Graças Oliveira. A relação Família/Escola, disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-relacao-familia%10escola-3012/artigo/ Acesso em: Acesso em: 20/05/2014
WADSWORTH, Barry j. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. São Paulo: Thomson Pioneira, 2003.
Clério Cezar Batista Sena
MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva (cursando), MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Professor e pesquisador CENSUPEG/BRASIL, Diretor de Escola Pública Estadual, SP. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
Fabiana Bondioli de Oliveira Ramos
Especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva: E-mail: fabibondioli@hotmail.com
Fabiana Bondioli de Oliveira Ramos
Resumo
A emoção e a aprendizagem devem estar sempre juntas para que o processo de ensino-aprendizagem possa ocorrer de maneira eficaz. O artigo apresenta, a partir de pesquisa bibliográfica, a importância que emoção exerce sobre a aprendizagem do indivíduo. Quanto mais motivado, melhor será o resultado. Não basta apenas o professor transmitir o conteúdo ele também precisa conhecer os educandos e ser afetuoso. A afetividade é fundamental na relação professor/aluno. Quando a criança se sente segura ela não tem medo de errar. A relação familiar e relação escolar, são alguns fatores que podem influenciar na aprendizagem da criança, por este motivo que os pais e educadores devem ter sempre um Olhar atento sobre a criança.
Palavras-chave: Emoção. Aprendizagem. Professor. Afetividade.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata da importância da emoção no processo de ensino aprendizagem, pois a emoção está ligada também a razão. Cada vez mais, escuta-se dos educadores que as crianças estão sem limites, não querem aprender e estão desmotivadas, porém muitos destas queixas poderiam ser sanadas se o educador entrasse na sala de aula não com o intuito de só transmitir conteúdos, mas sim buscar ser um mediador e fazer com que o próprio aluno construa o seu conhecimento. Segundo Cury (2003, p.15) “Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são. ”
Quando há motivação, gera no indivíduo uma sensação de bem-estar e consequentemente o objetivo é atingido com eficiência. A criança desde a educação infantil precisa saber pensar, refletir sobre suas ações, resolver situações problemas e saber lidar com as frustrações, porém ela só conseguirá atingir essas competências se a relação professor/aluno for uma relação afetuosa.
Eduque a emoção com inteligência. E o que é educar a emoção? É estimular o aluno a pensar antes de reagir, a não ter medo do medo, a ser líder de si mesmo, autor da sua história, a saber filtrar os estímulos estressantes e a trabalhar não apenas com fatos lógicos e problemas concretos, mas também as contradições da vida. (CURY, 2003, p.66).
Para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa o educador deve proporcionar um ambiente saudável para que seu aluno possa sentir-se seguro perante o grupo. O estado emocional do ser humano pode afetar positivamente quanto negativamente a aprendizagem. Por isso, é muito importante que o educador conheça o seu aluno e saiba respeitar a individualidade de cada um. Como diz Cury (2003, p.17) “Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender. ”
Assim, o texto a seguir irá ressaltar aos educadores a importância de conciliar a emoção e a razão. Pois de acordo com Cury (2008, p.164) “É preciso ter consciência de que o território emocional é valiosíssimo, não pode ser violado pelo lixo social”.
2. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil nem sempre esteve ligada a formação da criança. Durante muitos anos foi vista como uma instituição assistencialista, sendo o cuidar sua principal atividade. Porém, os anos foram passando e devido às inúmeras transformações sociais, culturais, políticas e educacionais, na década de 80 começa-se a discutir e observar a importância da educação da criança pequena e que todos deveriam ter acesso a ela.
Assim, com a Constituição Federal de 1988 a creche passa ser um direito da família e dever do estado e a criança começa a ser vista como um ser histórico, social, pertencente a uma determinada classe social e cultural. Em seguida, na década de 90 também é integrada ao ECA (Estatuto da criança e do Adolescente) e começa a fazer parte da educação básica, atendendo crianças de 0 aos 6 anos de idade.
Observa-se que a educação Infantil ainda é algo novo e que ao longo dos anos vem se transformando. Hoje é vista como uma fase de grande valia para o desenvolvimento da criança. Segundo a Lei nº 9.394/96, art. 29, “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.
A educação infantil é um período muito importante para o desenvolvimento do ser humano. É na infância que a criança constrói sua própria identidade e sua autonomia, porém a criança é um ser único, com isso os professores precisam respeitar a individualidade de cada uma, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra.
Quanto menor a criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significado de seus movimentos e expressões, auxiliando-a na satisfação de suas necessidades. À medida que a criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades possibilita que ela atue de maneira cada vez mais independente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior autonomia em relação aos adultos (BRASIL,1998, p.18).
Na educação infantil a criança constrói o conhecimento mediante a interação com o objeto, com o adulto e com outras crianças. Primeiramente a criança vivencia o concreto de forma lúdica e prazerosa, para só então fazer o registro. Desta forma o aprendizado tem significado. A criança brinca para aprender, o que possibilita o desenvolvimento integral, tudo isso de maneira envolvente onde ela constrói conhecimento e cria alternativas para resolver os conflitos que surgem no ato de brincar. Visamos encaminhar para a autonomia, criticidade, indivíduos que sejam capazes de transformar a sociedade onde vivem.
3. A EMOÇÃO E A APRENDIZAGEM
Vive-se hoje numa sociedade marcada por grandes transformações tecnológicas e científicas. As informações são aceleradas e os receptores cada vez mais exigentes, o que leva o indivíduo mudar a sua maneira de pensar e agir, pois o sujeito toma sua própria ação, seus próprios funcionamentos psíquicos como objeto de sua observação e de sua análise.
Durante muito tempo o conceito mente esteve associado à cognição do ser humano, porém no século XX, estudos começam a compreender que a razão estava ligada também a emoção.
Para enfrentarmos o mundo da informação, não basta, simplesmente, encará-lo com a razão. O melhor caminho para as convivências sociais do mundo atual é unir razão e emoção, para que se construa o alicerce necessário à construção do conhecimento e da aprendizagem significativa (RELVAS, 2008, p.125).
Hoje, educar é muito mais do que só transmitir conteúdos, o professor na sala de aula, precisa ser um mediador e fazer com que o aluno se sinta motivado, para que sozinho possa construir o seu próprio conhecimento. Antigamente o bom aluno era aquele que decorava e no momento da avaliação tirava 10, mas não porque aprendeu, mas sim porque decorou. Hoje o bom aluno precisa saber fazer perguntas, participar ativamente nas resoluções de problemas, saber confrontar ideias, refletir sobre a sua resposta, ter autonomia, buscar novos desafios e exercer suas potencialidades, pois, uma vez que estas informações afetarem o indivíduo de modo significativo ficará guardado na memória de longa duração. A Memória de Longo Prazo afeta nossas percepções do mundo e nos influencia na tomada de decisões.
Segundo Ramalho apud Salla (2012, p. 55), Wallon define a memória como,
O pressuposto psicogenético Walloniano é que somos seres integrados: afetividade, cognição e movimento. Portanto, informações e acontecimentos que nos afetam e fazem sentido para nós ficam retidos na memória com mais facilidade. Como a construção de sentido passa pela afetividade, é difícil reter algo novo quando ele não nos afeta.
A motivação, atenção, percepção e a emoção são requisitos fundamentais para a aprendizagem, a criança precisa atingir a percepção para aprender. Quando o indivíduo é afetado positivamente por algo, gera uma sensação de bem-estar e isto faz com que ele tenha mais atenção sobre o objeto que o afetou.
A escola deve ser um espaço que motive e não somente que se ocupe em transmitir conteúdo. Para que isso ocorra, o professor precisa propor atividades que os alunos tenham condições de realizar e que despertem a curiosidade deles e os faça avançar. É necessário leva-los a enfrentar desafios, a fazer perguntas e procurar respostas (SALLA, 2012, p.52)
Os educadores durante muito tempo levavam em conta somente o aspecto cognitivo do aluno e acabavam esquecendo que havia dentro daquele corpo anseios, desejos e emoções. Hoje para que ele seja eficaz em seu trabalho deve conhecer e sentir o seu aluno, deve adaptar o seu ponto de vista ao da criança.
A neurociência vem ajudar os educadores em sua prática pedagógica, pois a medida que vão descobrindo como o cérebro aprende, elaboram-se estratégias eficientes e divertidas para o processo de aprendizagem, fazendo a ponte entre a razão e a emoção. Segundo Alvarenga (2007, p.13) “O processo cognitivo é produzido inconscientemente e fabricado com a ajuda da emoção; sem ela não se formaria a maioria dos nossos pensamentos. ”
A emoção e a aprendizagem devem estar sempre juntas. O educador deve proporcionar ao aluno um ambiente que ele possa sentir-se seguro, respeitando a emoção de cada um. Quando a criança se sente aceita pelo grupo e pelo professor distendem músculos e o corpo relaxa, com isso fica mais segura de si e o medo de errar se perde, o que auxilia em seu desenvolvimento.
Por este motivo, conciliar a razão e a emoção deve ser o grande desafio dos educadores, pois um indivíduo motivado maior será a capacidade e a potencialidade para atingir seus objetivos.
Aprender a refletir, a raciocinar, a utilizar estratégias de resolução de problemas para adaptarmos as novas gerações para aprenderem mais, melhor e de forma diferente e flexível, é uma necessidade fundamental da educação e, provavelmente, a tarefa mais relevante da escola (FONSECA, 2009, p.7).
3.1 CONCEITUANDO EMOÇÃO
A emoção cumpre uma função de grande importância ao ser humano. Segundo Alvarenga (2007, p.17) “As emoções são nossos motores e sem elas provavelmente não agiríamos, ficaríamos num mesmo local sem nada fazer, talvez dormindo ou morrendo. ”, assim pode-se dizer que elas influenciam nas decisões e nos hábitos dos indivíduos. É um impulso neural que move um organismo para a ação, é uma experiência subjetiva que envolve a pessoa de maneira integral: mente e corpo e que partindo de um estímulo, irá reagir de acordo com a circunstância e a intensidade da situação que o indivíduo se encontra. Para Cury (2008, p.14) “As emoções tensas, fóbicas, apreensivas, fecham as janelas da memória; as emoções prazerosas desafiadoras, serenas, as abrem”.
No cérebro humano localiza-se uma parte importante responsável por coordenar as emoções, esta é chamada de Sistema Límbico que é composto por quatro estruturas cerebrais. E duas destas estruturas (amigdala e o hipocampo) são responsáveis por grande parte no cérebro pela memória e aprendizado.
O Sistema límbico está relacionado às expressões (respostas – condutas) viscerais e emocionais, bem como às necessidades corporais (impulsos, desejos) primordiais (básicas ou fundamentais do organismo) e, por último, com o humor, prontidão para agir dando soluções rápidas e básicas para o organismo (ALVARENGA, 2007, p.148)
Apesar de muitas pessoas acreditarem que a emoção e sentimento são semelhantes, eles designam papeis diferentes. Segundo o dicionário Aurélio, a emoção é o abalo moral ou afetivo; perturbação geralmente passageira, provocada por algum fato que afeta o nosso espírito (boa ou má notícia, surpresa, perigo), já o sentimento é algo que permanece e é controlável, quando há um sentimento a emoção é selecionada através dos centros cognitivos do cérebro e faz com que o indivíduo pense sobre a sua ação antes de agir, pensar e falar.
As emoções geralmente são acompanhadas por comportamentos físicos, desencadeando as cinco emoções básicas: alegria, tristeza, medo, raiva e afeto. O termo emoção tem sua origem etimológica no latim e significa uma ação em movimento. A emoção nos motiva a agir e através dela o indivíduo consegue perceber o significado dos acontecimentos. A motivação surge como resultado de um estímulo externo ou interno ao indivíduo que quando motivado e persistente conseguirá facilmente atingir os seus objetivos. Para Relvas (2008, p.126) “Se a aprendizagem ocorrer em um ambiente motivador, que desperta o gosto, o interesse, este processo acontecerá de fato, será verdadeiro, pois terá significado”.
3.2 CONCEITO DE APRENDIZAGEM
Aprender é um exercício constante de renovação, pois desde o nascimento o ser humano adquiri novos conhecimentos capazes de mudar o seu comportamento. Ao aprender o cérebro entra em atividade e começa a ocorrer mudanças físicas e químicas e faz com que indivíduo se transforme e se modifique. A linguagem, motivação, atitudes, pensamentos e personalidades são fatores determinados pela aprendizagem. Fonseca (2009, p.154), define a aprendizagem, como;
Um processo funcional dinâmico que integra quatro componentes cognitivos essenciais:
• Input (auditivo, visual, tactílo - quinestésico, etc);
• Cognição (atenção, memória, integração, processamento simultâneo e sequencial, compreensão, planificação, auto-regulação, etc.);
• Ouput (falar, discutir, desenhar, observar, ler, escrever, contar, resolver problemas, etc.);
• Retroalimentação (repetir, organizar, controlar, regular, realizar, etc.).
Quando o indivíduo nasce, o cérebro é dotado por bilhares de neurônios e estes vão tomando funcionalidade no cérebro e os que não tomaram função morrem, por este motivo pode-se dizer que os estímulos visuais, sensoriais, auditivos, emocionais, psicomotores e cognitivos nos três primeiros anos de vida são fundamentais, pois proporciona a criança o pleno funcionamento das conexões e sinapses.
A criança precisa ser estimulada desde o nascimento com músicas, jogos, brincadeiras para que possa ocorrer a formação de sinapses. O cérebro humano não nasce pronto, ao longo da vida ele vai se desenvolvendo, tanto pelos fatores genéticos, quantos pelos ambientais. Segundo Fonseca (2009, p.105) “Os pais, primeiros educadores da criança e os primeiros mediatizadores da sua aprendizagem, têm influência crucial no desenvolvimento global dos seus filhos”.
O aprender se desenvolve a partir da bagagem, das vivências, sentimentos e situações sociais do ser humano. Para Piaget apud Wadsworth, (1997, p. 15) “A mente e o corpo não funcionam independentemente um do outro e que a atividade mental submete-se às mesmas leis que ordinariamente governam a atividade biológica”.
Aprender não é só memorizar informações. É preciso relacioná-las, ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala (SALLA, 2012, p.55).
Aprender é muito mais que só adquirir informação, é também uma mudança no comportamento. Quando o indivíduo aprende adquiri maturidade, se desenvolve e consegue se organizar mentalmente. Como afirma Relvas (2008, p.106) “ao aprendermos, nossas conexões cerebrais se modificam”.
4. A CRIANÇA NO CONTEXTO ATUAL
A mulher durante muitos anos foi vista como uma coadjuvante para a sociedade, programada para cuidar apenas do lar, mas após a Revolução Industrial começou a conquistar um lugar no mercado de trabalho, que antes era visto só para os homens. Devido a este fator houve a necessidade de as crianças começarem a frequentar a escola mais cedo.
Hoje, muitas famílias deixam o seu filho na escola bem cedinho e só vão buscá-los a noite, com isso a responsabilidade da educação infantil em desenvolver a criança de maneira integral aumentou, uma vez que é na infância que começa a formar a personalidade da criança.
Devido aos pais precisarem se ausentar para trabalhar, as crianças estão tornando-se cada vez mais independentes e espertas. Percebe-se que as brincadeiras que antes faziam parte da infância como a roda, casinha, bola de gude, entre outras estão desaparecendo. Hoje, observa-se que as crianças estão deixando de vivenciar as brincadeiras físicas (correr, pular, saltar, etc.) para se divertir com jogos no celular, smartphone, tablet, etc, com isso as crianças estão se tornando mini adultos, onde falam, veste e demonstram comportamentos de um adulto.
Assim, percebe-se que devido a esta “independência” infantil está ocorrendo uma inversão de papéis e autoridade que os pais exerciam sobre os filhos está se perdendo dentro deste novo modelo de sociedade.
Com todos estes fatores a afetividade e o diálogo estão ficando em segundo plano tanto por parte dos pais que procuram suprir sua ausência com presentes, passeios, quanto dos professores que só querem passar o conteúdo. Portanto, observa-se que cada vez mais as crianças estão sem limites. Como diz Cury, (2003, p.47) “Cativem seus filhos pela sua inteligência e afetividade, não pela sua autoridade, dinheiro ou poder”.
Não basta nos preocuparmos apenas com a transmissão das informações necessárias ao bom desempenho deles no mundo material que os cerca. Temos de ensiná-los a se conhecer melhor, a evoluir moral e emocionalmente, para que possam vir a ter boa autoestima e alegria íntima e mostrar-lhes que o fato de eles serem criaturas disciplinadas não é suficiente (GIKOVATE, 2001, p.39)
A Ausência da afetividade gera no indivíduo um sentimento negativo e acaba desencadeando uma série de queixas por parte dos pais e educadores.
5. FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR A APRENDIZAGEM
O ser humano vive numa sociedade heterogênea, onde cada indivíduo tem a sua maneira de enxergar e encarar a vida, uns aprendem com mais facilidade e outros o processo de aprendizagem pode demorar um pouco mais, porém existe um fator fundamental que às vezes é ignorado por parte dos educadores, mas que exerce grande influência na aprendizagem que é a emoção. “O ser humano que não aprende a educar sua emoção poderá ser vítima e ao mesmo tempo causa de situações emocionais conflituosas e desgastantes. Assim pode-se dizer que o ser humano precisa saber proteger, controlar sua emoção. ” (CURY, 2008, p.170).
Para isso é muito importante que o professor conheça a criança e trabalhe a partir da sua individualidade, pois se o educador continuar querendo só passar informação sem se preocupar com o estado emocional da criança, pode haver um bloqueio no processo de aprendizagem.
Conforme Cury (2008), a criança precisa saber encarar os seus medos e aprender a examinar e protestar os seus fantasmas, que circulam a sua mente. A criança deve ser desenvolvida para que no futuro possam ser cidadãos críticos, reflexivos e capazes de enfrentar os desafios que aparecerão a sua frente.
Cada vez mais depara-se em sala de aula com crianças cognitivamente muito inteligentes, porém imaturos na questão emocional. Assim, os professores na sua prática pedagógica precisam avaliar os fatores emocionais que podem estar interferindo no processo de aprendizagem das crianças da educação infantil, entre eles é possível citar: a relação familiar (ausência dos pais e ou superproteção) e a relação escolar (professor/aluno, aluno/aluno e escola/pais).
5.1 RELAÇÃO FAMILIAR
Antigamente a organização familiar era composta por pai, mãe e filho, onde o “chefe” da casa era o pai, era ele que sustentava a sua família. A mãe tinha o papel de cuidar da casa e dos filhos e a eles caberiam apenas à obediência aos pais, porém o contexto social com o passar dos anos foi sofrendo alterações e depois que as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho, foi preciso deixar mais cedo os filhos na escola, dividindo assim a responsabilidade do educar.
Mas, hoje devido a vários motivos como a inserção da mulher no mercado de trabalho, é possível observar algumas mudanças na organização familiar. A sociedade atual é marcada pela diversidade, há casais separados, mães solteiras, pais fazendo o papel de mãe e as mães chefiando a casa, casais homossexuais, etc., porém são fatores que vão afetando emocionalmente as crianças e isto acaba refletindo na escola.
As interações entre pais e filhos (ou entre professores e estudantes) não podem ser baseadas em simples comandos, controles, ameaças ou castigos, elas têm que ser mais centradas em reciprocidade emocional, em compartilhar experiências, em proporcionar segurança e conforto, em estabelecer limites razoáveis de conduta, em dar suporte às tentativas de resolução dos problemas que deparam à criança e ao jovem (FONSECA, 2009, p.109)
5.2 RELAÇÃO ESCOLAR
5.2.1 Professor X Aluno
Quando se fala em motivação e estímulos no processo de aprendizagem, é relevante destacar a importância da relação professor/aluno, pois dentro de uma instituição é o professor o personagem principal, é ele que irá orientar o educando para a sua aprendizagem, tornando-os mais críticos, reflexivos, buscando sempre o sucesso de seus alunos e não o fracasso. Assim, para que a aprendizagem possa acontecer ele deve proporcionar ao aluno um ambiente saudável e estimulador. O professor tem o papel de mediar e tornar o aluno o protagonista da construção do seu próprio conhecimento.
Hoje conhecer o aluno é a tarefa mais importante do educador, ele precisa ir além dos conteúdos, deve avaliar a bagagem que cada criança traz para o seu dia-a-dia na escola. É muito importante que ele tenha um olhar atento para cada aluno, porém sabe-se que esta é uma situação que passa despercebida por muitos educadores. Como diz Cury, (2003, p.97) “Paciência é o seu segredo, a educação do afeto é a sua meta”.
A grande queixa hoje nas escolas por parte dos professores é falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Observa-se que há muitos professores cansados, estressados e muitas vezes acabam adoecendo por questões físicas e mentais, gerando assim sentimentos de impotência e frustração. Segundo Cury, (2003, p.97) “Por trás de cada aluno arredio, de cada jovem agressivo, há uma criança que precisa de afeto. ”
Por esta razão, que a relação professor/aluno deve ser harmoniosa e afetuosa, pois um aluno estimulado, amado, certamente irá responder aos estímulos a eles aplicados e seu processo de aprendizagem ocorrerá com naturalidade.
5.2.2 Escola X Família
A participação da família no contexto escolar é outro fator que pode interferir na aprendizagem do aluno para o lado positivo quanto negativo. A escola e família precisam estar sempre juntas, pois as duas são corresponsáveis por fazer a ponte entre o indivíduo e a sociedade.
Sabe-se que tanto a escola quanto a família buscam o desenvolvimento pleno da criança, assim pode-se dizer que uma instituição complementa a outra. Mas, observa-se que a instituição “família” hoje, vem transferindo a responsabilidade da aprendizagem somente para a escola e esquece que o seu papel também é de grande valia para este processo.
A escola e a família precisam estar sempre em sintonia e falando a mesma “língua”, assim o trabalho será eficaz. Observa-se que quando os pais são interessados pela vida escolar de seu filho e presentes em todos os momentos, o desenvolvimento da criança é influenciado positivamente, pois gera motivação, estímulos e prazer. Como diz Cury (2003, p. 21),
Bons pais dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio ser. Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver em seus filhos: autoestima, proteção da emoção, capacidade de trabalhar perdas e frustrações, de filtrar estímulos estressantes, de dialogar e de ouvir.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo aponta que o ser humano é um ser afetivo e social, diante disso quanto mais afetividade, motivação e estimulação, melhor será o desenvolvimento da criança e consequentemente a aprendizagem ocorrerá de forma espontânea.
A emoção é um fator fundamental para a aprendizagem. O professor precisa parar de querer apenas transmitir informação e transformar o seu aluno, fazendo com que ele saiba lidar com as frustrações e que seja uma pessoa que pense, reflita sobre suas ações.
É comum ouvir hoje grande parte dos professores reclamar de seus alunos, que estão sem limites, desmotivados, sem interesse e sem vontade de aprender. Mas de quem é a culpa? Observa-se que mesmo dentro da educação infantil há muitos professores que reclamam, mas não buscam entender e compreender de onde está partindo esta desmotivação e este desinteresse.
Será que suas aulas estão sendo atrativas para aquela clientela? Será que o professor está valorizando as habilidades e competências de seus alunos? Será que ele buscou conhecer o aluno em sua individualidade?
Diante de todos estes questionamentos, nota-se que a educação precisa de uma nova visão por parte dos educadores. Os educadores necessitam reformular sua maneira de pensar e agir. Ao entrar na sala precisa se doar, fazer com que seus alunos se sintam seguros e motivados. Quando há motivação o professor certamente conseguirá atingir seus objetivos com eficiência.
Estamos a cada dia recebendo nas escolas crianças carentes de pai e mãe, consumistas, inteligentes, porém sem maturidade emocional. Por isso pode-se concluir que é fundamental que os professores conheçam a importância que a emoção tem sobre o indivíduo e como elas podem afetar a aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Galeano. O poder das emoções. 1ed. 2007, disponível em: http://www.galenoalvarenga.com.br/publicacoes-livros-online/o-poder-das-emocoes. Acesso em: Acesso em: 01/05/2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL, Lei Federal nº 9.394 (Institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 20 de Dezembro de 1996. Brasília. 1996.
BRASIL, Lei Federal n° 8.069/1990 (Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente). De 13 de julho de 1990. Brasília. 1990.
CURY, Augusto. Pais brilhantes e professores fascinantes. Rio de Janeiro : Sextante. 2003
________________. O código da inteligência: a formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de Janeiro: Thomas Nelson brasil/Ediouro, 2008.
DICIONÁRIO Aurélio, disponível em: http://www.dicionariodoaurelio.com/Emocao.html. Acesso em: Acesso em: 03/05/2014
FONSECA, Vitor da. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicopsicológica e psicopedagógica. 4.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
GIKOVATE, Flávio. A Arte de educar. Curitiba: Nova Didática, 2001.
BRASIL, REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília: MEC/ SEF, 1998, disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf
RELVAS Marta Pires. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. Rio de Janeiro : Wak, 2008.
SALLA, Fernanda. Neurociência: como ela ajuda a entender a aprendizagem. Revista Nova Escola, p. 49-55, jun. 2012.
SILVIA, Sonia das Graças Oliveira. A relação Família/Escola, disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-relacao-familia%10escola-3012/artigo/ Acesso em: Acesso em: 20/05/2014
WADSWORTH, Barry j. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. São Paulo: Thomson Pioneira, 2003.
Clério Cezar Batista Sena
MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC/SP, Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva (cursando), MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clinico, Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. Professor e pesquisador CENSUPEG/BRASIL, Diretor de Escola Pública Estadual, SP. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
Fabiana Bondioli de Oliveira Ramos
Especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva: E-mail: fabibondioli@hotmail.com
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Educação: falar menos e fazer mais (Artigo)
Educação: falar menos e fazer mais (Artigo)
Em 1932, um grupo de 26 intelectuais, entre eles Anísio Teixeira, Cecília Meireles, Fernando de Azevedo e Roquete Pinto, lançou o Manifesto dos pioneiros da educação, no qual consta: "Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação (...) Todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentado e desarticulado". Passaram-se 84 anos e o documento é contemporâneo. Se naquela época as recomendações dos nossos pioneiros tivessem sido seguidas, certamente estaríamos hoje mais bem preparados para atender à demanda crescente por novas capacitações e atitudes.
A medida provisória que propõe alterações no ensino médio colocou a educação na pauta da sociedade. No Brasil, o sistema de pós-graduação está em um patamar de qualidade aceitável. No entanto, esse não é o caso dos demais níveis de ensino. Avaliações periódicas conduzidas nos últimos anos vêm constatando uma queda na qualidade de educação do ensino fundamental e médio. De modo geral, os egressos do ensino médio entram nos cursos universitários despreparados, pois foram submetidos a um processo educacional ultrapassado, focado no treinamento do aluno para passar nas provas, sem valorizar o desenvolvimento de sua capacidade crítica e criativa.
O reconhecimento da importância do papel da educação na sociedade tem mobilizado os governos de quase todos os países do mundo no sentido de implementar políticas para o seu desenvolvimento. No Brasil, infelizmente, não avançamos na conquista de uma educação de boa qualidade para todos. O primeiro Plano Nacional de Educação foi um fracasso. O segundo plano parece seguir na mesma trilha devido à escassez de recursos para sua implementação. Essa falta de visibilidade de resultados é desalentadora para os muitos que labutam na área de educação.
Encontramo-nos em quadro de imensa desigualdade social, com uma parcela considerável da população marginalizada, sem condições dignas de moradia, sem acesso a serviços de educação e saúde de boa qualidade, sendo muitas vezes exposta aos riscos de ambientes marcados pela falta de ética e violência. Nesse contexto, a educação de boa qualidade surge como a única saída para livrar o indivíduo do círculo vicioso em que se encontra, na medida em que promove a conscientização dos seus direitos e atitudes, além, evidentemente, de desenvolver competências e habilidades que lhe possam ser úteis no campo profissional.
O tema educação não pode ser colocado somente, como ocorre, no cardápio das promessas dos candidatos a cargos no governo. A estagnação ou retrocessos no nosso sistema educacional comprometerá o futuro das próximas gerações e do país. As soluções estão à disposição para o estabelecimento de uma política de estado de longo prazo que poderá redundar em uma verdadeira transformação social.
O primeiro passo será formar e valorizar o que chamo de novo professor. Um estimulador de crianças e jovens com capacidade de avaliar cada estudante para estimular as potencialidades individuais. Ele será, como um gênio da lâmpada, quem permitirá a concretização dos sonhos de cada estudante. Ele será o arquiteto de uma sociedade civilizada, com comportamento solidário e ético e que respeite o planeta. Esse novo professor deve dominar as ferramentas tecnológicas. O seu trabalho deve ser valorizado, e aos poucos, o seu salário deverá estar no topo da tabela salarial do servidor público.
Os clássicos métodos da aprendizagem devem ser substituídos por atividades em que haja o protagonismo do educando. A aula expositiva deve ser gradativamente substituída por trabalhos em grupo que envolvam temas, desafios e resolução de problemas. O ambiente escolar deve ser confortável e lúdico e as avaliações devem ser feitas não para classificar os alunos, mas para indicar a melhoria da aprendizagem. A família deverá ser um parceiro fundamental da escola. Estão à nossa disposição experiências educacionais de sucesso no Brasil e no exterior. Vamos fazer uma boa escolha e fazer um planejamento de escala para que possamos proporcionar uma educação de boa qualidade para todas as nossas crianças e jovens. Essa é a grande prioridade para o Brasil. É preciso fazer, para acontecer.
*ISAAC ROITMAN é Professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília e membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos
Veículo: CORREIO BRAZILIENSE - DF
Editoria: OPINIÃO
Autor(a): ISAAC ROITMAN
Tipo: Artigo
Veiculação: 04/11/2016
Página: A11
Assunto: UNB, PROFESSORES
Em 1932, um grupo de 26 intelectuais, entre eles Anísio Teixeira, Cecília Meireles, Fernando de Azevedo e Roquete Pinto, lançou o Manifesto dos pioneiros da educação, no qual consta: "Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação (...) Todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentado e desarticulado". Passaram-se 84 anos e o documento é contemporâneo. Se naquela época as recomendações dos nossos pioneiros tivessem sido seguidas, certamente estaríamos hoje mais bem preparados para atender à demanda crescente por novas capacitações e atitudes.
A medida provisória que propõe alterações no ensino médio colocou a educação na pauta da sociedade. No Brasil, o sistema de pós-graduação está em um patamar de qualidade aceitável. No entanto, esse não é o caso dos demais níveis de ensino. Avaliações periódicas conduzidas nos últimos anos vêm constatando uma queda na qualidade de educação do ensino fundamental e médio. De modo geral, os egressos do ensino médio entram nos cursos universitários despreparados, pois foram submetidos a um processo educacional ultrapassado, focado no treinamento do aluno para passar nas provas, sem valorizar o desenvolvimento de sua capacidade crítica e criativa.
O reconhecimento da importância do papel da educação na sociedade tem mobilizado os governos de quase todos os países do mundo no sentido de implementar políticas para o seu desenvolvimento. No Brasil, infelizmente, não avançamos na conquista de uma educação de boa qualidade para todos. O primeiro Plano Nacional de Educação foi um fracasso. O segundo plano parece seguir na mesma trilha devido à escassez de recursos para sua implementação. Essa falta de visibilidade de resultados é desalentadora para os muitos que labutam na área de educação.
Encontramo-nos em quadro de imensa desigualdade social, com uma parcela considerável da população marginalizada, sem condições dignas de moradia, sem acesso a serviços de educação e saúde de boa qualidade, sendo muitas vezes exposta aos riscos de ambientes marcados pela falta de ética e violência. Nesse contexto, a educação de boa qualidade surge como a única saída para livrar o indivíduo do círculo vicioso em que se encontra, na medida em que promove a conscientização dos seus direitos e atitudes, além, evidentemente, de desenvolver competências e habilidades que lhe possam ser úteis no campo profissional.
O tema educação não pode ser colocado somente, como ocorre, no cardápio das promessas dos candidatos a cargos no governo. A estagnação ou retrocessos no nosso sistema educacional comprometerá o futuro das próximas gerações e do país. As soluções estão à disposição para o estabelecimento de uma política de estado de longo prazo que poderá redundar em uma verdadeira transformação social.
O primeiro passo será formar e valorizar o que chamo de novo professor. Um estimulador de crianças e jovens com capacidade de avaliar cada estudante para estimular as potencialidades individuais. Ele será, como um gênio da lâmpada, quem permitirá a concretização dos sonhos de cada estudante. Ele será o arquiteto de uma sociedade civilizada, com comportamento solidário e ético e que respeite o planeta. Esse novo professor deve dominar as ferramentas tecnológicas. O seu trabalho deve ser valorizado, e aos poucos, o seu salário deverá estar no topo da tabela salarial do servidor público.
Os clássicos métodos da aprendizagem devem ser substituídos por atividades em que haja o protagonismo do educando. A aula expositiva deve ser gradativamente substituída por trabalhos em grupo que envolvam temas, desafios e resolução de problemas. O ambiente escolar deve ser confortável e lúdico e as avaliações devem ser feitas não para classificar os alunos, mas para indicar a melhoria da aprendizagem. A família deverá ser um parceiro fundamental da escola. Estão à nossa disposição experiências educacionais de sucesso no Brasil e no exterior. Vamos fazer uma boa escolha e fazer um planejamento de escala para que possamos proporcionar uma educação de boa qualidade para todas as nossas crianças e jovens. Essa é a grande prioridade para o Brasil. É preciso fazer, para acontecer.
*ISAAC ROITMAN é Professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília e membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos
Veículo: CORREIO BRAZILIENSE - DF
Editoria: OPINIÃO
Autor(a): ISAAC ROITMAN
Tipo: Artigo
Veiculação: 04/11/2016
Página: A11
Assunto: UNB, PROFESSORES
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