Cezar Sena[1]
A política, em
sua essência, é a arte de promover o bem comum e a fraternidade. No
entanto, ao longo dos anos, essa nobre arte tem sido desvirtuada por alguns que
a transformaram em um jogo de interesses pessoais, onde o "toma lá, dá
cá" prevalece. Essa distorção gera uma descrença generalizada na
população, que muitas vezes se sente impotente e desiludida com o processo
eleitoral. Este artigo busca aprofundar a discussão sobre a participação
política, fundamentando os argumentos com base nas obras "Reflexões sobre
a vida pública" de Antonio Maria Baggio, "Para onde vai o mundo"
de Edgar Morin e "Uma Terra Prometida" de Barack Obama.
No Brasil, o voto é obrigatório, o que
implica que todos nós, de uma forma ou de outra, estamos envolvidos no processo
eleitoral. A ideia de que não se envolver na política nos exime de
responsabilidade é uma ilusão. Não existe neutralidade na política; ou
você decide, ou decidem por você. Assim, é fundamental que superemos a
mentalidade de escolher o "menos ruim" e a crença de que a política
se faz apenas com dinheiro e de que cidadãos de bem não entram na política.
De fato, não podemos subestimar o poder do
dinheiro nos processos eleitorais. Campanhas políticas exigem recursos, e
muitas vezes, aqueles que possuem mais recursos financeiros têm uma vantagem
significativa. No entanto, a verdadeira política se faz com a participação
efetiva dos cidadãos. Isso significa não apenas votar, mas também acompanhar os
mandatos dos eleitos, fiscalizar suas ações e cobrar transparência e
responsabilidade.
Para Baggio (2008), a política deve ser
entendida como uma vocação para o serviço público, onde o objetivo
principal é o bem comum. Baggio destaca que a política não deve ser vista
como um meio para alcançar vantagens pessoais, mas sim como uma
responsabilidade coletiva que visa a construção de uma sociedade mais justa e
fraterna. Essa visão é corroborada por Edgar Morin, que em "Para onde vai
o mundo" (MORIN, 2011), enfatiza a necessidade de uma política que
promova a solidariedade e a cooperação entre os cidadãos, em oposição ao
individualismo e à competição desenfreada.
Sabemos que a descrença na política é um
fenômeno global, como observado por Barack Obama em "Uma Terra
Prometida" (OBAMA, 2020). Obama relata sua experiência como presidente dos
Estados Unidos, destacando os desafios enfrentados para manter a confiança do público
nas instituições democráticas. Ele argumenta que a participação ativa dos
cidadãos é crucial para a manutenção de uma democracia saudável. Essa
participação não se limita ao ato de votar, mas inclui o acompanhamento dos
mandatos dos eleitos e a cobrança por transparência e responsabilidade.
Como sabemos, a participação política não
se limita ao ato de votar. Ela envolve um engajamento contínuo, uma vigilância
constante e uma disposição para lutar pelo que é justo e correto. Precisamos de
cidadãos que estejam dispostos a se envolver, a questionar, a exigir mudanças e
a trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa e fraterna.
A política, quando praticada
com integridade e compromisso com o bem comum, pode ser uma força poderosa para
a transformação social. É através da participação ativa e
consciente dos cidadãos que podemos resgatar a verdadeira essência da política
e construir um futuro melhor para todos. A ideia de que é possível ser neutro
na política é uma ilusão perigosa. Como Baggio (2008) aponta, a omissão é, em
si, uma forma de decisão, pois permite que outros escolham por nós. Morin
(2011) reforça essa ideia ao afirmar que a neutralidade na política é uma
forma de conivência com o status quo. A participação ativa é essencial para
a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
É consenso que a política tem um poder
transformador, como evidenciado pela experiência de Obama (2020). Para ele, a
política pode ser um instrumento para promover mudanças significativas na
sociedade, desde que seja conduzida com integridade e compromisso com o bem
comum. Baggio (2008) e Morin (2011) também destacam a importância de uma
política pautada na ética e na responsabilidade social.
Lembro-me de uma reunião de liderança em
que uma senhora me procurou e me abraçou, agradecendo por eu ter devolvido a
ela a esperança na política séria e propositiva, pautada no bem comum e na
fraternidade. Aquele momento serviu como um poderoso lembrete da minha
responsabilidade e do potencial transformador da política, reforçando minha
crença de que é possível agir de maneira diferente e efetivamente fazer a
diferença.
Portanto, não se deixe levar pela apatia
ou pelo cinismo. Acredite no poder da sua voz e do seu voto. Participe,
fiscalize, cobre e, acima de tudo, mantenha viva a esperança de que é
possível fazer diferente e fazer a diferença. A política é uma arte, e cabe
a nós, cidadãos, praticá-la com maestria e dedicação.
Referências
BAGGIO,
Antonio Maria (Org.). Reflexões sobre a vida pública. Vargem Grande
Paulista: Cidade Nova, 2006.
MORIN,
Edgar. Para onde vai o mundo? Petrópolis: Vozes, 2010.
OBAMA,
Barack. Uma Terra Prometida. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em
Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo;
Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de
Escola Pública; Professor universitário;
Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro.
Instagram: @cezar.sena
/ site: www.cezarsena.com.br / Youtube:
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