Cezar Sena[1]
RESUMO
Este artigo aborda o uso de celulares nas
escolas, destacando os desafios e oportunidades que essa tecnologia apresenta
no contexto educacional. A partir da perspectiva de um diretor de escola
pública estadual em São Paulo, são discutidas as dificuldades de gestão do uso
excessivo de celulares em sala de aula, bem como as controvérsias geradas pelas
plataformas digitais implementadas na rede estadual de ensino. O artigo
fundamenta-se em autores de referência, tanto nacionais quanto internacionais,
e propõe reflexões e soluções para a integração eficaz dessas tecnologias no
ambiente escolar.
Palavras-chave: celulares;
ensino digital; ensino remoto; aprendizagem;
1. INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico trouxe inúmeras
transformações para a educação, e o uso de celulares nas escolas é um dos
fenômenos mais debatidos atualmente. O que seria uma ferramenta a ser usada no
contexto da pandemia, acabou roubando a cena. Como diretor de uma escola
pública estadual em São Paulo, tenho observado de perto os desafios e
oportunidades que essa tecnologia traz para o ambiente educacional. Este artigo
visa explorar as dificuldades enfrentadas na gestão do uso excessivo de celulares
em sala de aula, bem como as controvérsias geradas pelas plataformas digitais
implementadas na rede estadual de ensino.
2. DESAFIOS
NA GESTÃO DO USO DE CELULARES
2.1 DISTRATORES
DE APRENDIZAGEM
O celular, quando não utilizado de forma
adequada, pode se tornar um grande distrator. Estudos mostram que a presença de
celulares em sala de aula está associada a uma diminuição na atenção e no
desempenho. Kenski (2012) destaca que a falta de políticas claras pode agravar
essa situação, levando a um uso descontrolado dos dispositivos. "A atenção
é um recurso limitado, e distrações constantes podem prejudicar
significativamente o aprendizado" (WILLINGHAM, 2010, p. 45).
Tenho observado que de modo geral perdemos
o controle do uso de celulares no contexto escolar, principalmente na rede
estadual de São Paulo, devido a implantação das plataformas digitais, apesar de
muitos equipamentos nas escolas muitos alunos e professores ainda utilizam os
celulares como ferramenta principal de estudos e monitoramento das atividades.
A questão central é que os alunos
frequentemente enfrentam dificuldades em gerenciar o uso dos celulares
exclusivamente para fins pedagógicos, enquanto os professores encontram
obstáculos em controlar essa utilização, o que resulta em conflitos e desentendimentos
no ambiente escolar.
2.2 CONFLITOS E DESENTENDIMENTOS
A tentativa de proibir ou restringir o uso
de celulares frequentemente gera conflitos entre professores e alunos. Os
educadores se veem em uma posição difícil, tentando equilibrar a disciplina com
a necessidade de engajar os alunos. Moran (2015) sugere que a mediação desses
conflitos pode ser facilitada por meio de um diálogo aberto e inclusivo entre
todos os envolvidos. Corey (2014, p. 102) enfatiza que "criar um ambiente
de aprendizado que seja ao mesmo tempo estruturado e flexível é essencial para
permitir que os alunos explorem novas tecnologias de forma responsável".
2.2.1 Estudo de caso da Prefeitura
do Rio de Janeiro
A decisão da Prefeitura do Rio de Janeiro
de proibir o uso de celulares no ambiente escolar suscita um debate
significativo sobre os impactos dessa medida na educação. Para o que defendem a
medida, argumentam que a proibição pode aumentar a concentração dos alunos
durante as aulas, reduzindo distrações e promovendo um ambiente mais focado no
aprendizado. Segundo Oliveira e Santos (2018), a restrição do uso de
dispositivos móveis em sala de aula pode melhorar o desempenho acadêmico,
especialmente entre alunos que apresentam dificuldades de concentração. Já para
Almeida (2017), a ausência de celulares pode diminuir casos de cyberbullying e
promover interações sociais mais saudáveis entre os estudantes.
Por outro lado, existem “contras”
relevantes associados a essa proibição. Os celulares, quando utilizados de
maneira adequada, podem ser ferramentas educacionais valiosas, oferecendo
acesso a recursos digitais, aplicativos educacionais e informações em tempo
real que podem enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. A proibição total
pode limitar o desenvolvimento de habilidades digitais essenciais para o século
XXI, conforme argumentado por Pereira (2016), que destaca a importância da
integração da tecnologia na educação para preparar os alunos para o futuro mercado
de trabalho.
Entendo que a medida da Prefeitura do Rio
de Janeiro de proibir o uso de celulares nas escolas apresenta um dilema entre
a necessidade de criar um ambiente de aprendizagem mais focado e a importância
de integrar a tecnologia no ensino. A decisão deve ser cuidadosamente avaliada,
considerando as especificidades de cada escola e a possibilidade de implementar
políticas que equilibrem o uso responsável da tecnologia com a manutenção da
disciplina e do foco acadêmico.
A literatura sugere que, ao invés de uma
proibição total, estratégias de uso controlado e educacional dos celulares
podem oferecer um caminho mais equilibrado e benéfico para o desenvolvimento
dos alunos (COSTA, 2015).
2.3 EXCESSO DE TELA
O aumento do tempo de tela, exacerbado
pelas plataformas digitais, tem levantado preocupações sobre o impacto na saúde
mental e física dos alunos. É consenso pelos pesquisadores que o excesso de
tempo de tela está correlacionado com níveis mais altos de ansiedade e
depressão entre os jovens. Almeida (2013) aponta que o uso excessivo de
tecnologias pode afetar o desenvolvimento cognitivo e social dos estudantes. Para
que a aprendizagem seja consolidada, é necessário foco e atenção, "a
atenção dispersa pode impactar negativamente o desenvolvimento emocional e
cognitivo dos alunos" (GOLEMAN, 2013, p. 78).
O uso excessivo de telas por estudantes
tem se tornado uma preocupação crescente no contexto educacional, pois pode
dificultar a consolidação das aprendizagens. Estudos indicam que a exposição
prolongada a dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e
computadores, pode levar a uma sobrecarga cognitiva, prejudicando a capacidade
de concentração e retenção de informações (SILVA, 2020).
Sabemos que o tempo excessivo em frente às
telas pode interferir nos ciclos de sono, essenciais para a memorização e
processamento das informações adquiridas durante o dia.
A falta de equilíbrio entre o tempo de
tela e outras atividades, como leitura de livros físicos e interações sociais
presenciais, pode resultar em um aprendizado superficial e fragmentado,
comprometendo o desenvolvimento de habilidades críticas e analíticas nos
estudantes (PEREIRA, 2018).
Portanto, é crucial que educadores e pais
estejam atentos a essa questão, promovendo práticas que incentivem o uso
consciente e equilibrado da tecnologia no ambiente escolar e doméstico.
3. OPORTUNIDADES
E SOLUÇÕES
3.1 FERRAMENTA
DE APRENDIZAGEM
Quando integrados de forma eficaz, os
celulares podem ser poderosas ferramentas de aprendizagem. Aplicativos
educacionais e plataformas de e-learning podem enriquecer o currículo e
oferecer experiências de aprendizagem personalizadas. Kenski (2012) reforça que
a formação de professores é essencial para que eles possam mediar o uso dessas
tecnologias de forma eficaz. Harari (2018, p.150) destaca que "preparar os
alunos para um futuro incerto, onde a adaptabilidade e o pensamento crítico
serão habilidades essenciais, é fundamental". Assim, é imprescindível que
educadores se prepararem para essa demanda real e urgente.
O uso de celulares pode ajudar os alunos a
desenvolver competências digitais essenciais para o século XXI, como a
alfabetização digital e a capacidade de pesquisar e avaliar informações online.
Moran (2015) destaca que essas competências são fundamentais para preparar os
alunos para o mercado de trabalho e a vida em sociedade.
3.2 ENGAJAMENTO E MOTIVAÇÃO
Sabemos que tecnologias móveis podem
aumentar o engajamento dos alunos, tornando o aprendizado mais interativo e
relevante para suas vidas. Almeida (2013) observa que, quando bem utilizadas,
essas tecnologias podem transformar a dinâmica da sala de aula, tornando-a mais
participativa e colaborativa.
O uso de celulares para fins pedagógicos,
quando realizado com moderação, pode promover um engajamento positivo entre os
estudantes, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com
Santos (2021) a tecnologia móvel oferece acesso a uma vasta gama de recursos
educacionais, desde aplicativos interativos até plataformas de aprendizado
online, que podem complementar o conteúdo abordado em sala de aula.
Quando integrados de forma estratégica ao
currículo, os celulares podem estimular a autonomia dos alunos, permitindo que
explorem temas de interesse e desenvolvam habilidades de pesquisa e resolução
de problemas (COSTA, 2020).
Na obra "Reflexões sobre educação no
contexto da Pandemia", Cezar Sena (2022) destaca o papel transformador que
os celulares desempenharam como ferramentas de aprendizagem durante os períodos
de ensino remoto. Sena (2022) argumenta que, em meio às restrições impostas
pela pandemia, os dispositivos móveis emergiram como aliados indispensáveis
para a continuidade educacional, permitindo que estudantes e professores
mantivessem o contato e o fluxo de informações de maneira eficaz.
O autor ressalta que os celulares, com
suas funcionalidades multifacetadas, facilitaram o acesso a plataformas de
ensino online, recursos multimídia e aplicativos educacionais, promovendo um
ambiente de aprendizado mais dinâmico e interativo. Além disso, Sena (2022) enfatiza
que o uso dos celulares incentivou o desenvolvimento de habilidades digitais
nos alunos, preparando-os para um mundo cada vez mais tecnológico e
interconectado. No entanto, ele também alerta para a necessidade de um uso
equilibrado e consciente desses dispositivos, a fim de evitar distrações e
garantir que seu potencial pedagógico seja plenamente aproveitado.
4. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Para enfrentar os desafios e aproveitar as
oportunidades, é crucial que as escolas desenvolvam políticas claras e
equilibradas sobre o uso de celulares. A formação contínua de professores e o
envolvimento dos alunos na criação dessas políticas podem ajudar a mitigar
conflitos e promover um ambiente de aprendizagem mais produtivo. A integração
consciente e crítica das tecnologias móveis pode transformar o ambiente
educacional, preparando os alunos para os desafios do século XXI.
Além disso, o uso moderado de dispositivos
móveis pode facilitar a personalização do aprendizado, atendendo às
necessidades individuais dos estudantes e promovendo um ambiente mais inclusivo
e adaptativo. No entanto, para que esse potencial seja plenamente realizado, é
fundamental que educadores estabeleçam diretrizes claras e promovam práticas de
uso responsável, garantindo que a tecnologia seja uma aliada no desenvolvimento
cognitivo e social dos alunos.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Tecnologias Digitais na Educação: O
Futuro Já Começou. Editora Cortez. 2013.
ALMEIDA, M. E. B. Cyberbullying e suas implicações no
ambiente escolar. Revista Brasileira de Educação, v. 22, n. 68, p.
123-140, 2017.
COREY, B. Como Aprendemos. Editora Campus. 2014.
COSTA, L. F. Tecnologia móvel na educação: desafios e
possibilidades. Educação e Pesquisa, v. 41, n. 3, p. 713-728, 2015.
COSTA, M. E. B. Tecnologia móvel na educação:
potencialidades e desafios. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos,
v. 101, n. 259, p. 564-586, 2020.
GOLEMAN, D. Foco. Editora Objetiva. 2013.
HARARI, Y. N. 21 Lições para o Século 21. Companhia
das Letras. 2018.
KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: O Novo Ritmo da
Informação. Editora Papirus. 2012.
MORAN, J. M. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica.
Papirus Editora. 2015.
OLIVEIRA, J. A.; SANTOS, R. M. Impacto da proibição de
celulares no desempenho escolar. Cadernos de Educação, v. 21, n. 2, p.
45-60, 2018.
PEREIRA, L. C. A integração da tecnologia na educação
básica: um estudo de caso. Educação em Revista, v. 32, n. 1, p. 89-105,
2016.
SANTOS, L. F. Integração de recursos digitais móveis no
ensino: perspectivas e práticas. Tecnologia Educacional, v. 49, n. 230,
p. 45-62, 2021.
SENA, Cezar. Reflexões sobre educação no contexto da
Pandemia. São Paulo: Editora Cidade Nova, 2022
SILVA, T. R. O uso pedagógico dos dispositivos móveis em
sala de aula. Revista de Tecnologia Educacional, v. 25, n. 4, p.
201-218, 2020.
WILLINGHAM, D. T. Por que os Alunos Não Gostam da Escola?
Editora Penso. 2010.
[1] MESTRE em Educação – PUC/SP; Especialista em
Gestão da Escola – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF; Neuropsicopedagogo;
Psicopedagogo e Pedagogo. Diretor de
Escola Pública;
Professor universitário; Escritor; Palestrante, Coach e blogueiro.
Instagram: @cezar.sena / site: www.cezarsena.com.br / Youtube: PODSENA
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