terça-feira, 14 de julho de 2020

EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIAS X EMOÇÃO



Cezar Sena

MESTRE EM EDUCAÇÃO - PUC/SP; COACH - SLAC; MBA Gestão Empreendedora - UFF Especialista em Gestão da Escola - USP; Pedagogo, Psicopedagogo e Neuropsicopedagogo. Professor Faculdade CENSUPEG e Diretor da EE Valêncio Soares Rodrigues. Instagram: @cezar.sena Youtube: Cezar Sena

Nesse tempo de pandemia, os alunos e professores estão com as emoções à flor da pele, e muito se deve ao excesso de exposição nas mídias sociais e às atividades escolares remotas, não estão conseguindo administrar as emoções. “A emoção é uma forma concreta de participação mútua do indivíduo no mundo, ela tem o caráter fisiológico e contagioso, colabora para estabelecer relacionamentos e possibilita interações sociais" (SENA, 2013:101).

Acredito que a ação mais importante no atual cenário de pandemia, seja cuidar das nossas emoções, da saúde mental. Sabe-se que cuidando das emoções, nos preparamos melhor para lidar rapidamente com os eventos da vida. “As emoções também enviam sinais, mudanças nas expressões, na face, na voz, na postura corporal. Não escolhemos essa mudança, elas simplesmente acontecem" (EKMAN, 2011:37).

Em uma pesquisa que realizei por meio do Google form com os alunos líderes de turma da EE Valêncio Soares Rodrigues*. Eles relataram que estão ainda mais ansiosos e angustiados, com muitas dificuldades de gerenciar os estudos, as emoções e as demandas com as tarefas domésticas. Na pergunta ‘Como estão se sentindo neste período de isolamento social?’ alguns apontaram que:

• Em curtas palavras prefiro dizer que aguardo ansiosamente as aulas presenciais e o fim do afastamento social;
• Muito triste, entediada, angustiada;
• Insegurança em não atingir os alunos que mais precisam. Aqueles com vulnerabilidade social.
• Triste e confusa, desanimada, ansiosa;
• Sei lá e diferente eu me sinto diferente. Muito mal.
• Se sentindo sozinho, saudades dos meus sem amigos.

Relatam também que estão se sentindo incapazes por não conseguirem acompanhar as atividades pelo aplicativo, que se perdem nas mensagens, bem como em conversas paralelas durante as aulas. Como podemos observar neste depoimento: “Triste porque o isolamento social está atrapalhando muito meu aprendizado por que na escola sempre tem um professor pra explicar, mas no aplicativo eu não consigo perguntar as minhas dúvidas”.

De acordo com Sena (2013:81) “a escola tem um papel primordial na formação, é um lugar onde convivem diferentes grupos e a criança exercita suas potencialidades, mas também são revelados seus fracassos”. Como podemos comprovar nos depoimentos acima, esse período de isolamento, por falta da escola, os alunos estão com muitas dificuldades de aprender os conteúdos. Sentem-se falta da presença física do professor como o principal mediador da aprendizagem, resultando em muitos o sentimento de frustração e incompetência como bem apontou esse aluno “me sinto pouco frustrado, algumas matérias são difíceis de entender sem um professor por perto (matemática por exemplo)”.

A falta de convivência entre os pares, estão deixando-os abalados, com medo, reforçando ainda mais a ideia do seu possível fracasso, atenuando as dificuldades de aprendizagem. Conviver é um dos grandes desafios da sala de aula, e a presença do professor é determinante no gerenciamento deste espaço de convivência. “É na interação entre os pares que a aprendizagem acontece de maneira significativa e autônoma, por isso é importante o professor conhecer o contexto social do seu aluno, para promover uma aprendizagem mais significativa" (SENA:118).

Este período de isolamento reforçou ainda mais a importância da ação do professor como mediador da aprendizagem, por mais que a tecnologia se colocou como uma ferramenta indispensável neste contexto atual, ela jamais substituirá a ação do professor. No entanto, o professor precisa desenvolver um novo hábito, incorporando no seu fazer pedagógico novas estratégias alinhadas as mídias sociais e o uso das tecnologias. “Quando você começa a formar o novo e melhor hábito, está essencialmente criando novos circuitos que compitam com seu velho hábito numa espécie de darwinismo neural” (GOLEMAN, 2012:100).

A portabilidade da educação presencial para a educação mediada por tecnologias necessita de uma mudança de postura de todos os envolvidos, isso não é e nem será um consenso. Ainda assim, é uma necessidade urgente, provocada pela pandemia do COVID19, que apenas acelerou o processo. Há muitos aspectos positivos com o uso da tecnologia na educação, como aponta o Salman Khan, o fundador da Khan Academy, “a portabilidade radical da educação baseada na internet torna possível que cada um estude de acordo com o seu próprio ritmo, e portanto, com a máxima eficiência” (KHAN, 2013:61).

Assim, para melhorar a eficiência nos estudos neste momento de transição, sugiro duas estratégias para evitar a perda do foco nos estudos:
1. Deixe o aparelho celular no modo silencioso; estabeleça um horário para o estudo e outro para coisas aleatórias, como por exemplo, a checagem de mensagens. Neste caso, prefira checá-las após a realização da tarefa programada, como se fosse um prêmio.
2. Outra dica é o uso de agenda com checklist das tarefas, com conferência ao final do dia. Seu cérebro agradece, pois adora recompensas. É gratificante a sensação de ter realizado as metas. Isso o torna mais produtivo e o estimula a querer produzir mais.

Lembrem-se de que não somos indivíduos que realizam várias tarefas ao mesmo tempo, como erroneamente alguns acreditam. A neurociência aponta que o cérebro não consegue processar dois estímulos ao mesmo tempo e nem armazenar todos os conteúdos das aulas como no arquivo digital. “O cérebro não armazena fatos e ideias e experiencias como um computador, como um arquivo que se abre por um clique, exibindo sempre a imagem idêntica. Ele os incorpora em redes de percepções, fatos e pensamentos, combinações ligeiramente diferentes que pipocam a cada vez” (COREY, 2015:18).

Portanto, procurem conhecer como seu cérebro funciona, realizando uma tarefa de cada vez, logo irá perceber que enquanto a produtividade aumenta, a ansiedade diminui e a estabilidade emocional se estabelece.

*Escola Estadual de Ensino Integral, situada em Vargem Grande Paulista, SP. Pesquisa realizada com os alunos Líderes de turmas pelo GOOGLE FORM em 09 de junho de 2020 (atividade para o Conselho de Classe 1º Bim.) Alunos do Ensino Fundamental e Médio com idade entre 11 a 17 anos).

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EKMAN, Paul. A linguagem das emoções: Revolucione sua comunicação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao seu redor. São Paulo: Lua de Papel, 2011.
GOLEMAN, Daniel. O cérebro e a inteligência emocional: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
KHAN, Salman. Um mundo, uma escola. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013.
SENA, Cezar. A relação afetiva professor e aluno, revelada por seus diários. Curitiba: Appris, 2013.

5 comentários:

  1. Comecei a ler o artigo agora e só consegui parar quando chegou ao final! Muito interessante o conteúdo e a abordagem realizada; escrito de forma clara e motivadora.
    Parabéns Mestre Sena!!

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  2. Muito obrigado pelo feedback positivo Solange. Fico feliz por ter gostado. È muito importante esse incentivos para os escritores...

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